Planeta Atlântida 2006: Regulando a Mixaria
No dia 5 de janeiro de 2006 ao checar os e-mails da ZeroZen, no meio da dose diária de incompreensão, insultos e spams recebemos o seguinte e-mail:
De: "Andrea Lopes"
<imprensa@planetaatlantida.com.br>
Para: <zerozen@zerozen.com.br>
Assunto: Planeta 2006
Olá, aqui Andréa Lopes, assessora de imprensa do Planeta Atlântida 2006. Começo a enviar material sobre o festival para vocês. O evento realiza-se em 20 e 21 de janeiro em SC e 10 e 11 de fevereiro no RS. O credenciamento para o evento no RS deverá ser solicitado até o dia 27 de janeiro, impreterivelmente. Todos os pedidos serão sujeitos a análise da direção do festival. Na solicitação de credenciamento preciso do nome do veículo, nome dos profissionais a serem credenciados e respectivos RGs.
Obrigada pela atenção!
PLANETA ATLÂNTIDA
2006
Assessoria de Imprensa
Andréa Lopes & Alessandra Barros
Qualquer um que acompanhe a ZeroZen, uma revista que não sai do chão nem está bombando, sabe o que nós pensamos sobre o Planeta Atlântida, digo Orbeat. Logo, inicialmente, pensamos se tratar de um engano, já que a ZeroZen não costuma ser convidada para nada. Nem bar-mitz-vá ou aniversários. O que dirá qualquer evento da RBS e DC Set Promoções. Talvez o pessoal do Planeta Orbeat a estivesse exercitando o velho ditado de manter os amigos perto e os inimigos mais perto ainda. Mas como isso requer alguma sabedoria, não poderia ser o caso aqui.
Não tendo nada a perder a ZeroZen resolveu pagar para ver e pedir o credenciamento de alguns colaboradores dessa impoluta revista. Nas semanas seguintes mais e-mails sobre o Planeta continuaram a chegar, com irrelevantes informações que nunca em hipótese alguma seriam publicadas na ZeroZen. Até que na quinta-feira, 5 de janeiro de 2006 recebemos finalmente a resposta sobre nosso suposto credenciamento:
De: "Terezinha
Soares" <assistente.imprensa@planetaatlantida.com.br>
Para: <zerozen@zerozen.com.br>
Assunto: Credenciamento
Infelizmente não
vamos poder atender a seu pedido de credenciamento para o Planeta
Atlântida 2006.
Um abraço
Déa & Tetê
Isso levanta algumas questões interessantes:
Primeiro: porque uma revista gaúcha e a única na Web a cobrir o Planeta desde o seu início, teve seu credenciamento negado? Num evento que sempre faz questão de apregoar o provincianismo exarcebado? Seria nossa linha editorial? Seria o risco ZeroZen muito alto para o Planeta? Quer dizer que se escrevêssemos textos cheios de adjetivos elogiosos as portas do clubinho estariam abertas para nós? Podem ficar esperando. É como se a Revista Veja deixasse de ser convidada para qualquer evento do Governo Lula, numa comparação obviamente absurda e descabida.
Segundo: Desde quando o pessoal do Planeta começou a regular a mixaria? Essa gente que não se cansa de premiar ou superestimar a mediocridade. Só por que o Multishow, um canal pago, com uma audiência mensal menor do que um dia do Jornal do Almoço, da própria RBS, começou a transmitir o festival. Vocês agora começaram a achar que estão arrasando? Volta ao chão planetaotários.
Mas enfim nós deveríamos até agradecer a produção por ter recusado nosso credenciamento, afinal assim podemos assistir o Planeta como sempre fazemos: pela TV e com tecla mute On.
Sexta, 10 de fevereiro
O Planeta Orbeat é a prova máxima da estagnação
e falta de novos artistas relevantes na música brasileira,
e gaúcha também. São sempre os mesmos artistas
fazendo os mesmo shows, dizendo as mesmas frases de efeito para mesma
massa ignara. Diga-se de passagem se você é capaz de
tolerar qualquer uma das atrações do Planeta Atlântida,
você, até prova em contrário, é uma causa
perdida. É um desses analfabetos musicais funcionais que parasitam
pelo Planeta. A tão apregoada variedade de estilos musicais
do evento e aquele papo de que essa garotada nova não tem preconceitos
musicais. É uma bobagem selada e juramentada. Essa gente sequer
possui algo que se possa chamar de gosto musical. O que dirá
preconceitos. Ouvir de tudo não caracteriza que alguém
tenha bom gosto. Pelo contrário, denota a falta do mesmo. Na
verdade é característica típica de quem ouve
rádio FM demais. São 53 mil pessoas que não queremos
conhecer. E que certamente não deveriam procriar. E num festival
cuja a única cerveja disponível é a Nova Schin,
isso definitivamente ficou mais difícil de acontecer.
Cidadão Quem (18h)
O Cidadão Quem?! É uma dessas bandas pops falidas incapazes
de criar uma melodia memorável ou uma harmonia que preste.
Com um publico alvo formado, aparentemente, por surfistas de meia-idade
a banda faz uso de letras ‘sérias’ de fazer vergonha
a quem quer que escreve as letras do Kid Abelha. Para piorar as coisas
a banda fez um show acústico. Enfim nada denota mais a falta
de idéias do que um cover para uma música dos Engenheiros
do Hawaii.
Armandinho (19h10min)+TNT
Armandinho é mais um desses discípulos de Jah. Aquela
coisa de praia, surf e toda maconha que você puder fumar. Não
necessariamente nessa ordem. Sendo um típico LL(local loser)
Armandinho convidou a banda Iriê de Floripa para uma canja.
No final do show Armandinho uma parada chamou para o palco Charles
Máster, vocalista da decana banda gaúcha TNT, para dar
uma canja. Do tipo ninguém pediu, não precisava, estava
de bom tamanho, deixa assim.
Titãs (20h30min)
Deus! os Titãs chegaram ao fundo do fundo do poço. Eles
estão fazendo cover do Nando Reis!!! Eu explico: a banda resolveu
tocar Marvin, uma das canções originalmente cantadas
por Nando Reis, que diga-se de passagem é uma versão
de uma música chamada ‘Patches’ de Clarence Carter.
Como se não bastasse nada denota mais a falta de idéias
do que um cover para uma música do Roberto Carlos, no caso
o Portão.
O Rappa (22h)
É preciso dar algum crédito ao O Rappa por não
trazer seu pífio e patético show acústico ao
Planeta. Quer dizer até eles perceberam que suas composições
não foram feitas para esse formato. Esse tipo de epifânia
é raro no rock nacional e merece todo apoio. O que não
muda o fato que O Rappa continua sendo uma das piores bandas ao vivo
que se tem notícia. O vocalista e aparecido Falcão perdeu
completamente o ímpeto de cantar as mesmas letras de sempre
se fazendo apenas inteligível durante os refrões. Enfim
nada denota mais a falta de idéias do que um cover de Bob Marley.
Jota Quest (23h30min)
O Jota Quest é a trilha sonora da balada ruim: mulher feia,
cerveja quente e música de rádio FM. Nada denota mais
a falta de idéias do que uma versão para uma música
do Roberto Carlos. Diga-se de passagem a ZeroZen é do tempo
que balada era só uma música lenta feita para tocar
no rádio.
CPM 22 (1h10min)
É realmente estranho que o brasileiro tenha essa mania por
tudo que é melódico: seja punk rock ou heavy metal tudo
tem que ser ‘melódico’. O que virá depois?
Axé melódico? Funk Carioca melódico? E pior:
de melodia esse pessoal não entende nada. E o CPF 22 certamente
não é exceção. Enfim nada denota mais
a falta de idéias do que um cover dos Ramones.
Comunidade Nin-Jitsu (2h40min)
Hum... Comunidade Nin-Jitsu fechando uma noite do Planeta? Deixa ver
se eu adivinho: eles devem estar lançando alguma coisa pelo
selo Orbeat. No caso um DVD ou coisa que o valha. A Comunidade tocou
em 10 dos 11 Planetas Orbeat e isso explica muita coisa. E a impressão
que fica é que tem sido o mesmo show desde o começo.
Ao menos desta vez houve um daqueles momentos que costumam passar
despercebidos por todos menos a ZeroZen: ao tocarem a óbvia
“Raimunda” o vocalista Mano Changes soltou em determinado
momento algo como: "a mulherada( raimundas) que estiverem sobrando no
camarim do Jota Quest podem chegar...". Talvez esse tenha sido
o momento definitivo do Planeta 2006.
DJ Marlboro (3h30min)
Sério o cara pegou um exemplar lacrado do seu último
CD, abriu o lacre, colocou o CD no player do pick up e deu play. Chamou
duas dançarinas e isso foi o show. O cara tocou o CD inteiro
dele do início ao fim. E ainda tem gente que paga para ver
uma coisa dessas.
Sábado, 11 de fevereiro
Papas da Língua (18h)
Hum... Papas da Língua abrindo uma noite do Planeta? Deixa
ver se eu adivinho: eles não devem ter lançado nada
esse ano pelo selo Orbeat. Segundo e último show acústico
do Planeta 2006. Essa é a menor quantidade de shows acústicos
do festival nos últimos anos. Reparem ambos feitos por bandas
gaúchas e ambos abrindo os trabalhos do festival. O que pode
significar que finalmente nossas preces foram ouvidas. Enfim nada
denota mais a falta de idéias do que uma versão para
uma música do Ramones. De novo.
Pitty (19h10min)
Após um ano de sua primeira apresentação no Planeta,
Pitty devia estar experimentando uma sensação de dejá
vù: afinal tocava na mesma noite e abria para praticamente
as mesmas bandas. Pitty inclusive declarou antes de começar
o show, para rádio Atlântida FM, estranhar estar tocando
tão cedo. Nos outros festivais de verão Pitty sempre
foi uma das principais atrações. Well... NUMA coisa
a produção do Planeta tinha que acertar...
Paralamas do Sucesso (20h30min)+
Andreas Kisser (Sepultura)
Poucos lembram, Herbert Vianna certamente não, mas o último
show dos Paralamas do Suckesso antes da perda de massa cefálica
foi em Porto Alegre. Isso não tem absolutamente nada a ver
com o show deste ano no Planeta, que contou com Andreas Kisser (Sepultura)
fazendo as vezes de segundo guitarrista. Mas quanto menos se falar
da apresentação dos Paralamas melhor. Afinal nada denota
mais a falta de idéias e a perda de massa cefálica do
que um cover do Raul Seixas.
Charlie Brown Jr. (22h)
O novo Charlie Brown é igual ao anterior, e ainda usando boné
para disfarçar a calvície. Mas esse foi surpreendentemente
um show melhor do que o do ano passado. Vale lembrar que Charlie Brown
demitiu toda a banda depois da apresentação do ano passado.
Afinal numa noite em que eles foram superados pela Pitty, não
havia outra alternativa a não ser mandar todo mundo para fila
do seguro desemprego. Charlie Brown lembra cada vez mais Marcelo Nova,
principalmente ao vivo. Ambos possuem a mania de transformar cada
música num discurso embolado esticando canções
muito além do necessário e esquecendo completamente
o fato que a platéia não veio ao festival para ouvir
sermão da montanha.
Ivete Sangalo (23h40min)
+ Charlie Brown
As coxas de Ivete Sangalo fizeram um bom show... Quanto ao resto quem
se importa?
Nenhum de Nós (1h40min)+
Humberto Gessinger
Existe banda menos festiva que Nenhum de Nós? Tudo nesses caras
é depressivo. Esses caras são a personificação
musical daquele personagem de Hanna Barbera, Ollie “Oh vida,
Oh ceús”. Agora a junção dos Nenhum de
Nós e Humberto Gessinger é certamente um dos prenúncios
do apocalipse. Pode procurar na Bíblia que está lá.
Enfim nada denota mais a falta de idéias do que um cover do
Nirvana
Cachorro Grande (3h10min)
Havia uma certa apreensão da organização do evento
com o show da Cachorro Grande. Afinal por estar encerrando o Planeta
a banda teria que ficar até as 4 horas da manhã mais
ou menos sóbria. O que sabemos é uma tarefa difícil.
De certa forma isso amansou a Cachorro. Deviam ter deixado eles encherem
a cara. A Cachorro Grande faz jus a tradição gaúcha
de bandas como TNT e Cascavelletes sendo inferior a ambas. Aquela
coisa rock’n Roll de vocais gritados e corinhos fora do tom
que ficam bem num boteco de pé sujo as três da manhã,
mas no Planeta ficou meio fora do seu habitat natural. A banda fez
um show curto e encerrou a apresentação com dois covers
sofríveis: Jumpin' Jack Flash, dos Rolling Stones, e Helter
Skelter, dos Beatles. Pitty, supostamente, deveria participar nessa
última, mas a baiana deve ter pensado melhor e mandou apenas
o guitarrista e o baterista de sua banda. Sendo substituída
por Rafael (típico LL) dos Acústicos e Valvulados. Se
você conseguir imaginar um bando de bêbados num karaokê
no fim de noite, gritando para serem ouvidos por cima do barulho do
bar. Você pode mais ou menos imaginar como soou a versão
de Helter Skelter. Enfim nada denota mais a falta de idéias
do que um cover dos Beatles ou dos Rolling Stones. Os dois juntos
então nem se fala.