Ratinho, Teddy Boy Marino e a vida como ela é
"... até que ponto as pessoas toleram blasfêmias, mentiras e absurdos se forem um bom entretenimento? A resposta:? até qualquer ponto." Paul Auster em A cidade de vidro"
A imprensa brasileira mostrou no recente episódio envolvendo o apresentador Carlos Massa, o Ratinho do SBT, que pouco entende do imaginário popular e que no campo investigativo é faísca atrasada incapaz de começar um incêndio. Pois ao por em dúvida da veracidade do programa do Ratinho, nossa imprensa superestima a critica e subestima o discernimento da maioria dos telespectadores brasileiros.
Afinal é difícil de acreditar que exista alguém que em sua santa ingenuidade creia na verossimilhança de certos casos apresentados pelo programa, como é igualmente improvável a veracidade das Pegadinhas do Faustão da Globo e de certos quadros do Topa tudo por dinheiro do próprio SBT.
Em sua essência o programa do Ratinho é como as antigas lutas de tele-catch, aquele tipo de luta-livre pouco convencional e muitas vezes espalhafatoso, que fez sucesso no país algumas décadas atrás. É pouco provável que exista alguém que acredite que aquelas lutas sejam reais, e que alguém se machuque de verdade, mas nem por isso elas deixam de ter um número grande de admiradores. Pois no fundo se tratam de puro e simples entretenimento popular.
O publico sabe que nem tudo que o programa do Ratinho apresenta é verdadeiro, mas isso pouco importa, pois ele oferece ao público algumas poucas horas de bom entretenimento e isso basta dentro do imaginário popular.
Figuras como o Ratinho ou lutador Teddy Boy Marino não passam de dois entertainers, o que fazem é dar ao publico o que este quer, não e importando realmente para o público como fazem isso. O importante é manter a audiência cativa e os anunciantes felizes.
O telespectador brasileiro tem mostrado uma coerência pouco comum ao longo destes quase meio século de transmissões televisivas no país, ele sabe exatamente o que procura ao ligar uma televisão e tá pouco se lixando para a opinião de pseudos-jornalistas e intelectuais de fim de semana. Afinal convenhamos de Gretchen até Carla Perez pouca coisa mudou, o publico brasileiro continua a ter preferência por programas de temática popular e apelativa, não esboçou sequer uma mudança, pensando bem nem ao menos tentou.
Nas mãos da justiça
O Ministério Público ao acatar a denuncia de que pessoas receberiam dinheiro para ir ao programa do Ratinho, está entrando com uma ação civil contra o apresentador por incitar a violência, e constranger deficientes físicos(?), duas causas perdidas na opinião de qualquer jurista que se preze. O Ministério Público pretende fazer com que Ratinho pague uma multa de 35 milhões ou seja obrigado a exibir programas educativos por dois anos, o que realmente acabaria com a audiência do SBT para felicidade da concorrente. Talvez o Ministério devesse investigar também se essas pessoas não receberam algum dinheiro para conceder entrevistas para os veículos de comunicação, que divulgaram a denuncia. Pois devido a demora, alguns dos casos levantados ocorreram na estréia do programa meses atrás, parece óbvio que essas pessoas levadas de má-fé não deram seus depoimentos para jornais e revistas sem receber alguma coisa em troca. Ou seja a farsa em si é a mesma. A imprensa não pode bancar a santa nesta história, ou se julgar acima do bem e do mal.
Outra coisa que merece ser observada é o fato que nenhuma das reportagens que saíram na grande imprensa explica como a produção do programa 'arregimentava' essas pessoas para participar do show. É difícil acreditar que a produção do SBT simplesmente saísse pelas ruas perguntando a quem passasse se queria aparecer na televisão. É bem mais provável que estas pessoas tivessem se apresentado de livre e espontânea vontade para aparecer no programa, o que também contraria a idéia divulgada pela imprensa que essas pessoas não sabiam direito para o que eram contratadas. Além disso em nenhum momento essas pessoas foram coagidas a participar do programa, poderiam muito bem ter recusado o convite ou se negado a desempenhar uma farsa, o que no mínimo as torna cúmplices.