Maria Rita - Samba Meu - Porto Alegre - 14/12/2007
Maria Rita fez um disco de samba. Marisa Monte também. Tudo bem. A filha de Elis lançou o seu depois. Mas existe um detalhe interessante. O álbum "Samba Meu" é - em quase todos os quesitos - superior a "Universo ao meu Redor". Não dá para negar que a produção é excelente, que a opção por gente que entende do riscado como o sambista Arlindo Cruz forneceu qualidade ao disco de Maria Rita.
Só existe um único problema. Ela mesma. Sim, por mais que se esforce, Maria Rita não sabe cantar samba. Tudo soa triste e sem graça. É como se fosse a roda de samba mais desanimada que já surgiu em terras brasileiras. Falta garra, falta pegada, falta, em última análise, a cadência, a ginga, o molejo, o ziriguidum, o telecoteco, o balacobaco de uma verdadeira sambista...
Com esse trabalho que poderia ser chamado de samba-placebo
ou samba-genérico que Maria Rita veio ao teatro do
Bourbon Country. Bem, antes de começar qualquer resenha é preciso
explicar que qualquer show feita pela filha de Elis em Porto
Alegre se reveste de um caráter fortemente emocional.
Ela simplesmente entra com a platéia ganha. Pouco importa
que Maria Rita tenha evoluído pouco ou quase nada em
termos vocais. Se
platéia ruge de satisfação a um mero
assobio, o que dirá
uma música inteira.
A diferença é que agora Maria Rita parece muito mais solta
no palco. Com barriguinha à mostra, fazendo o estilo "agora
eu tô podendo", atraiu uma série de elogios da platéia. Como,
por exemplo, "linda", "maravilhosa", deusa", "casa comigo"
e por aí vai. Porém, não se pode negar, a cantora é extremamente
simpática e vibrante. Chegou a prometer no ínicio do show.
"É a primeira vez que faço esse show para
uma platéia sentada. Mas eu sei que no final vocês
vão levantar.". Claro que ela manteve a promessa.
Conseguiu sacudir o público e está longe de manter uma postura
de "musa entediada" que
parece fazer a alegria de Marisa Monte.
Maria Rita, aliás, em uma das muitas conversas com o público, contou
que no primeiro show em Porto Alegre, um amigo seu tinha avisado:
"com gaúcho não tem meio termo, ou eles vão te amar perdidamente
ou odiar com todas as forças". A cantora admitiu que subiu no palco
muito nervosa e só relaxou na terceira música quando alguém gritou
"essa tem sangue gaúcho". Então desabou em um choro comvido.
Nada mal. Com um discurso desses estaria eleita em primeiro turno
para a prefeitura. De qualquer maneira, quando o assunto é música,
a banda de Maria Rita é competente:
Leandro Sapucahy e Neni Brown (percussão),
Jota Moraes (piano), Sylvinho Mazzuca (baixo acústico), Tuca
Alves (violão), Camilo Mariano (bateria) e Márcio
Almeida (cavaquinho). Embora os arranjos sejam por demais iguais
aos do discos. Nesse sentido, Samba meu é um show esquemático e
sem surpresas.
O cenário do show é simples, bonito e funcional. Durante as músicas são projetados desenhos do grafiteiro Spetto. A iluminação é tradicional e correta. No fundo, a parte gaúcha de Maria Rita parece gostar da boa e velha retranca...
Apesar de ser um show onde o samba predomina existe um bloco, no
qual Maria Rita aproveita para cantar músicas mais lentas. O curioso
é que em quando interpreta canções como Muito Pouco, Encontros e
despedidas e Santa Chuva, ela se sai muito melhor do que no samba.
Parece um contrasenso, mas Maria Rita parece ter um talento natural
- talvez herdado da mãe - para cantar músicas chatas.
Samba Meu também pode ser considerado um show enxuto. Poderia durar
mais. Embora, Maria Rita termine o espetáculo exausta de tanto correr
de um lado para o outro do palco. O bis é surpreendentemente curto.
São só duas músicas: Num Corpo Só e
Cara Valente, que aliás já tinham sido tocadas antes.
De fato, a grande novidade do bis foi a volta de Maria Rita em um
minúsculo vestido verde. Sim, mesmo a ZeroZen é obrigada a admitir
que a cantora neste momento esbanjava carisma por todos os lados
com um visual de "cantora solteira procura por acompanhante". Uma
pena que o bis tenha durado tão pouco.
Em suma, a simpatia de Maria
Rita faz com que o público
esqueça seus erros e falhas. De fato, é uma boa tática. Talvez,
se ela usar o curtissimo vestido verde durante mais tempo, ela consiga
criar um clima de gafieira, fundamental para se fazer um grande
show de samba.
Da reportagem local
Set List
• Samba Meu
• Homem Falou
• Tá Perdoado
• Maria do Socorro
• Veja bem meu bem
• Novo Amor
• O Que É o Amor
• Cria
• Recado
• Muito Pouco
• Menininha no Portão
• Encontros e despedidas
• Caminho das Águas
• Santa Chuva
• Cara Valente
• Corpitcho
• Casa de Noca
• Num Corpo Só
• Maltratar, Não É Direito
• Conta Outra
• A Festa
Bis
• Num Corpo Só
• Cara Valente