Carta Aberta a Michael Moore

A maioria dos americanos, contrariamente à crença popular, é de fato bastante progressista e liberal - só que faltam líderes realmente comprometidos com o caráter liberal para servi-los.
Michael Moore, prólogo à edição brasileira de Cara, Cadê Meu País?

O principal nome da enlouquecida eleição americana foi o cineasta e corneteiro oficial do Tio Sam, Michael Moore. O diretor de Tiros em Columbine e Fahrenheit 9/11 apostou todas as fichas na derrota de seu arqui-rival George W. Bush. Seu empenho contra a releição de Bush foi tanto que ele acabou por ser capa da revista Time.

E, verdade seja dita, não teve passeata, manifestação ou protesto contra Bush que Moore não estivesse presente. Mesmo a contragosto, Michael Moore decidiu apoiar o candidato democrata John Kerry. Tudo para expulsar George Bush da Casa Branca. Só que as urnas foram implacáveis. Agora, a humanidade terá de agüentar mais quatro anos de guerras, ameaças terroristas e caos completo. O tipo de ambiente em que um jornalista se sente bem...

De qualquer maneira, a ZeroZen não questiona neste artigo a tradicional estupidez dos norte-americanos, de longe o povo mais crédulo e facilmente manipulável do planeta. A nossa idéia é escrever uma carta aberta a Michael Moore. Sim, por que ninguém precisa mais de ajuda para sobreviver após a eleição de Bush do que ele. Basta seguir algumas dicas apontadas pelos nosso especialistas em política mundial.

"Caro Michael Moore,
A ZeroZen acompanhou a sua luta desesperada para tirar George W. Bush da Casa Branca. Bem, infelizmente, você já percebeu apostou no cavalo perdedor. É chato de ter acabar com os seus sonhos, mas resultado foi totalmente previsível. Acredite, o povo americano é mais conservador do que uma edição do Diário Oficial da União.

A verdade Mike (certamente não se importa de ser chamado assim, certo?) é que você é um tremendo pé-frio. Na eleição de 2000, seu apoio ao candidato independente Ralph Nader foi decisivo para tirar votos de Al Gore. E essa diferença teria impedido a primeira eleição de George W. Bush. Claro que esse tipo de coisa deixa uma pessoa chateada. Tanto que você tentou limpar a barra dirigindo Fahrenheit 9/11. Pelo menos aí deu para faturar uns trocados...

Bem, você chegou disposto a não repetir o mesmo erro em 2004, certo? Então era preciso apoiar os democratas. Tudo menos Bush de novo. Na convenção democrata, você apareceu e disse: votem no general Wesley Clark. E o militar foi o primeiro a sair da disputa. Tudo bem. Errar é humano, Mike. Era hora de escolher outro candidato.

Então você pegou o microfone e em todas as entrevistas que participou passou a defender o nome de Howard Dean. Resultado? Ele também saiu do páreo. Restou apenas o insosso, queixudo e ridículo John Kerry. É... de onde menos se espera daí mesmo é que não sai nada. Bush só teve de repetir a mesma cantilena sobre ataques terroristas para vencer. Claro que o vídeo de Osama Bin Laden a duas semanas da eleição também foi fundamental.

Enfim, isso não importa mais. Bush foi reeleito. A mesma camarilha está de volta ao poder. Aliás, você deve se lembrar do vice de Bush, Dick Cheney. Ele era o presidente da companhia de petróleo Halliburton. A empresa seria beneficiada com contratos altamente suspeitos no Iraque. Você foi lá e denunciou a farsa. Fez tanta pressão que Cheney vendeu suas ações da Halliburton. Na semana seguinte, a cotação da empresa despencou em Wall Street. Resultado? Cheney ficou ainda mais rico. Chato isso, Mike.

Pouco importa também que você altere algumas cenas de seus filmes para obter um efeito, digamos assim, mais cinematográfico. Afinal, cinema não tem ser realista. Se a pessoa quer algo verdadeiro que assista a um documentário. Espera aí. Você faz documentários. É... melhor deixar isso para lá, Mike.

De qualquer forma, a ZeroZen tem a soluções para todos os seus problemas. Basta se mudar para o Brasil. Sim, Mike. É isso mesmo. A verdade é que o Brasil é muito melhor que os Estados Unidos. Basta ver a nossa história. Enquanto vocês aí nos EUA enfrentavam uma sangrenta guerra civil para libertar seus escravos, no Brasil todos foram soltos em uma habilidosa manobra de downsizing chamada Lei Áurea.

E tem mais. A independência dos Estados Unidos também só foi conseguida depois de uma batalha memorável contra a Inglaterra. Aqui no Brasil bastou um pouco de reengenharia. O pai voltou para Portugal e o filho ficou em seu lugar. Nada como gerir uma empresa familiar, Mike.

Ah, sim. Nossos carros são muito mais econômicos. E eles sequer precisam de gasolina, Mike! Podem andar com álcool. O quê? Vocês ainda não tinham pensado nisso? Lamentável, lamentável. Mais um detalhe: se você vier ao Brasil saiba que o Mc Donald's é absolutamente igual. O Big Mac aqui se chama Big Mac. Para ser bem sincero, metade do cardápio está escrito em inglês então você sequer vai ter dificuldade para se adaptar.

Ei! Você acha isso pouco? Bem, saiba que o nosso presidente é de esquerda. Ainda temos recursos naturais de sobra. Nossas mulheres já usam tanto ou mais silicone do que as americanas e isso que a gente nem falou do Carnaval ou da caipirinha. Melhor ainda: não temos registro de nenhum ataque terrorista. Tudo bem, temos São Paulo e Rio de Janeiro, mas ninguém é perfeito.

Provavelmente você já deve estar comprando uma passagem só de ida para Brasil, Mike. Porém, para que não reste nenhuma dúvida de que aqui é o seu lugar, faltou a melhor informação. Aqui existem milhares de fábricas da GM para você encher o saco! Nada de sentir saudades de Flint...

Da equipe de articulistas