Asilo Gigantinho
Tem uma piada clássica sobre o Estado declarar o Beira-Rio terra improdutiva para dar o terreno aos amigos do Bové. No dia 4 de abril, Mark Knopfler foi além. O escocês transformou o chiqueirinho, opa, ginásio em um imenso asilo. Foi um show morno, com rock and roll apenas na confusão provocada por uma galera insatisfeita na entrada.
Boa parte do público foi para o show esperando rever o Dire Straits, embalada por uma campanha ridíicula com cartazes anunciando clássicos do rock e não o guitarrista. O marketeiro de plantão que colocou os anúncios na rua "apenas" esqueceu que o velhinho estava divulgando o disco Sailing to Philadelphia e não fazendo um jogo do copo no palco para ressuscitar o Dire. Boa parte do público não entendeu o bando de velhos alternando entre blues e country rock no palco.
Verdade seja dita: o show até seria legal SE fosse no Teatro do Sesi, Salão de Atos da Wrana ou até Opinião. Nesses locais, menores, seria possível tentar ver/ouvir melhor a figura - não naquela distância "so far away from me"do chiqueirinho.
Apesar de Money for Nothing, Calling Elvis, Sultans of Swing, Walk of Life (versão aftosa) e Brothers in Arms - the best of Dire Straits -, o público estava sedento por rock, como diria a finada banda Mach 5 num ridículo cover do Barão no primeiro Fest Valda realizado em POA. Rolaram vários gritos de "eu quero eh rock!" pela platéia. Essa decepção também deu o seu show para algumas pessoas do público, que ficaram sem lugar para ver o show direito - mr Knopfler mandou encolher a área das cadeiras (segundo a Opinião produtora). Algumas até entraram, mas pediram o $ do ingresso ao ver a várzea onde poderiam ficar. O interessante foi a distribuição dos ingressos para o show: 10 mil para a venda e outros 2 mil para distribuição entre os patrocinadores. MOMENTO DE LUCIDEZ: deve ser uma festa na Claro Digital, porque bancar 2 mil passes não é mole não. Depois do Fala Tchê, deve ter rolado um Fala Mark.
Aliás, o gringo foi o oposto do patrocinador do evento. Cerca de 500 pessoas que babavam na frente do palco começaram a reverenciar Mark depois de Sultans of Swing. E o astro foi menos comunicativo que uma pedra de gelo, sinistro. Poderia ter falado mais, mostrar que estava feliz (ou até mesmo brabo) parecia estar com a "pá virada". E depois a Folha ainda diz que ele falou demais em São Paulo. Além de mala, o velho é bairrista pró-Sampa.
Musicalmente, Mark foi competente. As partes novas, inclusive na música tema do filme Mera Coincidência, não são ruins, mas ficaram insossas e chatas no show. Não era o momento nem o lugar para tanto. Walk of Life virou tema do Campo & Lavoura, mas nem por isso ficou ruim - diria que Mark foi feliz ao acentuar o caráter bovino da música. O ponto alto da noite foi Sultans of Swing, onde Mark mostrou que ainda sabe solar com tranqüilidade, apesar da idade.
No final das contas, salvo por uma banda competente, foi mais uma sensação de "quem não tem cão, caça com gato", como ocorrera antes na British Falcatrua Rock Symphony. Inclusive com a clássica sensação de asilo vista naquele show. Foi um programa familiar, com muitos jovens acompanhados dos pais. Como disse um jornalista, foi o típico programa para o namorado novo fazer com a família da guria na pilha de mostrar que é "um bom rapaz". E para as pessoas que escutavam FM nos anos 80 também.
Valeu a pena, valeu - mas que foi chato, foi. Neil Young está mais velho, pero es bem melhor que "a voz e a guitarra do Dire Straits".
