Biquíni Cavadão - 80
O vocalista Bruno, do Biquíni Cavadão, é gente boa. Gosta de colecionar porquinhos de pelúcia e tem uma banda de rock. Avacalhado no especial sobre os anos 80 feito pela ZeroZen reagiu com bom-humor. Coisa que mostra uma civilidade que 90% dos artistas brasileiros não têm. Normalmente acostumados ao elogio fácil e a babação de ovo de fãs e jornalistas desqualificados, os roqueiros brazucas partem para a ignorância quando criticados.
Assim, a ZeroZen, a revista mais processada da Internet, resolveu ajudar o rock nacional. Sim, é isto mesmo. Considerando o resultado final de "80", o último trabalho do Biquíni Cavadão, eles precisam mesmo de ajuda. Primeiro é preciso que se diga que o Biquíni apesar de ser tecnicamente considerada uma banda dos anos 80 só conseguiu fazer sucesso na década seguinte. A música Vento, Ventania pode ser considerada o mega-hit do grupo (e até o momento único).
Logo a idéia de regravar músicas dos anos 80 não faz o menor sentido para o Biquíni Cavadão. É como apostar no cavalo perdedor. Como diria o Barão de Itararé: de onde menos se espera é daí mesmo que não sai nada.
Aliás, uma dos pontos mais impressionantes em 80 é como os músicos do Biquíni Cavadão não evoluíram nada desde o primeiro disco. Deve ser um fenômeno de dificuldade de aprendizagem. Os arranjos são medíocres ao extremo. O vocalista Bruno é razoavelmente afinado, o que não deixa ser notável em se tratando de rock brasileiro. Porém o repertório de 80 é capaz de deixar qualquer saudosista de cabelos em pé. De certa forma a banda resolveu fazer um retrato da época e, pensando bem, o resultado se parece com uma daquelas fotos de família que é melhor manter guardada na gaveta.
Parece que o Biquíni Cavadão não estava acreditando muito nessa história de regravação. Tanto que recheou o disco com participações especiais. A vocalista Érica Martins da banda Penélope (outro grupo que tenta emular o som dos anos 80) faz um dueto esquisito em Educação Sentimental II. Egípcio do Tijuana participa de Hoje, um clássico do Camisa de Vênus. A versão do Biquíni Cavadão não tem nem mesmo um mísero naco da rebeldia e força do original.
Outras pérolas como Carta Aos Missionários do Uns e Outros (?!) do finalzinho da década não mereceriam tanto empenho do grupo. Poderiam ter continuado no limbo que ninguém sequer iria notar. De qualquer maneira como um disco de regravações, 80 é um trabalho muito fraco. O Biquíni Cavadão acaba prestando homenagens a quem não merecia e fazendo músicas que não acrescentam nada. Ao invés de criar algo novo parece soar como uma banda cover mal-ajambrada.
Portanto, é melhor deixar a década de 80 em paz. Para frente é que se anda. Quanto ao Biquíni Cavadão não é preciso se preocupar se o seu disco for um fracasso. Basta esperar mais 10 anos e lançar um novo álbum com o nome de 90. E incluir um cover de Vento, Ventania, não que isso seja realmente necessário. Depois é só começar a contar o dinheiro...