Racionais Mc's - Sobrevivendo no Inferno

Os Racionais Mc's é um dos grandes sucessos mercadológicos do ano, desafiando o sistema e sem qualquer divulgação do seu cd, Sobrevivendo no Inferno, chegou a impressionante marca de mais de 500 mil cópias vendidas. Tudo isso seria muito bonito se a mesma mídia que se derreteu em críticas elogiosas ao Racionais estivesse mesmo dizendo a verdade.

De fato, analisar os racionais como um fenômeno puramente racial é a mais rematada bobagem. É como dizer que os negros, e principalmente os negros brasileiros, só escutam rap. Honestamente não é possível levar uma teoria dessas a sério. Os Racionais Mc's transcederam o rótulo de banda de periferia, embora ardilosamente se utilizem deste esquema para vender mais.

Vamos aos fatos: os Racionais Mc's acabaram se tornando um sucesso retumbante graças aos mesmos playboys que insistem em criticar. Nada mais fácil do que achar um bundinha da alta sociedade escutando um cd do Racionais dentro do seu carro importado. Ora, como chamar de alternativa uma banda que permaneceu por várias semanas liderando o Top 20 Brasil da MTV?

Ninguém vai convencer esta revista de que a periferia ou a favela, que os Racionais afirmam ser o seu público preferencial, está repleta de anteninhas UHF. Malandragem, dá um tempo. Se periferia é periferia; malandro é malandro e mané é mané. A ZeroZen fecha com Bezerra da Silva que é muito mais autêntico que qualquer pseudo-crítica feita pelos Racionais.

Quase todas as letras de Sobrevivendo no Inferno são quilométricas e chatas. É um verdadeiro rosário de misérias do tipo: "coitadinhos de nós, a gente sofremo demais". É difícil destacar qual é a pior por que, nesse sentido o disco é muito homogêneo. Ou seja, todas são ruins.

A única coisa que Sobrevivendo no Inferno prova é que racismo – embora às avessas – também faz sucesso. Porém é como ensina o mestre Raul Seixas em Eu também quero reclamar: "mas é que se agora pra fazer sucesso/pra vender disco de protesto/todo mundo tem de reclamar/eu vou tirar meu pé da estrada/e vou entrar também nessa jogada/e vamô vê quem é que vai guentar/por que eu foi o primeiro/e já passou tanto janeiro/mas se todos gostam eu vou voltar".

E fim de papo

J. Tavares