Memórias de uma P... feliz
Um lançamento sacudiu para cima e para baixo em movimentos repetitivos o mundo literário brasileiro. O Doce Veneno do Escorpião narra as aventuras sexuais de Bruna Surfistinha. Ela ficou famosa por ser a primeira garota de programa a revelar o seu dia-a-dia de trabalho em um blog na Internet.
Bruna, que na verdade se chama Raquel Pacheco, anunciou sua aposentadoria da profissão mais antiga do mundo (a ZeroZen acha que a profissão mais antiga é o cafetão, mas deixa para lá). Mesmo assim seu blog ainda é visitado diariamente por quase 15 mil internautas. A ex-profissional do sexo, porém, caiu de boca no mercado literário. O Doce Veneno do Escorpião esgotou a primeira edição de 10 mil exemplares em menos de 15 dias O nome do livro é uma referência à sua tatuagem (escorpião) nas costas e a seu signo.
Verdade seja dita, Bruna contou com o auxílio do jornalista Jorge Tarquini que ajudou a escrever o livro. Além de tirar mais um profissional da fila do seguro-desemprego, Tarquini, se foi esperto, deve ter pedido uma reconstituição dos momentos mais picantes para se inspirar. Com 172 páginas, o livro possui 36 páginas negras, lacradas, com relatos bem mais explícitos penetrando fundo na alma (e em outros lugares) de uma garota de programa.
Bruna - em um momento de auto-ajuda - também dá pequenas, médias e grandes lições (tudo depende do tamanho do referencial adotado) para uma mulher de como conquistar o homem. Além de dar dicas como nunca perdê-lo para uma garota de programa. Ou seja se o escritor Gabriel García Marquez escreveu Memórias de Minhas P... Tristes, Bruna concebeu este Memórias de uma P... Feliz.
Raquel passou a se chamar Bruna aos 17 anos. Ela recebia cerca de seis clientes por dia. "Trabalhava das 10h às 2h, não tinha horário livre pra nada. Foi quando comecei a usar cocaína para agüentar a rotina", confessou. Atualmente, aos 21, ela afirma que superou o vício. Raquel nasceu em Sorocaba, interior de São Paulo. Ela é de família de classe média e seus pais se mudaram para a capital quando tinha 13 anos, para que estudasse nos melhores colégios.
Raquel então decidiu namorar sem a aprovação do pai. Foi quando provou maconha e começou a usar a droga com freqüência. Brigou várias vezes com seu pai e decidiu fugir de casa. Aos 17 anos, ela comprou um jornal para procurar emprego, mas desistiu. Afinal, ela teria de trabalhar. Como o mundo era difícil, ela resolveu ser uma garota de vida de fácil. No horário da escola, aproveitou para visitar um clube privê. Depois de um teste para avaliar o tamanho do carisma dela, foi contratada. No dia seguinte, fugiu de casa.
Surgiu então a Bruna Surfistinha. No começo, ela cobrava R$ 100 a hora, sendo que 50% ficava com a cafetina e 10% com a gerente do lugar. Durante um ano e meio ela só respirou sexo e drogas e rock'n'roll. Depois, decidiu trabalhar sozinha. Então alugou um flat num bairro nobre da capital paulista e passou a cobrar R$ 300.
Vale notar que a nova carreira de Raquel não é tão promissora, financeiramente falando. Em geral, o autor de um livro fica com 10% do valor do preço de capa do livro --o restante é dividido entre a editora (entre 15% e 25%), o distribuidor (50%) e a livraria (entre 15% e 25%). O valor da participação financeira de Raquel na venda dos livros não foi revelado.
Por incrível que pareça, a história de Bruna/Raquel tem um final feliz. Ela está namorando um homem que conheceu enquanto fazia programas. O sujeito se chama Pedro e largou a mulher e duas filhas para viver com a blogueira. O casal, inclusive, começou a namorar no Dia dos Namorados.
Bem, Raquel provou uma coisa. É mais escritora do que boa parte da atual literatura gaúcha. Seu livro tem mais "vida" do que qualquer coisa escrita pelo Cardoso, Clarah Averbuck, Carol Teixeira, pelo pessoal da Livros do Mal entre outros menos cotados. Todos tinham um blog e usaram a Internet para se promover. Entre eles e Bruna só há uma única e simples diferença. Ela fez sucesso...
Aliás, as escritoras gaúchas podem aproveitar a dica. Passem um tempo em um lupanar que vocês se tornaram no mínimo umas putas escritoras! De qualquer maneira, Raquel está comentendo um erro crasso. Ela disse que está cansada da superexposição e quer se casar e ter filhos. A ZeroZen, a única revista que tem orgulho de ser parcial, quer ajudar a antiga garota de programa.
Ora, Bruna Surfistinha se tornou um ícone da Internet se casar agora é como matar a galinha (sem duplo sentido) dos ovos de ouro. Raquel tem de aproveitar seu natural talento para o esporte bretão. Ela pode facilmente se tornar uma das maiores estrelas do mundo pornô brasileiro. Inclusive, já participou de um filme do gênero. Assim, depois de penetrar de cabeça neste fascinante universo, poderia escrever outro livro narrando a sua entrada pela porta da frente (ou de trás, tudo depende da cena) do mundo pornô...