A arte de fazer música para vender encartes

Pearl Jam plageia Legião Urbana ao fazer Mais do Mesmo em novo Encarte-CD.

Era uma vez um frentista de posto. Meio pirado, enchia os tanques cantando. Aí uns malucos da mesma cidade tinham uma banda com um nome mais insano ainda, Temple of the Dog. Depois que o vocalista partiu para o andar de cima, a banda acabou e o pessoal dispersou para outras bandas. O tio do posto conseguiu vaga em uma delas e deu no que deu...

Da turma de Seattle, o Pearl Jam sempre foi o mais queridinho da mídia depois da morte do Kurt Cobain. Apesar de toda birra, processos contra a Ticketmaster, viagens de não fazer clips (deram a volta por cima copiando The Wall em Do the Evolution) e dar poucas entrevistas, a mística do grupo seduz os jovens. Talvez por tolice.

O Pi Jama está como o rock de Seattle, morto. Desde Nirvana - Foo Fighters não conta, o David Grohl não passa de um espertalhão -, passando pela dupla Soundgarden e Mudhoney - que prestavam, e muito - e fechando com o Queensrÿche - outrora orgulho e hoje vergonha do metal. Talvez os mortos na Dinamarca queriam avisar para a banda que o fim está próximo e que eles são zumbis.

Parece que todo potencial da banda foi gasto na brilhante estréia, com Ten. Ao ouvir Binaural, o novo disco, a primeira palavra que você lembra é saudade. Sim, a magia foi para o espaço. Nem o aprendizado com as sobras do Doors em alguns shows e a excelente dupla CD/EP Mirrorball/Merkinball com Neil Young fez efeito.

A banda soa insossa, arrastada, morta. Matt Cameron tenta dar pique ao som, acostumado com a qualidade do Soundgarden. Mas no meio do caminho tinha uma pedra, tinha um Eddie Vedder no meio do caminho. O menino maluquinho do rock canta com aquela voz de bêbado irritante, sem entender nada.

Breakerfall é o retrato disso. Há um pique de entrada, parece que o Pi Jama está jovem e vem com tudo. Aí o vampiro Vedder puxa o freio e estraga tudo. God's Dice é a única interessante do disco, parece que a banda se acha - mas logo perde o caminho, a direção na Long Road, para citar, talvez, a última boa música de Vedder. Light Years mostra que infelizmente foi só um susto e o disco poderia ser do Sepultura, porque é morto. Rival sintetiza tudo. Bêbada, sem direção, chata. Infelizmente o Pi Jama não é mais o mesmo, apesar de continuar fazendo mais do mesmo desde Vs. A música do Pearl Jam ficou igual a iogurte diet: diz para agitar na embalagem, você agita, mexe, espera um doce sabor, mas acaba com gosto de nada. Em Soon Forget, Vedder quer ser Bob Dylan. Mas ele acaba sendo chato como Dylan. A música merece ser soon forget mesmo.

Apesar da decadência no som, cada vez mais as embalagens dos discos estão melhores. Tudo começou com a arte do encarte de Vitalogy. No Code também inovou com as polaróides, Yield era bonito - boa a sacada do recorte na capa - e Live on Two Legs não fugiu do formato digipack. Binaural conta com fotos do espaço bem trabalhadas e espalhadas pela embalagem do CD e encarte. Aí você pega o disco e pensa "legal, dentro devem ter escrito as letras também de forma bonita". Capaz. Está tudo batido à máquina de escrever. É irônico e hilário, tudo moderno no encarte e embalagem para ter escrita arcaica depois. Olha, não duvidem que a banda lance um DVD algum dia e o embale em folhas de caderno. Maluco Vedder é.

É cômico lembrar que a música que mais vendeu da banda, Soldier of Love, é um cover e não existe nos álbuns. Isso indica que alguma coisa está errada com o grupo. Quem quiser qualidade, infelizmente deve ficar com Ten, Mirrorball e Merkinball. A banda depois não fez mais nada de qualidade, exceto Do the Evolution. Binaural é um disco para fãs, ainda mais que agora será preciso pagar indenização para as famílias dos jovens.. Infelizmente, música de qualidade da geração do Pearl Jam está relegada ao passado. Duas boas dicas são a coletânea We Care a Lot, do Faith no More, e A-Sides, Soundgarden - série Millenium. Da atualidade, valem o disco solo de Chris Cornell - pena que não recebeu o devido destaque - e The Battle of Los Angeles do Rage Against The Machine. O resto é silêncio...

Apesar de tudo, Binaural tem dois aspectos positivos. Primeiro por não deixar desempregado o bom baterista Matt Cameron. O segundo é que, apesar de tudo, o Pearl Jam sabe ser autêntico, mesmo na mesmice, e não faz sucesso copiando, a la Offspring.

Eu era feliz e não sabia...

Pedro Camacho

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13 músicas e um barulho 7min depois do fim do disco
52 minutos
R$ 20
Epic/Sony, nacional

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