Radiohead - Hail to the Thief
O Radiohead atingiu aquele perigoso status de insanidade coletiva reservado a poucas bandas no mundo pop. Onde não importa o quão chata seja a música que você faça, que ainda vai existir alguém insano o suficiente para defendê-la. Você pode ter certeza que alguma coisa está errada quando começam a comparar uma banda ao Pink Floyd, como se isso fosse uma espécie de elogio ou algo digno de mérito. E sejamos sinceros: Radiohead nada tem em comum com Pink Floyd. A não ser se você levar em conta o fato de que ambas bandas gravaram ao longo de suas carreiras álbuns muitos chatos.
Um exemplo claro dessa onda de insanidade pode ser encontrado em qualquer resenha do último álbum da banda, Hail to the Thief. Onde a maioria dos críticos musicais de fim de semana resolveram louvar esse trabalho, por ser, basicamente, irregular e pífio. Agora desde de quando isso é algum tipo de qualidade? Pois vejam vocês, depois de estipular novos vetores da chatice em Amnesiac, o Radiohead resolveu voltar mais comedido neste álbum. Ou quase.
Na verdade esse álbum tenta combinar a indulgência dos dois últimos álbuns com a acessibilidade dos dois primeiros. O que por si só é de uma estultice sem tamanho. De início, nada parece ter mudado em relação Amnesiac: o vocalista e gênio entre aspas Thom Yorke continua com seus vocais lamurientos e a música é esparsa e inócua. Mas aos poucos surgem indícios que a banda esteja tentando largar o experimentalismo dos últimos álbuns.
O álbum começa com "2+2=5", uma referencia óbvia, mas nem tanto, já que teve jornalista brasileiro traçando paralelo com a composição homônima de Caetano Veloso, a 1984 de George Orwell, livro que todo roqueiro britânico deve citar obrigatoriamente numa música. Já que é possivelmente o único que leu na vida. A música começa lenta e arrastada, como de costume, e toma jeito lá pela metade quando o resto da banda decide começar a tocar para valer.
É interessante notar que várias faixas do Cd sofrem dessa síndrome da espera pela parte boa da música, que a banda vem desenvolvendo desde o primeiro álbum. Percebam que a banda não está fazendo nada de novo e ainda por cima está se repetindo. Nem se pode afirmar que seja uma fórmula mágica, até porque nem sempre funciona. É o caso de "We Suck Young Blood", uma das coisas mais chatas que o Radiohead já cometeu, que começa meio gospel, meio blues na metade tem uma obrigatória parte rápida que aparece do nada e vai a lugar algum mais rápido ainda.
Até mesmo "There There", o primeiro single do álbum, possui a mesma rotina de "esperar pela parte boa da música" para acabar abruptamente assim que a parte boa começa. Mesmo assim é de longe a melhor coisa neste álbum e possivelmente a melhor música que a banda tenha gravado nos últimos cinco anos.
O grande problema é que no final das contas os momentos de tédio e indulgência acabam se sobressaindo. Pois das 14 faixas do Cd além da supra-citada "There There" salvam-se apenas "Go to Spleep" e "Myaxomatosis". E é só. O que é convenhamos é muito pouco, para a suposta melhor banda da atualidade. Mas é claro isso é outro apenas outro sintoma da insanidade coletiva que acompanha a banda.
Enfim se em Amnesiac a banda, digo, Thom Yorke, assinava um atestado de insanidade mental, em Hail to the Thief o paciente apresenta algumas melhoras, mas o quadro geral não é animador. Já que as constantes recaídas parecem minar o sucesso de sua recuperação.
P.S.: O título do álbum é supostamente uma homenagem ao presidente americano George Bush, e sua duvidosa vitória nas eleições de 2000. Isso até soaria provocador há uns dois anos atrás, mas agora a banda só consegue se habilitar para concorrer ao prêmio faísca atrasado do ano.
Radiohead - Hail to the Thief (Faixas)
1. 2 + 2 = 5
2. Sit down. Stand up. (Snakes & Ladders)
3. Sail To The Moon (Brush The Cobwebs Out Of The Sky)
4. Backdrifts (Honeymoon Is Over)
5. Go To Sleep (Little Man Being Erased)
6. Where I End And You Begin (The Sky Is Falling In)
7. We Suck Young Blood (Your Time Is Up)
8. The Gloaming (Softly Open Our Mouths In The Cold)
9. There There (The Boney King Of Nowhere)
10. I Will (No Man's Land)
11. A Punchup At A Wedding (No no no no no no no no)
12. Myxomatosis (Judge, Jury & Executioner)
13. Scatterbrain (As Dead As Leaves)
14. A Wolf At The Door (It Girl. Rag Doll)