Acústico MTV Lobão

Lobão sempre foi alguém meio ZeroZen: alguém em constante desarmonia com a natureza e tudo que o cerca. Essencialmente, um paria, mas com orgulho. Seguindo a máxima de Groucho Marx, Lobão nunca aceitou pertencer a nenhuma tribo que o aceitasse, ou assim se imaginava. Pois certamente ele tentou quase todas: Rock, Pop, MPB, Samba, Samba-rock, Trip-Hop, música eletrônica etc.

O resultado dessas experiências foi quase sempre o seguinte: Lobão ou foi solenemente ignorado ou brigou com quem quer que lhe tenha dado atenção, como por exemplo, Ivo Meirelles do Funk`n´Lata, na fase samba-rock. Não é por acaso que a única participação especial deste acústico é da Cachorro Morto, digo, Grande. Pois ninguém que conhece Lobão por mais de uma semana parece aturar o cara por tanto tempo.

Mas faltava uma tribo da qual Lobão, aparentemente, não fazia a menor questão de pertencer: a dos saudosistas e revisionistas de plantão, a do pessoal que considera acústico um gênero musical.

Bem, não falta mais. Lobão como a ZeroZen resolveu assumir a decadência sem qualquer elegância. Afinal não existe nada que denote maior declínio na escala social do que fazer um acústico ou um Ao Vivo MTV. É isso mesmo: Lobão jogou a toalha, entregou os pontos e resolveu confraternizar com o inimigo.

Mas Lobão parece esquecer que vivemos em tempos diferentes, onde tudo está de alguma forma, arquivado para posteridade. Como esquecer que Lobão acusou a MTV de cobrar jabá nos anos 90, ou da vez em que desancou o formato acústico na época do lançamento do acústico do Jorge Benjor? Ou quando declarou que um violão, um banquinho e um acústico eram estigmas da decadência de um artista brasileiro. Bons tempos aqueles...

É preciso admitir que Lobão resistiu o quanto pode. Talvez a estratégia tenha sido essa mesmo, Lobão levou tanto tempo para aceitar fazer um acústico que agora ninguém mais se importa. MTV? O que é isso? Esse treco toca mp3?

Até se entende que Lobão no alto dos seus quase 50 anos precise pagar as contas e comprar um apartamento novo. Sem falar que ser indie no Brasil não está exatamente bombando. O problema é que, de certa forma, a persona Lobão se tornou mais forte que o músico Lobão, o que convenhamos não é muito difícil. Lobão de uns tempos para cá se tornou uma espécie de Chico Anysio do rock nacional, cujas entrevistas são sempre bem mais interessantes do que aquilo que ele estiver tentando vender.

Por isso esqueça esse acústico e leia as entrevistas que Lobão der nesse período, e tenha o cuidado de guardá-las para posteridade. Pois daqui uns anos quando Lobão brigar de novo com a MTV, o quê certamente acontecerá, ele vai dizer exatamente o inverso do que está dizendo hoje e possivelmente vai ser mais interessante do que ele estiver tentando vender à época.

Quanto a MTV depois de Lobão, realmente, não restam muitos artistas dos anos 80 e 90 para fazer novos acústicos. Mas isso não deve impedi-los de continuar com essa insanidade, responsável, em parte, pela desmantelação do mercado fonográfico brasileiro. Pois se pudesse a MTV faria um acústico com os Mamonas Assassinas psicografado do além. Isso é claro se não falirem antes ou forem comprados pela Igreja Universal.

Pedro Camacho

Faixas:

1. El Desdichado Ii
2. Essa Noite, Não (Marcha Ré em Paquetá)
3. Décadance Avec Élégance
4. Bambina
5. Vou Te Levar
6. Quente
7. Por Tudo que for
8. Noite e Dia
9. Me Chama
10. Você e a Noite Escura
11. A Queda
12. A Vida é Doce
13. Pra Onde Você Vai
14. O Mistério
15. Canos Silenciosos
16. Blá Blá Blá... Eu Te Amo (Rádio Blá)
17. Corações Psicodélicos
18. A Gente Vai se Amar (Part. Esp Cachorro Grande)