MTV Tordesilhas ou Eu quero minha Shakira

A MTV resolveu juntar o que a história tinha há muito separado. E para quê? A julgar pelo pequeno número de pessoas que compareceram ao MTV Tordesilhas no gigantinho nos dias 21 e 22 de novembro a maioria dos gaúchos prefeririam que as coisas continuassem como estão.

O preço salgado dos ingressos e o total desconhecimento do publico das atrações estrangeiras, contribuiu para afastar o publico do evento. A meu ver este evento foi precipitado e desnecessário. Boa parte da culpa cabe a MTV que ainda nem doutrinou direito seu publico cativo a ouvir o rock latino e já se atirou num evento deste porte.

É verdade que a emissora tem incluído doses homeopáticas de latinidade em sua programação, mas para tornar o rock latino um mercado lucrativo dentro de nossa industria fonográfica vai ser necessário bem mais que isso. É importante que se diga tirando uma meia dúzia descolada, sem contar o pessoal da MTV e o Herbert Vianna a maioria das pessoas que estavam no gigantinho nunca tinham ouvido falar de Café Tacuba, Aterciopelados, Los Tres e Illya kuriaky & Los Valderramas. Se ao invés dessas bandas trouxessem a Shakira o gigantinho lotaria nas duas noites do festival.

Verdade seja dita: o brasileiro ainda não está pronto para o rock latino, pensando bem o brasileiro nem gosta de rock, é fato notório que os Rolling Stones venderam mais de 100 mil cópias no Brasil pela primeira vez na época do plano cruzado. É só acompanhar a lista de mais vendidos no país nos últimos 20, 30 anos. Raras vezes ela foi encabeçada por um artista estrangeiro.

Mas vamos ao que interessa: os shows de sexta feira foram os mais fracos do festival, nada prestou, mas nada mesmo. A começar pelo Wander Wilder nosso joãozinho podre travestido de Waldik Soriano, os sempre medianos Nenhum de Nós, passando pelos dispensáveis Ultramen, os patéticos Comunidade Nin-Jitsu junto com Edu K fazendo um playback lamentável. E enfim chegando na primeira atração estrangeira: Los Tres, que não são três coisa nenhuma.

A banda chilena faz um som absolutamente medíocre sem atrativo algum, esse tipo de merda pode ser o máximo no Chile, mas para nós tem gosto de chiclete usado. Para terem uma idéia do som da banda em alguns momentos deu até saudades da banda gaúcha TNT.

A seguir outra decepção a dupla argentina Illya Kuriaky & Los Valderramas foram muito chatos, pediram para ser chatos, entraram na fila várias vezes o e encarregado teve que tomar uma atitude, pois senão eles iriam ser acusados de monopólio da chatice. A impressão que se tinha é que o show durasse mais alguns minutos o Mercosul acabaria sendo revogado.

Fechando a primeira noite veio o Skank, que não precisava fazer muita coisa para conquistar o publico e também não nem se esforçou em tentar. Ainda teve aquela jam session burocrática no final, que a julgar pela empolgação já devia estar até incluída no contrato do show, com I fought the law, que não é do Clash como escreveu certo critico mal-informado de nossa grande imprensa, trata-se de um cover de Sonny Curtis que foi sucesso nos anos 60 na voz do bluesman Bob Fuller (ZeroZen também é cultura! Inútil, mas ainda assim cultura).

No sábado as coisas melhoraram um pouco mas não o suficiente para alguém dar vivas a la integracion. O festival começou com o Kako Xavier que deve fazer muito sucesso no circuito alternativo de churrascarias. Já o pessoal do Papas na Língua que fez seu reggae preguiçoso e sem graça com uma natural incompetência.

Os Aterciopelados, banda da Colômbia capitaneada pela vocalista esquisitona Andrea Echeverri, que ganhou de longe o prêmio fashion do festival, com aquele seu modelito misto fantasia de palhaço com roupa de astronauta, acabou sendo a surpresa da noite. Não que seu show tenha sido grande coisa, longe disso.

A verdade é que nada poderia ser pior que o Café Tacuba que veio a seguir. O publico que não sabia o que esperar da banda mexicana, e acabou não sabendo o que fazer com a banda depois do show.

O vocalista da banda chama-se Anonimo (hahaha), imagino que seja para enganar a polícia de imigração dos Estados Unidos, pois a figura tem cara de bandoleiro de filme faroeste italiano. O Café Tacuba faz um som esdrúxulo, nada empolgante, que não sei porque me lembrou nosso maluco de carteirinha Tom Zé. O Café Tacuba deve ser a banda preferida do David Byrne no México. Pois só ele para gostar desse tipo de merda.

Porém, é preciso admitir o Café Tacuba é uma banda totalmente dançante. O baixista sai dançando, o guitarrista sai dançando, o vocalista sai dançando. Na verdade, a banda dança muito mais que o público.

Fechando o festival vieram Os Paralamas do Sucesso que fizeram um show melancólico. Herbert Vianna ainda não se recuperou do vexame que deu ao lado de Gal Costa no acústico da MTV. Visivelmente desnorteado Herbert deve estar pensando em abandonar a carreira de músico, pelo menos a de cantor, e tentar a sorte em outra profissão qualquer.

O show dos Paralamas ao contrário do que se possa esperar foi calcado no repertório dos três primeiros lps da banda. E quando a banda se aventurava em músicas mais recentes Herbert parecia perder o interesse no que estava fazendo, chegou até mesmo a atravessar a letra do sucesso mais recente da banda "Nove Luas". Ao que parece Herbert estar descontente com os rumos tomados pelo Paralamas em seus últimos trabalhos, preferindo simplesmente hoje em dia tocar bom e velho rock’n’ Roll.

Só no Bis quando a banda emendou covers de Nirvana, Rolling Stones e Raimundos é que Herbert se soltou um pouco.

Finalizando a noite tivemos uma jam de confraternização com todas as bandas ao comando de Herbert Vianna tocando Oye como vá e Evil Ways do Santana, que na opinião deste critico fechou de maneira emblemática esse festival. Pelos quarenta reais que você pagou pelos ingressos das duas noite você poderia comprar um dos quatro primeiros cds do Santana, que ainda hoje é o que há de melhor na fusão de ritmos latinos com rock.

Por outro lado, neste festival o Brasil mais uma vez fez às vezes de primo rico e bancou "a integração entre os povos do Mercosul", o governador Britto e a CRT devem estar cagando dinheiro para investir neste tipo de evento.

Deixo minha sugestão para que a segunda edição do MTV Tordesilhas seja feita em Foz do Iguaçu na fronteira com o Paraguai, verdadeira entrada do Mercosul.

Saulo Gomes