MTV RPM 2002
Primeiro foi os Titãs, depois veio Capital Inicial, que ainda trouxe na bagagem o Kiko Zambianchi, e na sequência foi a vez do Ira!. Até mesmo o Plebe Rude deu o ar de sua desgraça. Agora, enfim, é a vez do RPM. Quando essa insanidade vai parar? Quando trouxerem o Sarney de volta?
Verdade seja dita o RPM é uma das poucas bandas nacionais cuja história daria para fazer um programa do tipo 'Behind the Music' ( Por trás da Fama); onde um artista qualquer, visivelmente constrangido, conta como depois de alcançar a fama foi capaz de jogar tudo fora por pura incompetência e estupidez. Pois o RPM foi a única banda dos anos 80 que conheceu o sucesso em sua totalidade: incluindo os pináculos da glória, a decadência e o fundo do poço. Onde acabou fazendo moradia permanente.
O RPM lançou apenas três álbuns, sendo um deles ao vivo com apenas duas faixas inéditas. O primeiro Revoluções por Minuto era um disquinho tosco e mal gravado com um som de plástico tipicamente anos 80, que caiu no agrado do público por ser completamente inofensivo. Depois veio o famigerado Rádio Pirata Ao Vivo que vendeu 2 milhões de cópias e reproduzia basicamente faixa por faixa o primeiro álbum. Daí veio o estrelato, o dinheiro, as drogas, até mesmo um selo próprio, Revoluções Discos, que serviu para lançar um único e fracassado álbum da obscura banda carioca Cabine C.
Enfim, já queimando óleo a banda lançou um último disco em 1988: Quatro Coiotes, que ninguém ouviu nem se importou em ouvir, exceto talvez o crítico Arthur DaPieve. Os poucos que perderam seu tempo testemunharam um álbum superproduzido, pífio e sem inspiração, que se você sacudisse um pouco é bem possível que caísse cocaína dos sulcos do vinil. Pouco tempo depois a banda encerraria melancolicamente suas atividades pela primeira vez.
A partir daí as coisas só foram ficando piores: o grande público ignorou todas as inúmeras tentativas da banda de voltar a ativa, sem falar os projetos solos de seus integrantes. Paulo Ricardo só conseguiu encontrar algum auxílio se candidatando ao cargo de cover do Wando.
O mais interessante na história do RPM é que tão logo eles saíram da mídia as rádios simplesmente pararam de tocar as músicas da banda. Nem mesmo aqueles conjuntos que animam baile de debutante, nem mesmo o violeiro de acampamento ousava tocar as músicas do RPM. Era como se a banda nunca tivesse existido. O RPM fora simplesmente limado da face da terra. E sinceramente nunca fez falta alguma. Foi um fenômeno parecido com o do álbum Thriller do Michael Jackson, que supostamente vendeu 40 milhões de cópias, mas que hoje em dia você não vai encontrar ninguém que admita tê-lo comprado.
No fundo o RPM é um Mamonas Assassinas que perdeu a vez na fila do desastre de avião. Quem ainda se importa com esses caras? Só mesmos esses losers saudosistas da MTV, cujo objetivo maior na vida é tentar reviver todo o catálogo de artistas decadentes da Universal/Abril Music, para acreditar que o RPM é a nova salvação do apócrifo rock nacional. Não era antes, nem vai ser agora.
Então qual o sentido dessa volta? Quem em sua mais completa ingenuidade e estultice acordou um dia e disse para si mesmo: sabe o que Brasil está precisando nesse momento? Um novo álbum do RPM! Um álbum novo não, um álbum ao vivo com as mesmas músicas de quinze anos atrás!!! Viva!!!
Mesmo quem, levado exclusivamente por curiosidade antropológica, resolver dar uma chance à banda e contribuir para o fundo de aposentadoria da MTV para artistas decadentes dos anos 80. Vai levar para casa um CD anódino, de uma banda datada que pouco ou nada de novo tem a oferecer.
As duas faixas inéditas: "Rainha" e "Carbono 14" despontam para o esquecimento. De novidade ainda tem "Vida Real" aquela musiquinha da abertura do Big Porre Brasil, que diga-se de passagem é um cover. O que deixa a banda com o saldo de duas músicas inéditas em mais de dez anos. Nesse ritmo temos um álbum novo lá por 2050...
Mas pior mesmo é a participação virtual de Renato Russo em "A Cruz e a Espada". Esse tipo de recurso, extremamente piegas e de profundo mau gosto, é usado aqui possivelmente para atrair algum fã completista da Legião Urbana, na busca de qualquer coisa que seja lançada sobre Renato Russo.
Depois desse ao vivo o que resta ao RPM? Uma versão remasterizada do primeiro CD com faixas bonus, que se constituiriam basicamente de versões alternativas das mesmas músicas do álbum original, ou quem sabe exista uma fita demo do álbum? Com obviamente as mesmas músicas em versões mais cruas e rústicas? Mas a quem diabos interessaria esse tipo de material? O mesmo tipo de gente que se interessa um álbum ao vivo do RPM em 2002: basicamente ninguém. E por que dar outra chance ao RPM ou a Paulo Ricardo? Quem teve a Luciana Vedramini, musa incontestável dos anos 80, e preferiu ficar esquentando um prato vazio na beira do fogão não merece outra chance...
Faixas:
1. RPM
2. Alvorada Voraz
3. Juvenília
4. Sete Mares
5. Guerra Fria
6. London London
7. A Cruz E A Espada
8. Naja
9. Sob A Luz Do Sol
10. Louras Geladas
11. Rádio Pirata
12. Olhar 43
13. Vida Real / Leef
14. Onde Está O Meu Amor ?
15. Vem Pra Mim
16. Tremelo
17. Labirinto
18. Boy/Girl