Caetano Veloso - A Foreign Sound

Caetano Veloso faz discos chatos para pessoas chatas, mas em A Foreign Sound ele se superou. O resultado final faz o temido Araçá Azul parecer uma sinfonia de Beethoven.

Não há qualquer parâmetro de comparação. O álbum é a coisa mais azeda já produzida em solo nacional. O baiano conseguiu atingir a ISO 9002 em matéria de tédio.

Pelo menos não se pode negar que Caetano continua sendo honesto. Ele afirmou textualmente durante coletiva realizada no hotel Copacabana Palace (RJ) que o disco é um pé-no-saco. “A escolha dessas músicas foi um problema o tempo todo. Tudo me fez sofrer: deixei de gravar algumas, amadurecer canções que não estavam assentadas em mim... o disco acabou ficando longo, ninguém vai ouvir inteiro”, confessou.

A resenha sobre o álbum deveria ter saído na edição anterior da ZeroZen, mas é impossível escutar A Foreign Sound sem dormir. A errática e equivocada seleção musical feita por Caetano não ajuda nada. O resultado é uma espécie de samba do crazy nigger.

A idéia de fazer um álbum somente com canções norte-americanas foi desenvolvida por Caetano Veloso quando ele estava no exílio, em 1970. Ou seja foram mais de 30 anos ruminando, pensando se valia a pena pagar esse mico. Pois é... bem que o compositor baiano podia ter esperado mais um tempo. De preferência uns 150 a 400 anos.

A seleção do disco arranja espaço até mesmo para Feelings. A música em inglês foi composta por um por um brasileiro, Morris Albert, em São Paulo. É o que se pode chamar de quadro da dor sem moldura. Uma overdose do brega mais legítimo. A versão de Caetano é insossa, insípida e inodora.

A faixa The Carioca (Eliscu/Kahn/Youmans) é levada em um batuque bossa nova soporífero (o que não deixa de ser uma redundância) ."It's Alright, Ma (I'm Only Bleeding)", clássico de Bob Dylan, ganha um ridículo drum’n’bass cortesia de Pupilo, da Nação Zumbi. Típico efeito de quem quer parecer "muderno".

Comes As You Are, do Nivarna, serve em cheio para agradar jornalista americano de caderno cultural. Mesmo assim, ainda tem coisa muito pior no disco. Caetano regravou Diana, de Paul Anka, outra música que chega a doer de tão brega. Não satisfeito ainda selecionou a deprimente Love Me Tender (Presley/Vera Matson).

Ou seja, considerando a qualidade das músicas selecionadas por Caetano Veloso e as regravações canhestras, A Foreign Sound só pode ter sido feito para avacalhar com a música norte-americana. O que é totamente desnecessário, pois ela já vem fazendo um grande trabalho sozinha...

Pedro Camacho