R.E.M. - Up
Poucas bandas foram tão seminais nos anos oitenta quanto o grupo americano R.E.M.. Contando com as letras instigantes de Michael Stipe - até mesmo por que raras vezes se conseguia entender o que ele estava tentando dizer - e com a guitarra econômica, mas certeira de Peter Buck eles se tornaram os preferidos das colleges radios dos EUA. A banda, que surgiu em Athens, Georgia, em 1980, em seus mais de 15 anos de carreira sempre demontrou - com raras exceções - excelente qualidade musical e lírica.
No início da carreira eles copiavam descaradamente os The Byrds e conseguiram um belo álbum de estréia chamado Murmur (1983). Com o tempo o R.E.M. mostrou que mudar de disco para disco seria uma de suas características mais comuns. Só que, infelizmente, a década de noventa parecia reservar um futuro inglório para um banda tão legal, que, aliás, cometeu um dos melhores discos da década de 80, o clássico Document (1987), o qual tinha um dos hinos dessa geração, a música: It's the end of the world as we know it (but I feel fine).
O problema começou com o disco Out of Time, de 1991, que catapultou a banda para as paradas de sucesso. Sem dúvida, era o pior trabalho do grupo. Apesar disso (ou talvez por causa disso) músicas como a chata Losing My Religion e a engraçada Shiny Happy People se tornaram hits. O trabalho seguinte Automatic for the People (1992) era lento, tedioso e soporífero e, com exceção de quatro músicas produzidas pelo ex-baixista do Led Zepelin, John Paul-Jones, totalmente descartável.
Na seqüência veio a obra-prima Monster (1994). Um disco pop, mas pesado com ênfase nas guitarras distorcidas. A continuação veio, no ano seguinte, na forma de New Adventures in Hi-Fi que resgatou a carreira de Patti Smith do limbo, além de ser outro cd absolutamente brilhante.
Por isso havia grande expectativa quando do lançamento de Up o mais novo trabalho do R.E.M. que passou a ser um trio depois da saída do baterista Bill Berry por problemas de saúde. Up não é um grande disco, muito antes pelo contrário. Com o abandono de Berry os demais integrantes do grupo resolveram se dedicar ao experimentalismo, as faixas e canções climáticas (argh!) e a convidar outros músicos para participar do novo trabalho.
O resultado final não poderia ser mais desigual, faixas como The Apoligist lembram o bom e velho R.E. M., enquanto Airportman, a música que - emblematicamente - abre o álbum, nos obriga a perguntar o que @#$% eles quiseram dizer com isso? As 14 faixas de Up conseguem alternar bons e maus momentos. Se não dá para declarar a banda decadente também não se pode dizer que ela está indicando o futuro do rock (só para usar velhos clichês).
Uma grande curiosidade a repeito de Up é que pela primeira vez em toda a carreira o R.E.M. colocou um encarte com as letras das músicas no disco. Parece bobagem, mas vocalista Michael Stipe sempre defendeu (ou defendia) a tese que não podia haver separação entre música e letra. Portanto, não era necessário explicitar as letras toda a vez que se fazia um álbum. Bom, considerando a qualidade do que veio encartado em Up é fácil de entender por que Stipe insistia tanto em manter seus escritos em segredo.
Portanto, se você é fã da banda compre o disco. Até por que você não deve estar dando a mínima para essa crítica se gosta tanto assim do R.E.M.. Mas se o leitor está pensando se vale a pena o investimento, o melhor é deixar para lá e comprar Document ou Murmur em alguma loja especializada.