Legião Urbana - Como se faz dinheiro, muito dinheiro

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O tempo parece ter sido condescente com a Legião Urbana. Bem, o problema é do tempo. O grupo continua tocando nas rádios e vendendo milhares de discos. Contudo, a ZeroZen, a única revista que não acredita no rock nacional, foi conferir o "último" trabalho da banda de Brasília, Como se Diz Eu Te Amo.

Fica fácil de perceber pelas resenhas da crítica brasileira, que ninguém tinha idade suficiente em 1994 para ir nos dias 8 e 9 de outubro ao show no Metropolitan, no Rio de Janeiro. O fato é que quem viu a Legião Urbana tocando em cima de um palco sabe que Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá eram músicos muito ruins. Algo capaz de fazer corar uma banda de garagem iniciante. Mesmo assim a qualidade do som e das músicas é elogiada.

Se Renato Russo era ou não um grande poeta é algo passível de discussão. Porém, dizer que os integrantes da Legião sabiam tocar é ridículo. Dado Villa-Lobos corre o risco de virar um guitar hero, um Eric Clapton tupiniquim. Marcelo Bonfá vai acabar virando o nosso Keith Moon. Exagero é pouco. Aliás, Renato Russo detestava fazer shows, achava responsabilidade demais.

Mesmo assim, a verdade é que depois de 10 anos pela primeira vez se podia entender a melodia das músicas. Tudo por causa dos músicos convidados Gian Fabra (Baixo), Fred Nascimento (Violão e Guitarra), Carlos Trilha (teclados). Os membros do Legião basicamente se restringiam a fazer figuração, e o resto ficava por conta da empatia de Renato Russo com a platéia.

Vale dizer que a turnê de O Descobrimento do Brasil foi a mais tranqüila da banda. Basta lembrar que em 1988, na turnê de lançamento do seu terceiro disco, no dia 18 de junho, um show no Estádio Mané Garrincha terminou em tumulto causando a morte de uma pessoa e resultando em 385 atendimentos médicos. Na hora de ir para a estrada divulgar As Quatro Estações, curiosamente a única turnê que foi patrocinada (pelo chocolate Lacta), Renato Russo já estava vivendo o seu tórrido caso com Robert Scott Hickmon, o americano que lhe viciou em heroína. A coisa foi ficando cada vez pior até que no lançamento do disco V(1991), as apresentações foram interrompidas no Nordeste por que Russo estava caindo de bêbado e com tendências suicidas.

É fácil concluir que o vocalista da Legião passava os shows completamente chapado. Porém na turnê de O Descobrimento do Brasil, ele estava participando dos alcoólicos anônimos, utilizando o programa dos 12 Passos e parecia estar em plena recuperação da sua dependência química. Isto só vem a corroborar o fato de que os registros de Como Se Diz Eu Te Amo NADA tem a ver com um verdadeiro show do Legião. Como se pode ver nas gravações de Música Para Acampamentos, a banda era tosca, primitiva e se sustentava nas canções de Renato Russo, que bem ou mal eram capazes de provocar uma genuína histeria coletiva.

Inclusive, Como Se Diz Eu Te Amo prova que Renato Russo era um habilidoso marqueteiro. Só para que se tenha uma idéia, Russo escreveu para os executivos da gravadora na época do lançamento do disco Dois, pedindo que Eduardo e Mônica fosse escolhida como a música de trabalho. Os homens de terno preferiram Tempo Perdido. Com o tempo, o número de execuções no rádio provou que Renato tinha razão. Aliás, ele mesmo confessa que escolheu um baterista e um guitarrista bonitinhos para atrair mais fãs. Renato Rocha, o baixista da primeira formação, foi escolhido por ser negro, o que daria um aspecto interracial a banda. Mas por que Renato Russo era marqueteiro? Fácil. Várias vezes durante o show ele pergunta se o som está bom. Se alguém é ingênuo o bastante para pensar que ele estava preocupado com o público, vai ter uma decepção. Russo queria saber se a gravação do show ao vivo estava indo bem.

Só que infelizmente Renato Russo não vai ver a cor do dinheiro. Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, entretanto, estão rindo à toa. O baú da Legião parece não ter fundo e caminha a passos largos para se transformar em uma espécie de Raul Seixas do rock dos anos 80. Enfim, uma coisa também fica clara na audição de Como Se Diz Eu Te Amo, as letras de O Descobrimento do Brasil não eram tão ruins como dizia a crítica na época.

Também fica claro que o melhor trabalho do Legião Urbana foi mesmo seu primeiro disco. Músicas como Será, Ainda é Cedo e Geração Coca-cola levam o público ao fastígio. Claro, que ainda resta uma pergunta que não quer calar. Qual a melhor versão do disco do Legião? O duplo, o volume 1 ou o volume 2? É evidente que se você é fã do Legião vai comprar o álbum duplo. Provavelmente vai deixar de comer, sua família vai passar fome, seu nível de vida vai cair, mas a conta do Dado Villa-Lobos e do Marcelo Bonfá agradece.

A grande escolha fica entre o volume1 e o 2. Bem, o repertório da primeira metade do show é muito melhor. Até por que contém mais músicas do primeiro disco e é isso que importa. Já a segunda metade é mais errática e tem uma versão canhestra de Que País é Este, com Renato Russo dedicando a música a um tal de Zé Chinelão?!! A diferença é que o segundo volume tem 66 minutos de música contra 49 do primeiro. Se para você tamanho é documento, então sua opção já está decidida. Detalhe, quem comprou o duplo ganha de brinde uma longa versão de A Montanha Mágica do disco V.

Hoje o marketing pessoal de Renato Russo continua fazendo um trabalho impecável. Mesmo depois da sua morte a Legião Urbana continua firme e forte. Como Se Diz Eu Te Amo é um disco feito para ganhar dinheiro, com certeza. Mas é evidente que você já gastou seus nickels em coisa muito pior.

J. Tavares