No ombro de gigantes o que fica é caspa

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Copiar e colar. Creio que depois do advento da tendinite, essa é a maior contribuição da informática ao homem moderno. Fotos, textos, informação, tudo sai dum site oficial e vai para um webzine em segundos. Esse fenômeno, nem tão moderno assim, evidentemente, também tem seus desdobramentos na música. O bate estaca eletrônico é recheado de loops e samples tirados de outras músicas. O pagode também é adepto dessa pilantragem, vide vários grupos xerox do tipo: GeraSamba, Tchan, AxeBlond e assemelhados. E mesmo caindo no bom e velho rock and roll, é impossível deixar de esquecer a turminha de Londres e seus representantes mais famosos: o Oasis.

Certas horas pergunto aos meus botões se Kurt Cobain não teria cometido suicídio após escutar alguma demo de Definitely Maybe (1994). Sob o propósito de fazer boa música cultuando os mestres supremos do estilo— The Beatles—, o Oasis é uma das maiores falcatruas do cenário  musical deste fim de milênio.

Depois da saída de Bonehead e Paul McGuigan, guitarrista e baixista, pairava sobre a banda um clima de "o último que sair apague a luz". Sentindo o perigo, o mala-mor Liam Gallagher recrutou Gem (do Heavy Stereo, guitarrista) e Andy Bell (do Ride e Hurricane #1, baixista) para tocar com seu irmão Noel e Alan White.

Para corroborar com a teoria que a banda não passa de uma fraude, foi escolhido um nome peculiar para esse novo lançamento. Em fevereiro de 1676,  Sir Isaac Newton comentou que "se ele viu além dos outros (se ele conseguiu progressos científicos), o fez porque estava sentado nos ombros dos gigantes (contava com o que outros mestres da ciência já haviam realizado)." Pois bem, traduzindo isso, o Oásis (nome de uma clássica sauna porto-alegrense) quer dizer que eles só chegaram ao sucesso clonando música de artistas consagrados. A banda é réu-confesso da própria mediocridade.

O Cd começa com instrumental atípica: "Fuckin' in the Bushes" cheia de guitarras distorcidas e efeitos eletrônicos. Na seqüência com Go Let It Out, primeiro single do Cd, a banda volta ao normal e recomeça o assalto ao espólio dos Beatles. A voz de Liam está querendo soar como a de John Lennon, mas seria bom alguém avisá-lo que Mark"alguém viu a minha cópia do Apanhador no Campo de Centeio"Chapman  pode ganhar sua liberdade condicional esse ano, quando ele terá cumprido a sentença mínima a que foi condenado( 20 anos). Ou melhor não avise quem sabe Chapman tenha uma recaída, e desta vez preste um serviço à humanidade. Who Feels Love? apela para um clima mais de balada, mezzo indiana - algo que só o Fab 4 sabia fazer. Little James consegue um melhor resultado, quer ser lenta e chata e o faz com extrema competência. Gas Panic! deve ter sido escrita após algum peido, que nome, e tenta ser como as músicas do começo da carreira - caca. Por fim, Sunday Morning Call é a única que presta no álbum. Noel resolve tomar o microfone e mostra mais uma vez que ele deveria ser o titular no posto de vocalista, uma balada proibida para diabéticos. Como curiosidade o Cd traz ainda primeira( e esperamos que seja última) composição de Liam— sim o irmão menos esperto da família Gallagher agora quer escrever canções também— a lamentável "Little James."

Mas no final das contas Oasis é sempre a mesma coisa. Cópia descarada, xerox de segunda qualidade. O disco soa datado, vencido, e mesmo se tivesse saído na década de 70 não seria melhor. Quando você ouve tem a mesma sensação de comer aquelas bolachas recheadas da Parmalat, que tentam parecer iguais à linha Bono, mas não conseguem. Se a banda fosse autêntica mesmo, lançava em versão oficial o acústico da MTV (único show bom, pois Noel canta todas as músicas do chato, ops, irmão) e depois assumiria o lado cover de vez, tocando todo ano na Beatles Convention em Liverpool.

O mercado americano, outrora receptivo aos ingleses, mostrou outra cara no início de fevereiro, data de lançamento do disco. Os 3 milhões de discos vendidos parecem ser lembrança do passado, pois na parada da Billbord o disco estava em 24ª na estréia, caindo para a 84ª posição uma semana depois. Até os americanos se ligaram...

O disco indicado apenas para quem gosta de Brit Pop (always the same thing) e fãs de Beatles desesperados a espera do milagre divino que traga os bons tempos de volta. É como diz o editor desta nobre revista, "o que fica em cima do ombro é caspa". Se você quer beber água desse estilo, vá direto à fonte e compre o Abbey Road.

Pedro Camacho