As bonitas que me perdoem, mas na política a feiúra é fundamental
Da Série, Os nativos Estão Inquietos
A deputada Manuela d'Ávila (PCdoB), 25 anos, concorreu à prefeitura de Porto Alegre. Porém, mesmo depois de manter por muito tempo a vice-liderança em todas as pesquisas de opinião acabou fora do segundo turno. Foi superada pela candidata do PT, Maria do Rosário. Muitos analistas políticos ficaram embasbacados com o resultado.
Muitos analistas políticos ficaram embasbacados com o resultado. Manuela era uma forte candidata, contudo obteve apenas 15% das preferências do eleitorado. Com forte ligação com o movimento estudantil, a comunista iniciou a carreira política na União da Juventude Socialista (UJS), em Porto Alegre. Após filiar-se ao PCdoB, foi eleita, aos 22 anos, a vereadora mais jovem na história da Câmara Municipal da capital gaúcha.
Até a surpreendente derrota nas eleições para a capital gaúcha, Manuela tinha uma história de sucesso na política. Como era de se esperar, a candidata ficou completamente desnorteada com a situação. Todavia, o setor de marketing político da ZeroZen gostaria de deixar claro que a culpa não é da Manuela, muito menos de seu marketeiro. A verdade é que Manuela perdeu por ser linda demais.
Sim, a feiúra é um dos requisitos fundamentais da política. Quanto mais infeliz, desgraçado, desventurado, mal-aventurado, inditoso e desditado, melhor. A política permite olhos esbugalhados, orelhas de abano, falta de dentes, caspa, mau hálito, enfim, toda a espécie de defeitos possíveis no quesito da aparência.
E não existe nada de errado com isso. Afinal de contas, os feios também têm direito a um lugar ao sol na sociedade. Por isso, eles garantiram o seu espaço nas eleições. É a sua reserva de mercado. Notem a quantidade de gente feia que aparece no horário eleitoral gratuito. Decididamente, não é um desfile de modelos.
Na política, são séculos e séculos de feiúra. A começar por Dom João VI, um sujeito gordo, tímido, inseguro, que tinha medo de caranguejos e trovoadas. Mesmo assim, comandou o Brasil de 1808 a 1822. Ele criou um padrão a ser seguido.
Não acredita ainda? Basta olhar a galeria dos retratos dos ex-presidentes. É de assustar. Jânio Quadros, por exemplo, se elegeu presidente disputando com o brigadeiro Eduardo Gomes que tinha como lema de campanha "é bonito e soteiro". Perdeu, claro, não por ser casado, mas por colocar a beleza em pauta. Aliás, beleza não põe a mesa, basta ver o nosso Congresso Nacional.
Atualmente, o público já se acostumou a ver gente como José Sarney, Renan Calheiros ou Severino Cavalcanti. Nada mais nos assusta. Há um padrão estético que se mantém intocado. Quando surge alguém como Manuela, as pessoas não sabem como reagir. Todo mundo espera que ela comece a mastigar com a boca aberta ou tirar quilos de meleca do nariz.
A candidata do PC do B foi derrotada por sua beleza. Alguém tão bonita não pode fazer parte da política. Vale notar que a grande quantidade dos eleitores está longe de ter, digamos assim, um padrão de beleza digno de novela das oito. Por isso, se identificam com os feios. Afinal de contas, somos um país de banguelas, de famintos, de pobres. Se a beleza nos separa, a feiúra nos une.
Manuela, portanto, não deve se desesperar. Basta ficar gorda, se encher de rugas, entupir o cabelo de laquê e pronto! Tem sérias chances de chegar à presidência da República...