Hugo Chávez em Porto Alegre
Porto Alegre viveu dias insólitos durante o Fórum Social Mundial. O PSTU todo desembarcou na Capital, teve versão "verão" da Maratona de Porto Alegre com corredores pelados e até o Hugo Chávez apareceu pela cidade. Sim, ele mesmo, "el presidente sin noción", o Joselito da política.
Mas vamos aos fatos. Nuestro amigo luta como um Dom Quixote para salvar a sua democracia. Ilhado em seus problemas, que a Zero Zen não vai discutir por não viver na Venezuela mesmo, ele resolve sair atrás de Sanchos Pança para a sua cruzada. Só que seus inimigos são a oposição local, "la oligarquia" (um bando de ACMs do Petróleo) e um certo George W. Bush. Isso fica mais difícil quando lembramos que o cowboy está louco para mandar em qualquer jazida do mundo - se ele ver aquele filme que o Didi acha petróleo, é capaz de mandar o exército tomar conta de Sobral e confiscar o Bonga.
Esse Quixote guevariano tem um mérito, deu um nó no Tio Sam. Todo mundo pensava que seus dias de reinado tinham acabado, mas ele virou a mesa e agora faz seu povo carregar a constituição como arma. Parecida com uma daquelas bíblias dos Gideões, o livrito parece ferir mais do que as balas dos fuzis. Seu poder é ressaltado e seu líder é um ex-militar que recarrega as configurações de Fidel Castro, mas no finald as contas é mais uma daquelas figurinhas carimbadas dos governos do passado que ressurgem em pleno século XXI.
Chávez parece mixar as políticas
de Fidel com o carisma de Guevara, atrelando seu show com tudo o que os
Russos faziam no século passado. Ele atrasa para aparecer nos eventos,
seu ego clama por agito nas ruas e quanto mais confusão espalhar
seu nome pelos quatro ventos da América, melhor será. Desprovido
da imagem militaresca, mas ainda com as manias e trejeitos
de um general que deixa seu labirinto rumo a uma busca doentia por ajuda,
ele parte pelo continente atrás de alguém que seja cativado
pelo seu canto de sereia, que na verdade parece ser um choro desesperado
no estilo de uma música da Mercedes Sosa.
Sempre cortejado pro seus assessores, que
parecem ter saído daquela mansão do filme Comando Para Matar,
Chávez só bebe e come coisas que sua equipe traz ou aprova.
Esta segurança vai por água abaixo quando seu ego manifesta-se
e leva o guerreiro até os seus soldados. Após desembarcar
no Rio Grande do Sul, ele conseguiu brigar com todo protocolo, incluindo
a
Brigada Militar. Todo um esquema de segurança foi montado, mas
o Simón Bolívar moderno conversou com alguns gatos pingados
que foram derreter no sol para ajudar mais um pobre rapaz latrino-americano.
Depois de confusões na agenda, el Chavo foi até o Piratini. Rigotto falou das belezas da Serra, falou do Estado e é capaz de ter convidado nosso novo conterrâneo para uma ida ao Ibiza. Com tantos nomes em espanhol, como o El Cielo, certamente os dois iriam tomar umas no KU. Antes de deixar o Palácio, a dupla ainda apareceu na janela, a mesma que antes ostentou uma bandeira de Cuba na posse de Olívio Dutra.
Como se fosse um Flautista de Hamelin das minorias - e dos doidos do Fórum - o seu pronunciamento na Assembléia atraiu os malucos que tomaram a cidade para o centro. Após confusão, caos e muita gente se espremendo por ali - tal qual os professores nos aúreos tempos de greve -, el Chavo foi até o seu povo falar.
Seu show levou cerca de duas horas, repleto de todos os clichês possíveis para um governante latino. Povo cantando, bandeiras de Guevara e cubanos pela platéia transformaram aquele momento em uma celebração da contramão da história. Como um caronte que conduzia os mortos até o Inferno, a eterna guerrilheira e deputada "Joselita" Luciana Genro recebeu o pseudo-gaúcho. A resposta veio em um elogio de Chávez para a "guerreira Luciana Genro". O sotaque no sobrenome deve ter levado a parlamentar ao delírio, pois Che Guevara cover havia hispanizado seu nome.
Os cantos do público, que parecia uma torcida de futebol, eram respondidos com pseudo-lágrimas e paradas para respirar fundo. Quando a sua retrospectiva da história venezuelana começava a cansar, ele apelava para frases feitas do passado. Em ordem cronológica, veio das batalhas históricas da Venezuela, passou por Bolívar e ressaltou Guevara para agitar a massa, sem esquecer do líder Fidel. Em um exemplo clássico da pós-modernidade, juntou socialismo com cristianismo em nome da defesa contra dragão Bush.
Depois de todo esse massacre ideológico, seus livros com uma coletânea de discursos viraram o best-seller do FSM. Impressos em Cuba e editados até em inglês, espalharam-se pelo público como gripe em dia de chuva. As sementes do amor pela América foram plantadas nos corações de cerca de 3 mil (dentro e fora da Assembléia) pessoas naquela noite. Pena que, como boa parte do FSM, é um público que não nota que Chávez é um Bush da esquerda e comete os crimes imperialistas do seu inimigo.
Fica aqui uma pergunta.. em menos de 30 dias, foi a terceira visita de Chávez ao país. Será que Chávez será o novo candidato do PT à prefeitura de Porto Alegre? Do jeito que ele vem pro país, logo logo fará companhia aos generias paraguaios exilados em Camboriú. Se você pensava que o Brasil era asilo de bandas antigas rapando o tacho dos fãs, tenha orgulho desse país que acolhe loucos e ainda cuida bem deles.