Quem tem medo de Gugu Liberato?
"... até que ponto as pessoas toleram blasfêmias, mentiras
e absurdos se forem um bom entretenimento? A resposta? Até qualquer
ponto.”
Paul Auster em A Cidade de Vidro
A imprensa brasileira mostrou, no recente episódio envolvendo o apresentador Gugu Liberato, o Gugu, do SBT, que pouco entende do imaginário popular e que no campo investigativo é faísca atrasada incapaz de começar um incêndio. Pois ao colocar em dúvida da veracidade do programa do Gugu, nossa imprensa superestima a critica e subestima o discernimento da maioria dos telespectadores brasileiros.
Afinal é difícil de acreditar que exista alguém que em sua santa ingenuidade creia na verossimilhança de certos casos apresentados pelo programa, como é igualmente improvável a veracidade das Pegadinhas do Faustão da Globo e de certos quadros do Topa tudo por dinheiro do próprio SBT.
Os problemas para o apresentador começaram com a divulgação de uma falsa entrevista com dois supostos membros do Primeiro Comando da Capital (PCC), levado ao ar no programa Domingo Legal do SBT, dia 7 de setembro, em que faziam ameaças a autoridades e pessoas públicas. Os supostos PCC ameaçaram o padre Marcelo Rossi, o vice-prefeito de São Paulo Hélio Bicudo e os apresentadores José Luís Datena, Marcelo Resende e Oscar Roberto de Godoy. Na verdade, os temidos criminosos não passavam dos atores Antonio Rodrigues da Silva e Vagner Faustino da Silva que encarnaram os falsos membros do PCC, Alfa e Beta.
Sem perda de tempo, o Ministério Público do Estado de São Paulo ofereceu denúncia criminal contra o apresentador Augusto Liberato. Gugu foi enquadrado nos artigos 16 e 18 da Lei de Imprensa (divulgar notícia falsa que cause perturbação da ordem social e que implique crime previsto na lei) e no artigo 147 do Código Penal (ameaça). A pena é de 1 a 5 anos, mas a lei dá preferência pela aplicação de multa, que pode variar de 7 a 40 salários mínimos.
Também foram denunciados pelos mesmos crimes o chefe de reportagem Wagner Mafezolli, o produtor Rogério Casagrande, o produtor Hamilton Tadeu dos Santos, o 'Barney', e os atores Wagner Faustino da Silva, o Alfa, e Antônio Rodrigues da Silva, o Beta. O diretor do programa, Maurício Nunes, que também havia sido indiciado no inquérito, foi citado na denúncia apenas como testemunha.
Em depoimento, o apresentador negou ter conhecimento da farsa. Admitiu apenas que determinou ao chefe de reportagem s realização de uma reportagem com os membros do PCC para esclarecer a tentativa de seqüestro do padre Marcelo Rossi. Inicialmente, a defesa do apresentador trabalhava por um acordo com o Ministério Público de forma a evitar a denúncia. Gugu conseguiu inclusive um habeas-corpus preventivo que o livrou do indiciamento no inquérito policial.
O advogado do apresentador, Adriano Salles Vanni, disse que entende que não caberia a denúncia por ameaça e pelo artigo 18 da Lei de Imprensa. "Estão querendo forçar", disse. "A ameaça tem que ter dolo (intenção) específica. Ele não ameaçou ninguém".
No meio de toda a confusão, o apresentador Gugu Liberato foi ao programa comandado por Hebe Camargo, também no SBT, para esclarecer a matéria, exibida no Domingo Legal. Gugu responsabilizou a produção do programa pela matéria, mas defendeu o chefe de reportagem, o jornalista Wagner Mafezzoli, que foi afastado de seu cargo. "Se ele foi enganado, eu fui enganado por tabela."
Gugu se disse inocente e contou que não viu a matéria porque ela estava sendo editada minutos antes de entrar no ar. O apresentador disse que a produção de seu programa errou ao colocar no ar dois supostos criminosos e pediu desculpas aos colegas de profissão pela matéria. "Tenho muito respeito por todos. As pessoas não falam, mas eu disse no programa que me solidarizava com cada um. Fiquei perplexo com a entrevista", relembra o apresentador.
Mesmo com o pedido público de desculpas o programa Domingo Legal foi suspenso durante um fim de semana e não pode ir ao ar por determinação da Justiça. Ora, a pergunta que não quer calar é: quem tem medo de Gugu Liberato?
Francamente, é pouco provável que exista alguém que acredite que qualquer matéria exibida no programa comandado pelo Gugu seja real. Claro que o apresentador tem um número grande de admiradores. Mas ninguém está preocupado com a luta pela verdade. O séquito de seguidores de Gugu Liberato ama mesmo é o puro e simples entretenimento popular.
O publico sabe que nem tudo que o programa do Gugu apresenta é verdadeiro, mas isso pouco importa, pois ele oferece ao público algumas poucas horas de bom entretenimento e isso basta dentro do imaginário popular. O que o apresentador do SBT faz melhor é dar ao publico o que ele quer, e não importa, realmente, para o público como ele consegue fazer isso. O importante é manter a audiência cativa e os anunciantes felizes.
Afinal, o tão criticado Gugu Liberato foi o criador de um dos momentos mais mágicos da tevê brasileira, a antológica prova da banheira, quadro, aliás, que foi proibido pela justiça. Mais ainda, ninguém em sã consciência acaba vendo o Domingo legal em busca de informação. Se você é homem, vai querer ver futebol (não importando quais times estejam jogando) .Se você é mulher... bem então é preciso lutar primeiro pela posse do controle remoto.
De qualquer maneira, o telespectador brasileiro tem mostrado uma coerência pouco comum ao longo destes quase meio século de transmissões televisivas no país, ele sabe exatamente o que procura ao ligar uma televisão e tá pouco se lixando para a opinião de pseudos-jornalistas e intelectuais de fim de semana. Afinal convenhamos de Gretchen até Carla Perez pouca coisa mudou, o publico brasileiro continua a ter preferência por programas de temática popular e apelativa, não esboçou sequer uma mudança, pensando bem, nem ao menos tentou.