Free Jazz Festival 98
Acho que foi Miles Davis que disse uma vez que entrou nesse negócio de free jazz estilo jazzístico onde cada músico, dentro de um conjunto, tem espaço para livre improvisação pois poderia aproveitar o solo do baterista para ir nos camarins bater umas carreiras...
Hoje em dia podemos dizer que free Jazz é qualquer coisa menos o que se viu na 2 ª edição do Free Jazz Festival em Porto Alegre. A edição deste ano parece confirmar que de jazz esse festival não tem nada a não ser o nome. Inclusive já era hora de se mudar o nome dessa coisa para Free Pop Festival ou algo assim.
O Festival começou domingo dia 18 com as apresentações do guitarrista californiano Ben Harper e dos ingleses do Massive Attack. No dia 19 foi a vez da banda nacional Farofa Carioca e do guitarrista inglês Jeff Beck.
O Primeiro Dia
Ben Harper é uma daquelas curiosidades antropológicas que aparecem de vez em quando na música pop, apesar da peculiaridade do seu som, fica a impressão de que você já ouviu aquilo antes, e melhor. O show do guitarrista foi simples e direto, mesclando vários estilos musicais. O guitarrista vai do rock ao reggae passando pelo blues contemporâneo com desenvoltura. Acompanhado pela ótima banda The Innocents Criminous, da qual se destaca o trabalho do baixista Juan Nelson, Harper mostrou que domina a técnica de slide guitar como poucos e tem boa presença de palco. No final fica apenas a impressão do que falta ao músico é um repertório melhor, pois os dois melhores momentos do show foram as covers de Voodoo Child de Jimi Hendrix e Sexual Healing de Marvin Gaye.
Já o show do Massive Attack banda inglesa precursora do trip-hop foi com certeza uma prova de fogo para a paciência deste critico. Será que existe música mais chata e pretensiosa do que este trip-hop, techno ou o que quer seja que a banda toque? Apresentação foi sofrível e apenas para iniciados. Frios e distantes a banda parece se levar a sério demais, como se fossem a última banda interessante na face da terra ou algo parecido.
Muita gente que foi ao festival para ver o show do Ben Harper acabou indo para casa mais cedo ou ficou circulando pelo espaço Village no saguão do teatro, o que grande parte da gente colorida e esquisita que foi ver o show do Massive tinha feito durante a apresentação de Ben Harper. Sabe como é: cada um na sua ...
O Segundo Dia
Na Segunda feira foi a vez da apresentação da banda nacional Farofa Carioca, típica banda do Rio que fica fazendo uma musiquinha festiva e circense, com letras que repetem aquele velho papo furado de como é bom viver no Rio de Janeiro, cidade maravilhosa coisa e tal. Mas se é tão bom porque eles não ficam por lá?
No mais fica a pergunta por que trouxeram esses caras para se apresentar neste festival, será que eles eram os únicos disponíveis, ou simplesmente os mais baratos, será que a produção do evento não tinha mais dinheiro para trazer uma atração de verdade?
Como não poderia deixar de ser o show do Farofa Carioca foi solenemente ignorado pelo público que lotava o Teatro do Sesi a espera da principal atração do festival: o guitarrista inglês Jeff Beck.
Jeck Beck fez uma apresentação essencialmente instrumental sem papo furado ou tentativas de agradar a platéia. Beck apresentou uma verdadeira aula de guitarra em quase duas horas de show, mostrando domínio impecável do seu instrumento, sem nunca ser chato ou pedante, como muitos guitarristas virtuoses de hoje em dia.
Com fama de temperamental e difícil, Beck junto com Eric Clapton e Jimmy Page representa a santa trindade do rock inglês dos anos 60. Foi Beck quem substituiu Clapton nos lendários Yardbyrds e quando Beck deixou a banda em 66, foi substituído por Page. Inclusive os dois chegaram a tocar juntos por um curto espaço de tempo na banda.
Mas Jeff Beck nunca teve o sucesso de seus colegas, em parte por escolhas erradas em sua carreira, mas também por ser meio arredio e não gostar de fazer turnês. O que de certa forma tornou suas apresentações no Brasil imprescindíveis, pelo menos para quem tem interesse por solos de guitarra.
Não é de se admirar que a noite de Jeff Beck foi a mais procurada, primeiro era o único nome conhecido num festival sem a menor coerência de estilos. É bom lembrar que os queridinhos da crítica como Massive Attack ou Ben Harper não são grandes vendedores de discos, sequer têm grande espaço na mídia, e são praticamente desconhecidos do grande público.
Mas o gozado que a presença neste festival do guitarista Jeff Beck motivou que dois grandes jornais, um do Rio de Janeiro e outro aqui da capital, gastassem espaço em seus cadernos de cultura para discutir o fim do guitar hero em matérias que de tão parecidas chegam ao plágio. Mais uma vez se perde tempo discutindo o superestimado punk inglêsdeus! até quando... que tentou enterrar o rock de arena dos anos 70 e que pelo se vê hoje em dia não conseguiu atingir totalmente seu objetivo.
O punk teve inegável importância na música, mas em sua síntese era um movimento destinado ao fracasso, pois todos pareciam esquecer um fator importante na relação público consumidor e artista: o público pode ser feito de trouxa uma vez, mas não vai ser enganado para sempre. Ou seja o público não vai pagar para ir num show de alguém que não sabe tocar ou comprar um disco mal gravado. Se você não sabe tocar, você pode enganar o público por um tempo, mas com certeza não vai conseguir fazer isso para sempre. A música é um trabalho como outro qualquer e para se destacar você precisa saber o que está fazendo. Não é a toa que as pessoas voltaram a ouvir as bandas dos anos setenta e sessenta, a maioria das bandas punks quando aprendeu a tocar perdeu o sentido. Pois ao tentarem fazer uma música mais elaborada falharam redondamente.
Esses críticos de fim de semana deviam se perguntar onde estão as bandas punks inglesas hoje em dia? Em sua grande e quase absoluta maioria estão tão extintas quanto os chamados guitars heroes. E a tão apregoada revolução que o punk realizou na música durou o tempo suficiente para as grandes gravadoras se reorganizassem e tomassem conta do mercado outra vez, algo em torno de uma semana ou duas. E digo mais talvez exista mais guitars heroes em atuação hoje em dia do que bandas punks inglesas do final dos anos setenta em ativa.
E para encerrar esse assunto, guitar hero mesmo é BB King, John Lee Hooker, Buddy Guy que estão nesse negócio de música por mais de meio século e continuam detonando muito mais que esse bando de ingleses pretensiosos desta cena trip-hop, techno, ou o que seja, que daqui a alguns anos, vão estar trabalhando como caixa de banco ou limpando mesas num restaurante barato em algum lugar de Londres. Exatamente como a maioria dos punks terminaram seus dias.