Funk In Rio ou It’s the End of the Várzea* As We Know it...

Nós da ZeroZen às vezes ficamos espantados com a ingenuidade do ser humano, principalmente, desse espécime problemático e confuso que é o povo brasileiro. No Brasil a cada nova moda que surge, quase que ciclicamente, tem sempre alguém para perguntar solene: aonde vamos parar depois disso? Vejam, por exemplo, o caso do "Funk" carioca. Ninguém pensava que poderia existir algo pior do que Axé Music ou Pagode. Mas existe! E o pior: está na pauta do dia. Por isso nós da ZeroZen resolvemos poupar o seu tempo e trabalho respondendo essa questão: aonde vamos parar depois disso nós não sabemos, mas com certeza queremos estar lá para presenciar o momento em que o último pilar da sociedade brasileira for mandado para os ares.

Uma coisa que as pessoas parecem não entender, em tese por alguma espécie de otimismo doentio, é que daqui para frente é só descida. A verdade é que o caos reina feliz e faceiro há muito tempo. O que está aí não vai melhorar e se alguém ainda tem alguma esperança é porque está mal-informado. Esse é o fim da várzea e nós estamos pouco ligando.

Quem acreditar que tem alguma proposta milagrosa que nos salve da barbárie, fique a vontade para tentar. Nós da ZeroZen preferimos saber se a MC Vanessinha Pikachu já tem compromisso para hoje...

Do you Like to Funk? Or Do you Like to Fuck?
É preciso fazer a defesa do funk, pois isso que está aí , definitivamente, é carioca, mas de forma alguma é funk. Essa gente não faz a menor idéia quem seja James Brown, Funkadelic, Parliament, George Clinton ou Sly Stone and Family Stone. Nada disso. A maior influência do "Funk" carioca parece ser o hip-hop da costa leste americana. Tipo Miami pancadão, tão escroto quanto o carioca e igualmente nocivo. O Bonde do Tigrão é uma chupação de Who Let The Dogs Out do pessoal do Baha Men. Ou seja, nem muito originais os caras são.

Mas não se pode deixar sentir um pouco de pena desses caras. Olhem o Tigrão, por exemplo, esse cara era empacotador de supermercado, um loser, um fracassado. Alguém que nasceu para perder, e que aprendeu desde pequeno que todas as probabilidades estão contra ele. O que vocês esperavam que ele fizesse? Se revoltasse contra o sistema e pregasse uma nova ordem mundial? Por favor. Esse pessoal do funk, sabiamente, só quer saber do que pode dar certo: nascimento, cópula, com ênfase nessa parte, e morte. Utopia é coisa de gente desocupada e com a vida ganha.

Diga-se de passagem, gente que levou quatro anos para se formar em uma faculdade particular e gastou o equivalente a um apartamento de dois quartos agora vocifera contra o Funk. Ridículo. Se ninguém ainda descobriu, funk é música de gueto. Só pode ser analisada em função da própria realidade em que foi criada. Palavras como cu, xereca ou caralho podem chocar a sociedade acostumada a usar guardanapo de colo em jantares sociais, mas no Morro do Juramento fazem parte da rotina. Detalhe: a prefeitura de Porto Alegre tempos atrás distribuiu um folheto contra a prevenção da Aids nas vilas pobres da cidade. O texto falava em relação anal, pênis e vagina. Ninguém entendeu nada. Mudaram a abordagem. Em outro panfleto colocaram cu, pau e buceta. Só assim caiu a ficha e o pessoal percebeu do que se tratava...

O Funk do Bem e o Funk do Mal
Os funkeiros argumentam que haveria dois tipos de funks: o do bem representado pela Furacão 2000 e o do mal representado pelo resto. Talvez seja melhor reformular essa frase: o pessoal do Furacão 2000, capitaneado pela vereadora carioca Verônica Costa, argumenta que exista dois tipos de funks. Para tudo mundo só existe um, e realmente não faz muita diferença. Mas aquele que interessa à ZeroZen é justamente o do mal. É o de versos tão singelos e poéticos como:

"Máquina de sexo, eu transo igual a um animal/ A Chatuba de Mesquita do bonde do sexo anal/ Chatuba come cú e depois come xereca/ Ranca cabaço, é o bonde dos careca" (Chatuba de Mesquita, em Máquina de Sexo)

"Me chama de cachorra, que eu faço au-au/ Me chama de gatinha, que eu faço miau/ Goza na cara, goza na boca/Goza onde quiser" (Tati Quebra-Barraco, em Barraco III )

"De segunda a sexta, esporro na escola/ Sábado e domingo, eu solto pipa e jogo bola/ Mas eu já estou crescendo com muita emoção/ E eu já vou pegar um filé com popozão".(Jonathan em "Jonathan II")

"Me chama pra sair, olha que decepção/ Me leva pro cinema, pra assistir o Pokémon/ Se liga no papo reto que eu vou mandar pra tu/ Eu quero é ir pro hotel, pra brincar com o Pikachu" (Vanessinha Pikachu, em Pikachu )

Esse é supostamente o "Funk do Mal". O que pega pesado, o do povo, da dança da cadeira, da orgia com menores de idade. Aquele que a sociedade civil já se organiza para banir, ou no mínimo censurar. Mas não há nada que exista nessas músicas que já não tenha sido dito e feito antes no Hip-Hop e Rap americano, inclusive o uso de palavrões como vírgula e descrições de atos sexuais da maneira mais explicita possível. O pessoal carioca está, como sempre, apenas emulando os valores dos outros. De forma distorcida e com relativo atraso.

Foi-se o tempo de pérolas do duplo sentido do cancioneiro popular, como: o Gato Tico – Tico Mia na cama, Tico Mia na Cozinha(...)— ou o cachorro Kiku—Kiku peludo, Kiku gostoso(...)— ou o Kung Fu Valente – O Kung Fu deu nela, o Kung Fu deu nela— e o genial Umbu Gostoso— Como pode Umbu se(r) tão gostoso?(...)— isso é passado. O negócio é ir direto ao assunto, essa gente não tem tempo a perder. Os anos 90 enterraram, em alguns casos literalmente, os pseudo-poetas da década de 80.

Toda música verdadeiramente popular tem conotação sexual, o Blues, passando pelo Rock’n’Roll, Funk, Disco, Hip-Hop, e praticamente todos ritmos brasileiros mais conhecidos, como: Samba, Forró, ou a decrépita Axé Music. Até mesmo o Tango argentino não deixa dúvidas de sua origem. Ou seja nada de novo ou espantoso nisso. Além disso é notório que um dos principais motivos que levam alguém a tocar um instrumento (sic) é comer gente. O outro seria ganhar muita grana para, é claro, comer mais gente ainda.

Notem que a única música assexuada a surgir nos últimos anos no Brasil foi, justamente, o brochante rock nacional dos anos 80. Enquanto a expressão Rock’n’Roll tem sua origem numa gíria para o ato sexual, aqui virou música séria, de protesto, coisa de universitário entediado. Por exemplo, não existe álbum mais brocha que "Sexo" do Ultraje a Rigor. É sintomático. Olha que tínhamos bandas com nomes tão sugestivos como Camisa de Vênus para servir de exceção a regra. Mas a música não levava a lugar algum, e ou quando conseguia era para bem longe do motel. Nas poucas vezes que acontecia estava relacionado a outros fatores além da nossa compreensão.

Enfim, o funk não é uma moda passageira. Surgiu na década de 80 e se mantém firme até hoje. Já foi até assunto de um livro do antropólogo Hermano Vianna em 1988: "O Mundo Funk Carioca". Seu estouro na mídia demorou a acontecer por se tratar, como foi dito antes, de uma música de um gueto, de uma comunidade. Se alguém se sentir ofendido com as letras do Funk carioca, que vá para a geral de qualquer jogo de futebol, junto com o populacho, que vai entrar logo, logo no clima. Agora se o rock nacional ou a MPB estão se sentindo renegados a um segundo plano por essa nova onda, a ZeroZen tem uma solução simples: façam discos melhores.Ou melhor não façam, mudem de profissão. Afinal quem não tem competência que não se estabeleça.

Da Equipe de Articulistas

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Sites Relacionados
http://www.furacao2000.com.br/
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