Absinto para todos

Vamos deixar a modéstia de lado. A ZeroZen é com certeza a revista mais influente da atualidade. Semanas depois desta impoluta publicação lançar a campanha Free absinto free, o governo voltou atrás na sua ditatorial decisão de proibir a importação de um produto tão nobre. A mídia brasileira em geral acatou de modo subserviente tamanho atentado contra a liberdade. Ficou muda como uma estátua de general. Mas a ZeroZen mostrou que tem farinha no saco e café no bule.

Após ler o nosso artigo da edição passada, o presidente FHC tremeu nas bases. O ACM cofiou seu bigode pedindo desculpas. A rede globo que fez a desastrosa e tendenciosa reportagem exibida no Fantástico, que detonou a proibição da Fada Verde não teve forças para encarar a ZeroZen. Sim, o Absinto depois de 80 anos vai chegar aos lares da família brasileira. Um banho de cultura e civilização se aproxima graças a destemida visão da revista de maior teor alcoólico da Internet.

Para quem ainda não acredita no potencial desta incrível bebida mais algumas provas irrefutáveis de que absinto é cultura. O Absinto foi criado em 1797 por um francês, o médico Pierre Ordinaire, (que evidentemente não tinha nada de ordinário). Curiosamente uma corrente de estudiosos defende a Suíça como terra natal da bebida. O termo Fada Verde (devido a cor do líquido no copo) surgiu na França, também existe uma possibilidade de que o nome tenha sido extraído da crença nas propriedades de cura da Artemísia, principal erva do composto.

Reza a lenda que, na antigüidade, Hipócrates (aquele mesmo do juramento médico) foi o primeiro a criar o Absinto. O famoso médico grego teria misturado 16 ervas diferentes mais as flores secas da planta Artemísia absinthium (a popular losna) ao vinho para criar uma espécie de tônico. Pela primeira vez os seus pacientes não reclamaram do gosto amargo do remédio. O difícil, inclusive, era fazer com que eles parassem de tomar o medicamento. Diga-se de passagem, absinthium em grego significa amargo, enquanto Artemísia é o nome da deusa da fecundidade.

É fácil de perceber que o Absinto com seus séculos de história é uma fonte de inspiração para pintores escritores e artistas em geral. A arte de Van Gogh, Manet, Picasso, Toulose- Latrec deve-se a porres imemoráveis da Fada Verde. Mais ainda escritores do porte de Ernest Hemingway, Verlaine, Baudelaire, Oscar Wilde, Rimbaud e Fernando Pessoa curtiam escrever sequelados depois de uma ressaca monumental de absinto. Aliás Fernando Pessoa era um apreciador contumaz da bebida, o que deve explicar as suas inúmeras personalidades.

Infelizmente um pessoal mesquinho, tacanho, de mentalidade obnubilada proibiu o Absinto na Europa em 1915. Somente países progressistas como Portugal, Espanha e República Tcheca ainda vendem sem restrições o produto. Como naquela época não existia Internet e muito menos ZeroZen a proibição acabou vingando.

Como agora o a Fada Verde está finalmente liberada, a ZeroZen, a revista que está podendo, adverte ao neófito que existem algumas maneiras básicas de beber Absinto. A forma original recomenda servir puro, com bastante gelo picado. Ao estilo Hemingway, adicionam-se duas doses do licor e uma pedra de gelo em uma taça de champagne. Já na Sazerac, a receita americana, a bebida é misturada ao Bourbon. Para suavizar o gosto amargo pode-se acrescentar um pouco de açúcar e soda. Mas a forma predileta dos artistas da Belle Époque era despejar água sobre o copo com Absinto, através de uma colher furada, onde se colocava um torrão de áçúcar.

Tudo bem que pela legislação brasileira o Absinto que está à venda é diluído. Ao contrário dos refrescantes 68ºGL do original a Fada Verde brasileira alcança simpáticos 54ºGL. Já dá para pintar um quadro impressionista. Quem já provou sentiu o inconfundível sabor de anis, o gosto refrescante e amargo, e a textura oleosa. No Brasil, o Absinto vai ser importado pela empresa Companhia Gastronômica. A garrafa de 750 mililitros não sai por menos de R$ 49, enquanto a de 200 ml vale R$ 26. É caro. Mas ninguém nunca disse que adquirir cultura custa pouco.

O importante é que Zeronauta fique tranqüilo, pois está revista estará sempre na defesa dos direitos do goró. Sempre defendendo o consumidor. E o governo sabe que nós não vamos calar. Que se novamente a censura estiver de volta, a ZeroZen vai entrar em ação e a casa vai cair e o bicho vai pegar. Nós temos certeza que, a partir de agora, o absinto pode se considerada livre leve e solto. Um brinde a isso.

Da equipe de Articulistas.

Confira a matéria que detonou a vitoriosa campanha Free Absinto Free