Roger Recalque Waters

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Quando Roger Waters saiu do Pink Floyd nos anos 80, o mundo apostou no final da banda e na carreira solo de um dos que se supõe maiores compositores do rock. Após a disputa nos tribunais, Gilmour e cia. levaram a melhor. E isso aconteceu nas prateleiras de CDs também. A prova cabal da derrota recalcada do gênio ultrapassado Roger Waters chegou até as lojas em dezembro.

In The Flesh tinha tudo para ser o triunfo, a carta guardada na manga por anos para sepultar os poucos fãs de David Gilmour e enaltecer os brios dos puristas que negavam a existência de um Floyd não-wateriano. Mas o tiro saiu pela culatra.

O repertório deixou de lado a carreira solo para insistir na fase glamourosa do dino Waters. A escolha de Set the Controls for the Heart of the Sun parecia ser a resposta perfeita à Astronomy Domine. O problema foi a inclusão de um solo de saxofone no meio da música. Waters poderia ter feito um disco de postura oposta aos últimos dois "live records" do Floyd sem ele.

A estrutura de apoio poderia ser abandonada, resultando em uma banda de rock mesmo. Um disco assim faria todos pensarem "ele ainda é rocker, ele ainda é Waters". O problema é que In The Flesh lembra uma receita prescrita por um geriatria.

Nas fotos, é possível ver Roger como um agricultor que abandonou o campo depois de ficar rico para vir morar na cidade. Lento e senil, é uma versão menos glamourosa de um Gilmour que tornou-se Beatle depois de velho, após a parceria no sofrível disco Run Devil Run de Paul McCartney.

O coro feminino em Mother é desprezível, um chiste ao trabalho realizado pelo Pink Floyd. A única versão digna do trabalho passado de Waters é Dogs, que ficou como um poodle perto da versão pit-bull original. O resto não chega aos pés de muito cover tocado por bandas em réveillons e bailes de formatura.

O bardo perdido no tempo ainda conseguiu tornar as músicas de sua equivocada carreira solo ainda mais anódinas. A única faixa do último álbum, Each Small Candle tem aquele clima bovino, lerdo e babão que permeia o disco. Talvez seja o apelo inconsciente de Waters dizendo para cada fã colocar uma pequena vela em cima do disco, seu jazigo fonográfico.

Para ajudar a cavar a cova, Waters chamou alguns músicos medíocres para acompanhá-lo. O detalhe é que dois deles estiveram junto do Floyd, Snowy White (guitarra - esteve na tour do The Wall) e Jon Carin (teclado - ajudou a gravar o Division Bell e acompanhou o Floyd nas tours do Delicate Sound Of Thunder e P.U.L.S.E). Salva-se James Guthrie, excelente técnico de som que ajudou a construir o sólido muro The Wall Live.

Definitivamente, era melhor ter ficado quieto e escondido atrás do The Wall da obscuridade e saudosismo. Mas assistir Waters tocando no ano 2000 é um desses momentos mágicos da geriatria do rock que deveriam ser evitados a qualquer custo. E ele ainda está finalizando "Ça Ira", uma ópera(arghhhhh!!!!!). Espero que ele tenha sorte nesta empreitada - e abandone o rock de vez.

Pedro Camacho