Acústico Gal Costa

A Gal Costa em seu acústico resolveu seguir a nova cartilha da MTV para eventos desse tipo: escolheu um repertório óbvio, cercou-se de bons músicos, contando inclusive com o auxílio luxuoso de uma orquestra sinfônica, e por fim chamou alguns convivas para as indefectíveis participações especiais. Gal procurou não se arriscar muito, nada de músicas novas ou mesmo menos conhecidas.

Jogando o tempo todo na retranca e tendo no comando do time o mineiro Wagner Tiso, o resultado só poderia ser um: empate técnico.

Gravado no Memorial da América Latina— aquele prédio em São Paulo que se parece com a sala da justiça dos Super Amigos do desenho animado— o acústico Gal Costa é apenas uma coletânea razoável dos 30 anos de carreira da cantora. Talvez o internauta desavisado, que começou a ouvir MPB na semana passada, possa até achar esse CD o máximo. Mas quem conhece um pouco da obra de Gal, vai ficar decepcionado com o resultado final deste acústico. Afinal as novas versões de músicas como Sua Estupidez, Coração Vagabundo, Vapor Barato, Pérola Negra , Você Não Entende Nada, são muito inferiores as originais.

O grande problema do acústico não é seu repertório, como se percebe passando a vista rapidamente pelo set list, mas sim os arranjos do tipo sala de espera de consultório de dentista a cargo de Wagner Tiso. Causa um certo desgosto ouvir as versões pasteurizadas de Tiso para arranjos de gente Rogério Duprat, Wally Salomão e Lanny Gordin. Mas pensando bem, a escolha de Wagner para direção musical é até coerente com a proposta covarde e inócua do acústico.

As participações especiais, como eram de se esperar, também pouco contribuem. Luiz Melodia, Roberto Frejat, Herbert Vianna e Zeca Baleiro(quem?) se esforçam, mas nenhum tem o talento vocal ou artístico para acompanhar Gal Costa.

Quem acabou saindo-se melhor é Luiz Melodia, que não encontrou dificuldades para interpretar aquela que é sua composição mais conhecida: Pérola Negra. Pena que a nova roupagem jazzística do arranjo descaracterize um pouco a composição. Já Herbert Vianna nitidamente se borrando nas calças e Roberto Frejat completamente perdido pagaram um tributo a Gal e já têm o que dizer para os netos quando se aposentarem.

Mas o que dizer do tal Zeca Baleiro? Para começar Zeca Baleiro parece alcunha de traficante de drogas ou de aliciador de menores. Além disso o cara é ou foi parceiro do Chico César, o que explica muita coisa...

Mas voltando a participação deste indivíduo... o cara tem a infeliz tarefa de estragar o que poderia ser um dos melhores momentos do CD: a reinterpretação de Vapor Barato de Jards Macalé e Wally Salomão. Até o Wagner Tiso resolveu contribuir não metendo sua não boba no arranjo original. Mas lá estava o tal Zeca Baleiro para no meio de Vapor Barato enjambrar a letra de A Flor da Pele, uma música fraquinha do próprio Zeca Baleiro que sequer é digna de nota.

Fica a pergunta: se era para convidar alguém por que não o próprio Macalé?

Por outro lado sempre é bom lembrar que o melhor acústico da MTV Brasil, ainda é, pasmem, o do Gilberto Gil, que por coincidência não tem uma participação especial sequer...

No final, entre mortos e feridos, o que realmente se sobressai diante de tudo isso é a grande voz de Gal, que como disse aquele publicitário no making of do acústico a Gal "enquanto voz" continua insuperável. Dizer que Gal é a melhor cantora do Brasil chega a ser até uma obviedade gritante, que me perdoem as viúvas de Elis Regina, o neófito fã de Marisa Monte, ou o desequilibrado que prefere a Maria Bethânia, que junto com a Cássia Eller incluem-se em qualquer lista de melhores cantores do Brasil.

Sinceramente, esse acústico acrescenta muito pouco à obra de Gal Costa, pode-se dizer que o disco um do álbum ao vivo Fatal - Gal a Todo Vapor, de 1971, é mais acústico que todo esse CD; pensando bem, que todos os acústicos da MTV feitos até hoje. Mas o conjunto geral também não compromete, muito pelo contrário.

Saulo Gomes

Aviso aos navegantes: A Polygram, na série Ao Vivo É Outra Coisa, relançou recentemente em cd o lp duplo Fatal - Gal a Todo Vapor. A gravadora respeitou a capa original, não acrescentou nenhuma bobagem do tipo, edição para colecionadores, e só cometeu um pequeno erro... Simplesmente inverteu a ordem do disco!! Não é brincadeira, não. Vapor Barato que fechava o lp agora está perdida no meio do cd. Vai saber quem foi o gênio que mixou o disco 2 antes do disco 1, o que importa é que com a Polygrana picaretagem pouca é bobagem.