Não há vida inteligente no Planeta Atlântida
Corajosamente indo onde nenhum ser racional, com formação cromossomial específica, foi. A ZeroZen resolveu enfrentar um festival de rock pré-adolescente. Resultado: muita chuva, muito pé na lama e muitos shows ruins no Planeta Atlântida. A promoção da RBS mostrou ser o primeiro grande equívoco do ano de 1998.
Para começar o público estimado em 40 mil pessoas, para cada noite, pela imprensa gaúcha foi um espanto. Devem ter contado junto as mães, os pais, os tios e os cachorros de toda a piazada que tomou conta do local. Mesmo assim o público das dois dias foi bom para um evento do gênero. O interessante é que na platéia tinha mais jornalista metido a fashion do que gente querendo ver os shows.
Aliás, as atrações do Planeta Atlântida fizeram a alegria da geração Mc Donald's+Playstation. Por alguns módicos reais tinha neguinho pintando o seu cabelo de verde-gosma, tatuando a mão com Henna (vale a pena você pode, inclusive, lavar o cabelo com a tatuagem) e fazendo um piercing na língua. Com tanta gente pagando mico realmente ficou difícil prestar atenção no que acontecia no palco. Isso sem falar na ponte do rio que cai, nos sprays de espuma, e na chuva artificial.
Bom, mas chega de enrolação e vamos ao que interessa: os shows. Primeiro, a atração internacional: o Arkana (o quê?). Os garotos são realmente um prodígio. Conseguem ser ruins tanto quando tentam fazer tecno quando tentam fazer rock. Dá para resumir a sua participação em uma única palavra:desastre. Quase tão deprimente foi a apresentação da banda Harmadilha, cujo nome já diz tudo. Os caras fizeram o jingle do festival e agora, de castigo, são convidados todos os anos.
Também teve o síndico Tim Maia dando o seu recado e realizando um dos poucos shows decentes do festival. Nessa hora a garotada correu para o Mc Donald's, o que só pode significar que tempos sombrios se aproximam. O J. Quest também veio, mas não precisava, a sua soul-boiola é deprimente.
Falando em boiola, Netinho realizou um prodígio. Contiagiou (epa!) todo público do Planeta Atlântida. Quase não dava pra acreditar, mas o jardim de infância cantou alto e em coro. A galerinha "fui-no-Mix-Bazaar-e-agora-sou-fashion" delirou. Deve ser isso que a imprensa chama de Virada do Milênio.
Fernandinha Abreu, por outro lado, deu o seu recado com competência. O único problema é que ela insiste em cantar, se ficasse só pulando de biquini seria um show nota 10. Quase acontece a mesma coisa com a baiana Daniela Mercury, porém ao contrário da ex-integrante da Blitz ela possui uma voz privilegiada. O chato é que ela desperdiça o seu talento cantando em baianês. Não adianta nem reivindicar o título de gostosa da hora, que já está ocupado - e muito bem ocupado - pela Ivete Sangalo, vocalista da banda Eva. Verdade seja dita, Daniela Mercury ganhou o troféu de melhor bustiê do Planeta Atlântida, motivo pelo qual esse resenhista agüentou até o final do show.
Mesmo assim, o pior momento feminino foi da Titia Rita Lee. Depois de ficar afastada um tempo das drogas ela resolveu voltar para o seu ex-marido, Roberto de Carvalho. O resultado foi o retorno dos arranjos pasteurizados e dos rocks chifrins. Por favor, em nome da Convenção de Genebra e dos bons serviços prestados à causa do rock, alguém interne a Titia em um asilo.
No meio de toda a confusão surgem os maiores caras-de-pau do rock brasileiro, a banda mais oportunista das terras tupiniquins: Os Titãs. O show foi um sucesso. Os dentes-de-leite da platéia deliraram com os sucessos da banda. Muitos vão afirmar que o cd Titãs Acústico é o melhor disco da banda e que eles são o que de melhor há no rock brasileiro. Quem gosta de verdade do bom e velho rock, sabe que tudo que o Titãs produziram depois da saída de Arnaldo Antunes é lixo.
Então, quando se pensava que nada poderia ficar pior... eis que surge Gabriel o Pescador - direto do show do U2 - para encerrar, de forma emblemática, o Planeta Atlântida. A geração shopping center arranjou forças para pular e acompanhar os sucessos do rapper carioca e membro da Legião da Boa Vontade. Quanto ao resenhista, ele decidiu tentar o suicídio a agüentar o som bundinha do Pescador, se atirando de Bungee Jump...
Um plus a mais: Com a determinação dos loucos e ganhando adicional de insalubridade, o resenhista foi para Santa Catarina acompanhar o Planeta Atlântida dos barriga-verde. Resultado: a mesma ruindade. As bandas locais, como a Bandit e o pagode patético do Senti Firmeza, conseguiram o prodígio de serem ainda piores do que as gaúchas.A única curiosidade foi o show de Lulu Santos, de longe o melhor do festival. O que só pode significar que rock brasileiro vai de mal a pior.