O automóvel é o novo cigarro

A recente Lei de tolerância zero para o consumo de álcool por motoristas de automóveis gerou vários debates na mídia pouco especializada, inclusive se pode ouvir arautos da liberdade defenderem pela primeira vez o uso de álcool. Coisa que a ZeroZen fez antes e melhor. Mas a questão mais importante talvez tenha passado despercebida. Pois seguindo a lógica do governo estamos muito perto de ter que proibir as propagandas de carro. Afinal o problema não é apenas o excesso de álcool, mas sim o de carros.

Quanto mais carros em circulação maior a probabilidade de acidentes, é simples assim. Não temos estradas para dar vazão a esse aumento no fluxo de veículos. Nem mão-de-obra para fiscalizar os carros existentes, o que dirá os novos. Como o governo não tem interesse em refrear a venda de automóveis, incentivada pelo crédito fácil e os polpudos subsídios para indústria automobilística. A solução seria proibir alguma coisa, pois no Brasil é sempre mais fácil a proibição sumária de algo do que esperar que da noite para dia o povo brasileiro crie uma consciência.

Assim, a proibição da publicidade de automóveis seria a medida mais fácil, para um problema que ninguém quer enfrentar ou mesmo admitir sua existência.

Não adianta nem tentar culpar o bode-expiatório universal: a classe social dos miseráveis emergentes, pelo aumento nos acidentes nas estradas. Pois se descobriu que no Brasil falta tudo: até mesmo infra-estrutura para atender aos bêbados. Sim, acreditem foi proposto que se deveria incentivar a construção de metrôs para esses fossem usados por aqueles em estado de embriaguez! Com um bom sistema de transporte urbano não seria necessário ter que dirigir de volta para casa após uma noite de bebedeira. Como ninguém pensou nisso? Mas o próprio presidente Lula, no começo do seu primeiro governo num carnaval, já deu a barbada: não saia, beba em casa. Ou em último caso more perto de um bar.

Vale notar que com a proibição da propaganda de cigarros, todo o glamour e, porque não, basbaquice associada à esse tipo de publicidade foi transferida para de automóveis. O carro passou a ser visto como uma conquista imprescindível para o homem moderno. Desta forma é sempre visto em estradas vazias e associado a uma idéia de liberdade. Um motorista é livre como um passarinho numa gaiola de aço. Jogue uma gaiola com um pássaro dentro na direção de um caminhão a toda velocidade e você tem mais ou menos o retrato de um motorista em nossas estradas.

Diga-se de passagem, a circulação de automóveis é tão prejudicial à saúde quanto o uso de cigarros. O motor a combustão é uma coisa arcaica e altamente poluidora, inclusive é considerado a principal causa de poluição nas grandes cidades, e precisa ser substituído o mais rápido possível.

No fundo, os publicitários só trocaram de veneno, pois os anúncios continuam os mesmos. O que vai restar às agências de publicidade depois que proibirem as propagandas de carro? Criar novos anúncios para operadoras de celular. Mas esses não causam câncer? Então está tudo bem, mais uma vez só vai mudar o veneno...

Da Equipe de Articulistas

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