Carne de Segunda
Vamos tentar fazer o seguinte exercício de imaginação: tentem visualizar a imagem de um Elvis Presley gordo e gay. Imaginaram? Agora imaginem que esse Elvis gordo— fase Las Vegas— e gay, não tocasse suas músicas mais conhecidas e cantasse com um sotaque de Manchester. Bem se vocês conseguiram criar uma imagem dessa figura, podem perfeitamente imaginar o que foi o show do Morrissey em Porto Alegre no bar Opinião.
Os shows brasileiros do Morrissey da turnê "Oye Esteban", foram marcados pela nostalgia e decepção. O ex-vocalista dos The Smiths, banda chave para entender o insosso, inócuo e afetado rock inglês dos anos 80. Ainda consegue manter seu status de ídolo para uma geração de viuvas de sua primeira banda. Mas quando um artista começa a fazer turnês independentes pela América do Sul é que sua carreira está, literalmente, acabada. Morrissey que está a três anos sem gravar, e atualmente sem gravadora, não tem mais nada para oferecer a não ser o pastiche de si mesmo. Morrissey está datado, selado e entregue. Sendo que na maioria dos casos a mercadoria foi devolvida com o pedido de reembolso...
O show começou com "Hairdresser on fire" que deu o tom da noite. Acompanhado de uma banda formada por ilustres desconhecidos: Boz Boorer e Alain Whyte( guitarras), Spike T. Smith ( bateria), Gary Day (baixo). Músicos competentes que fazem o que podem para deixar Morrissey como o principal centro das atenções. No geral foi uma apresentação morna e errática, centrada nas composições da carreira solo de Morrissey, que pouca gente conhece ou nunca ouviu. E que mesmo o fã mais fanático parou de acompanhar depois do álbum Viva Hate(87).
A platéia composta quase que exclusivamente de sobreviventes dos anos 80 saiu do show meio decepcionada. Pois de sua antiga banda, Morrissey só tocou cinco músicas. Nenhuma das mais conhecidas ou mesmo digna de nota. Sendo que alguns arranjos eram tão diferentes dos originais, que tornaram essas músicas quase irreconhecíveis. No entanto Morrissey fez uma pequena concessão ao público gaúcho tocando no bis a obscura "Last Night I Dreamt that Somebody Loved me". Música dos Smiths que ele não tocaria em nenhum outro show da turnê brasileira, que depois de Porto Alegre, ainda passaria em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba.
No final das contas Morrissey não consegue fugir do rótulo de dinossauro, não apenas por estar alguns quilos acima do peso. Mas também por parecer sem rumo e destinado a extinção. Morrissey, que atualmente mora em Los Angeles— atentem para o detalhe da proximidade com Las Vegas...— simplesmente não tem mais nada a dizer. É outro espectro de uma década perdida, que esqueceu de enterrar seus mortos. Não é a toa que a platéia gaúcha o presenteou com flores no início do show...
N. do autor: Depois de ouvir a versão capenga de Meat is Murder— com direito a "vegetariano, vegetariano" balbuciado por Morrissey num português patético—nunca um filé com fritas do Cavanhas caiu tão bem....
