Living Colour– Show
O Living Colour foi a melhor banda do mundo por 15 minutos. Isso nos inacreditáveis anos 80, onde todo mundo foi melhor banda do mundo por 15 minutos. Como sói acontecer aos grupos desta infame década, a grana da aposentadoria acabou. Por isso, é hora de voltar à estrada para faturar mais uns trocados em cima do saudosismo de gente desqualificada.
Por isso que a banda norte-americana acabou, oram vejam só, se apresentando no Gigantinho, em Porto Alegre, no dia 24 de abril. A formação do grupo era quase a mesma de 20 anos atrás: Corey Glover (vocal), Vernon Reid (guitarra), Doug Wimbish (baixo) e Will Calhoun (bateria). A diferença foi a saída de Muzz Skillings do baixo.
O show foi um fracasso de público monumental. Menos de mil almas penadas foram ao Gigantinho (no local cabem 15 mil pessoas). E nem poderia ser diferente. O cartaz de promoção dizia que "a maior banda de rap-rock-fusion tocaria em Porto Alegre. A maioria das pessoas deve ter se perguntado: rap-rock-fusion? Que diabo é isso?. Na verdade, o Living Colour poderia ser enquadrado como uma banda de heavy metal ou funk-metal.
Neste ponto, surge a primeira observação fundamental: Vernon Reid, Doug Wimbish e Will Calhoun são excelentes músicos. Sério. Agora, se você sabe tocar um instrumento por que vai montar uma banda de heavy metal? Não faz o menor sentido. Heavy metal é para analfabetos musicais.
Antes da entrada da banda no palco a produção escalou dois show, no mínimo, bizarros. O reggae chinfrim da Diretoria e o rock obsoleto da TNT. O público ignorou os grupos e resolveu fazer a única coisa lógica no momento, ou seja, encher a cara.
Finalmente, por volta das 23h15, o Living Colour entrou no palco. A banda abriu com a introdução do guitarrista Vernon Reid para o clássico Back in Black, do AC/DC. O vocalista Corey Glover fez alguns agudos que conquistaram a platéia. Na seqüência, entraram as faixas Middle Man e Memories Can’t Wait(cover do Talking Heads), do primeiro disco da banda (Vivid, 88) . Depois foi a vez de A ? of When, do repertório do novo álbum, Collideoscope.
Então a banda emendou duas de suas músicas mais conhecidas Elvis is Dead e Type, do disco Time’s Up (90). Para acalmar o público, a banda tocou Flying, uma balada do novo disco sobre o atentado às Torres Gêmeas em 11 de setembro. Como ninguém conhecia a música era hora de tomar algum goró. Depois houve um momento estranho com In Your Name, também do disco Collideoscope, uma canção cheia de drum n’ bass, comandada pela dupla Doug Wimbish (baixo) e Will Calhoun (bateria).
Depois a banda resolveu apostar em alguns de seus (poucos) sucessos Go Away (de Stain, 93) foi seguido por duas das músicas mais conhecidas do público brasileiro: Love Rears Its Ugly Head (do álbum Time’s Up) e Cult of Personality. O vocalista Corey Glover mostrou a que veio durante a apresentação de Open Letter (To A Landlord).
Então foi a vez do baixista Doug Wimbish cantar Terrorism, um protesto explícito contra a atual política externa norte-americana. A canção xinga todo mundo: George W. Bush, CIA, FBI, CNN e Tony Blair, o primeiro-ministro da Inglaterra. O guitarrista Vernon Reid assumiu os vocais para fazer uma versão pesada de Seven Nation Army, do White Stripes.
Corey Glover retornou ao palco Time’s Up, e, em um clima de nostalgia, cantou a atualmente ingênua Glamour Boys. Habilidosamente, a produção levou cerca de 10 barangas, digo, meninas ao palco, para dançar entre os músicos. Assim, ninguém prestava atenção na música. Glover, sem noção, chegou a dizer: “Meu Deus, eu adoro o Brasil!”.
Chegou então a hora do indefectível solo de bateria. Will Calhoun ficou um bom tempo tamborilando com a participação de uma bateria eletrônica. O baterista utilizou o computador na percussão, com forte influência árabe. A banda fechou apresentação com Funny Vibe.
No bis a banda emendou Should I Stay or Should I Go, do The Clash e Ignorance is Bliss (do álbum Stain). Depois foi a vez de Crostown Traffic, de Jimi Hendrix. Quando tudo parecia se encaminhar para o final do show, algo inacreditável aconteceu. O vocalista Corey Glover chamou o público para cantar junto o refrão de What’s Your Favorite Color? (Theme Song). Mais do que isso, ele desceu do palco e foi para a arquibancada!!
No meio do público, ele distribuiu autógrafos atravessou a pista e terminou cantando e pulando com a platéia nas primeiras filas. A ZeroZen rapidamente percebeu o que estava acontecendo. Em um show com apenas mil pessoas na platéia, os músicos ficaram com medo de não receber o cachê. Por isso, Glover foi para o meio da massa "passar a caixinha".
Como a ZeroZen sabe que não está fácil para ninguém, mesmo nos Estados Unidos, colaborou com o Fome Zero do George W. Bush e deu dez centavos para o vocalista. E depois ainda dizem que está impoluta revista adora ser cruel com os artistas...