500 anos de Pau-Brasil ou somos todos uns maloqueiros

Se você, antenado leitor, for esperto o bastante, percebeu que as comemorações dos 500 do Brasil já passaram. O assunto é mais velho dos que os seios da Dercy Gonçalves, mas... Numa pequena aldeia gaulesa, digo, em um estado da federação chamado Rio Grande do Sul ainda se discute o que aconteceu no dia 21 de abril.

Bem, nesse dia um bando de estudantes de história (e nada mais maloqueiro que um estudante de história) foram para a frente do relógio dos 500 anos, construído pelo Hans Donner, brincar de fogueira santa de Israel. Resultado? Depois de umas cachaças a mais, a patuléia começou a destruir o monumento, a jogar coquetéis molotovs e ver tudo pegar fogo. Em seguida, passaram a dançar em volta do relógio destruído como se fosse um ritual tribal da Nova Zelândia.

Certo, o relógio era horrível, de um mau gosto abissal, típico do Hans Donner, que tem como único mérito artístico comer a Valéria Valenssa, a mulata globeleza. Mesmo que a gente desconfia que se casamento é pura fachada. Mas isso não justifica a atitude pascácia e apócrifa. O crepitar das chamas não causou nenhuma revolução socialista, companheiros. Sequer conscientizou a massa ignara ou, tampouco, institui a ditadura do proletariado. Foi única e exclusivamente uma gigantesca perda de tempo e de garrafas de vodca, que deveriam ter sidas usadas para consumo próprio e não desperdiçadas para tacar fogo em um monumento chinfrim.

Entretanto, o leitor pode obtemperar: mas por que todo mundo ainda discute isso no Rio Grande do Sul? Simples, dois funcionários da Secretaria de Justiça e Segurança estavam no meio da multidão à paisana e impediram que a Brigada Militar contivesse o movimento de destruição. Pode parecer piada, mas esses diligentes funcionários botaram para correr os policiais!!

O fantástico e o inusitado da história é que a Brigada Militar raras vezes teve um motivo tão claro, tão óbvio, para agir de forma coercitiva. Os policiais tinha obrigação de intervir para evitar a destruição do patrimônio público e conter a baderna que se alastrou por todas as proximidades do local. Resumindo em um português límpido e simples: eles podiam descer o cacete sem dó nem pena. Pois é... mas levaram um esporro de dois míseros funcionários de terceiro escalão e correram para casa se esconder como faria o mais covarde dos avestruzes.

O que importa de toda essa situação é os 500 anos deveriam ter sido comemorados, sim. De qualquer maneira levarão mais meio milênio para voltarem com essa ladainha novamente. Do jeito que foram realizados os protestos em todo país parece que a oposição ao FHC tenta conquistar o poder através da revolta da maloqueiragem. Algo como os párias no poder. O tipo de coisa que é tão provável de acontecer quanto ganhar 15 vezes seguidas na Mega Sena.

Além disso, o governo não tem sequer o direito de reclamar. Armou uma festa para gringo ver, escondendo a pobreza debaixo do tapete da sala. Deu no que deu. A verdade pura é simples é que a árvore símbolo do país é o Pau-Brasil. Perceberam? Já temos uma vocação natural para a pancadaria.

Por isso, quando houver a comemoração dos 1000 anos de Brasil, basta fazer um gigantesco campeonato de luta livre em todo país. Além disso cada cidade terá o seu próprio relógio para tacar fogo à vontade. O país explodirá em uma orgia de destruição e violência e todos ficarão felizes. Decididamente, nunca fomos tão maloqueiros.

Da Equipe de Articulistas