Acústico MTV Titãs

Capa do CD acústico dos Titãs

Os acústicos da MTV são, em sua maioria, subterfúgios para artistas decadentes ou em crise criativa. Eric Clapton, Rod Stewart e mesmo Tony Bennnet que o digam. O caso dos Titãs não é diferente. Desde a saída de Arnaldo Antunes a banda vinha tentando, sem muito êxito, voltar ao sucesso de outrora. A infelicidade de suas últimas incursões abalaram a popularidade do grupo, o que refletiu nas vendagens medíocres de seus últimos Cds. Pois bem, a despeito de seu sucesso comercial, o acústico Titãs é um disco morno que soa tão falso quanto uma nota de 13 reais. O Cd só serve para mostrar a fragilidade das composições da banda, que sem o verniz elétrico perdem muito de seu peso e força. Se a idéia do grupo era ganhar uns trocados com a descaracterização das poucas músicas boas de seu vasto repertório, eles conseguiram seu intento.

Na teoria os Titãs fizeram tudo certo, mas nem a boa produção, a cargo do Liminha, ou mesmo uma escolha de repertório centrada em seus cinco primeiros Lps, fizeram este Cd interessante. O repertório e arranjos lembra inclusive o primeiro ao vivo da banda Go Back, que num primor de originalidade e oportunismo, foi gravado, na época, no festival de jazz em Montreaux. Neste disco o grupo recriou com sucesso músicas de seus dois primeiros Lps muito mais pops que os álbuns seguintes. Não por acaso são músicas destes discos que têm uma melhor transição do formato elétrico para o acústico. Um bom exemplo disso é Pra Dizer Adeus de Paulo Miklos, que, diga-se de passagem, parece ser o único Titãs realmente interessado no projeto, levando o Cd quase todo sozinho. Enquanto o resto da banda reproduz arranjos de maneira preguiçosa e apática, são as composições de Mikos que melhor se adaptam ao estilo acústico.

Mas voltando aos acústicos da MTV, tais especiais possuem até mesmo uma fórmula predefinida. Para disfarçar o fato de serem músicos medíocres, uma banda como os Titãs acrescenta cordas e metais ao seu som. Algumas músicas inéditas ou versões para compensar o repertório recauchutado, além disso incluem uma série de participações especiais para servirem de chamariz.

No acústico Titãs essas participações nada acrescentam e, tirando Arnaldo Antunes em O Pulso, Fito Paez, Jimmy Cliff, e Marisa Monte poderiam ter ficado em casa. Marisa Monte, por exemplo, poderia receber o troféu Perdida no Espaço por seu dueto com Branco Mello em "Flores". Já as participações em estúdio de Marina Lima e Rita Lee são completamente dispensáveis.

Quanto as três músicas novas: Nem 5 minutos Guardados, A Melhor Forma e Não Vou Lutar, elas estão com certeza destinadas ao esquecimento. Já Os Cegos do Castelo, ao contrário do que possam pensar certos jornalistas de fim-de-semana, é do primeiro álbum solo do Nando Reis, que apesar do seu relativo ineditismo, não deveria sequer ter sido gravada.

Nota-se que a deficiência de bons técnicos de som brasileiros podem minar os projetos acústicos futuros. Aparentemente ninguém envolvido na produção do disco parece saber gravar o som de um violão de cordas de aço, para falar verdade nem de guitarra tão pouco. No Cd os violões de Marcelo Framer, Tony Belloto e Liminha têm um timbre de lata, que torna o som sujo e confuso.

Por fim, pode-se até se especular qual vai ser a próxima incursão musical em que os Titãs irão se desventurar. Afinal, uma banda oportunista e sem estilo próprio como os Titãs, que já gravou até um disco grunge, poderia muito bem, seguindo as novas tendências musicais, arriscar-se em seu próximo Cd na dance music. É possível até imaginar a participação especial do Lulu Santos e a produção do Dj Memê. Ou então, se nada disso der certo, quem sabe a banda não grava um disco de ska?

Saulo Gomes