Minha Fama de Mau - Erasmo Carlos
Minha Fama de Mau (Editora Objetiva, 360 páginas) de Erasmo Carlos é um livro de memórias, mas que não se constitui necessariamente numa autobiografia. Erasmo raramente contextualiza os personagens de suas aventuras. O que transforma o livro em, quando muito, uma coletânea de encontros com gente famosa ou não.
De Jorge Ben a Wilson Simonal, de Sergio Sampaio a João gordo. A lista de artistas que são retratados no livro inclui praticamente todo mundo que foi alguém na MPB nos últimos 50 anos. Inclusive a falta de um índice remissivo é gritante.
Assim, histórias se alternam, muitas vezes sem seguir uma ordem cronológica, e personagens vem e vão. Um bom exemplo disso é Tim Maia, que começa o livro como um dos personagens centrais, com Erasmo oferecendo muito mais informações relevantes sobre o cantor do que qualquer biografia escrita por Nelson Motta, para depois desaparecer completamente lá pela metade do livro e só voltar no final.
Até mesmo Roberto Carlos tem uma participação discreta no livro. Erasmo parece que só passou tempo com o seu “irmão camarada” nos períodos de ‘férias’. Mantendo uma parceria, por assim dizer, estritamente profissional com o “rei”.
Diga-se de passagem, Erasmo confessou no programa “Irritando Fernanda Young” ser apreciador da ‘boa’ vodka, ou “A água da Alcione”, como é carinhosamente apelidada no livro. O que convenhamos explica a desordem de suas memórias. Quem já bebeu Vodka regularmente sabe como é... Talvez não se lembre de muita coisa, mas sabe como é.
Sem falar que faltam pedaços importantes— algo que também pode estar relacionado, ou não, ao uso de Vodka— como sua separação de Narinha, o grande amor de sua vida, com quem teve dois filhos, ou as razões que levaram sua ex-esposa a cometer suicídio. O quê, por mais traumatizante que seja, merecia ao menos uma explicação.
Enfim, por um lado é preciso louvar o esforço de Erasmo em escrever sua própria autobiografia, até onde se sabe sem usar um “Ghost Writer”. Mas isso, no final das contas, talvez não tenha sido uma boa idéia. Outra vez: Vodka. Pois ao contar sua história, de maneira um tanto quanto desconexa, Erasmo deixa a impressão que, no fundo, talvez seja um personagem a espera de um grande biografo. O que, convenhamos, também pode ser conseqüência da Vodka...
P.S.: Erasmo, quem gravou “Blue Berry Hill” foi Fats Domino...