Elza Soares - Planeta fome

Sabe aquela velhinha que fica na fila do banco reclamando de tudo? Ou aquela idosa que começa a puxar papo no supermercado para dizer que o país vai de mal a pior. Pois é... Essa é a sensação que fica ao terminar de ouvir Planeta Fome, o novo disco de Elza Soares. Demorou um pouco, mas ela percebeu que o mundo é um lugar cheio de gente escrota.

O disco segue a mesma linha de A Mulher do Fim do Mundo (2015) e Deus é Mulher (2018) com uma produção esperta e moderna que tenta se adequar a voz de Elza. O nome do álbum vem de um episódio que ocorreu, pasmem, em 1953. Na era de ouro do rádio, o prestígio do programa Calouros em Desfile oferecia ao artista iniciante um atalho para o estrelato. Só que o apresentador era o temido Ary Barroso.

Ele adorava espinafrar (que, na época, era uma palavra moderna) os candidatos. De origem humilde, Elza Gomes da Conceição, que futuramente passaria a se chamar Elza Soares, foi tentar a sorte no auditório da Rádio Tupi. Ao olhar as vestimentas rotas da candidata, Ary sentou-lhe o sarrafo:

- De que planeta você veio, minha filha?, perguntou.
- Do mesmo que o senhor, respondeu Elza.
- E que planeta é esse?, devolveu Ary.
- Planeta fome, fulminou a garota.

Sim, Elza ganhou a nota máxima e o respeito de Ary Barroso. Mas de volta ao Planeta Fome. É um disco bem mediano e inconsistente. Claro em uma época em que o sertanejo universitário tomou conta, ele parece melhor do que realmente é. Por exemplo, Menino, Tradição e Lírio Rosa são fracas e destoam do disco. Brasis, Bla Blá Blá e Não Tá Mais de Graça estão acima da média (e atualmente a média está bem baixa).

Se você for fã de Elza, prefira "A mulher do fim do mundo", que, inclusive, ganhou o Grammy Latino em 2016 e entrou na lista dos dez álbuns mais relevantes do ano, publicada pelo New York Times (não que isso seja uma garantia total de qualidade).

Pedro Camacho