Isso tem que ter fim: Campanhas de Conscientização
Da Série, Os nativos Estão Inquietos
Em dezembro de 2007 o grupo RBS, retransmissora da Rede Globo no Rio Grande do Sul, iniciou uma campanha de conscientização pelo fim da violência no trânsito. Um dos seus jornais publicou 8 páginas com os nomes dos 379 mortos no verão passado. Algumas pessoas ficaram chocadas, outras indiferentes. Já os mais desavisados pensaram se tratar do listão do vestibular da PUC.
O resultado da campanha? Esse foi o Natal com mais acidentes nas estradas desde a implementação do Código de Trânsito Brasileiro em 1998. E isso não foi um fenômeno isolado, mas em todo o país o número de acidentes foram estarrecedores. Notem que o Natal teve mais mortes que o reveillon, época que em geral se bebe mais.
O pessoal do controle de danos logo achou um culpado, o bode-expiatório universal: os miseráveis emergentes. Sim, mais carros nas estradas igual a mais acidentes. Culpa do crédito fácil e dos novos motoristas de fim de semana. Mesmo não tendo culpa alguma no aumento de acidentes, o que esse pessoal devia ter feito era colocar um "Post it" no monitor com a frase: "é... falhamos" e tirar férias. Mas, após o fim de ano iniciaram uma nova fase da campanha, agora descendo o nível do debate vários degraus na escala intelectual.
Nessa fase, com a ajuda de atrizes globais, passaram a comparar homens que correm no volante com aqueles que sofrem de ejaculação precoce, ou seja seriam 'rapidinhos' na estrada e na cama. Nem vamos entrar no fato que a campanha visa apenas os homens, tipo mulher não corre ao volante, mas o que nós queremos salientar é a argumentação de moleque de 12 anos usada na campanha. O próximo passo é talvez duvidar da masculinidade daqueles que correm nas estradas. Por que não colocar a Luana Piovanni para dizer coisas do tipo: homem que corre nas estradas deve ser veado. Se não for veado é corno e se não for corno tem pau pequeno. Vai ser um sucesso.
A ZeroZen, a revista que não é solidária nem no câncer, gostaria de iniciar uma campanha também e com muito mais chances de êxito: vamos acabar com as campanhas de conscientização!!! Consciência de brasileiro é uma contradição em termos. Com a massa ignara não se perde tempo argumentando. Leis devem ser impostas goela a baixo da população, esse negócio de perder tempo e dinheiro com bobagens vazias como conscientização é coisa de burocrata.
Vamos deixar uma coisa bem clara: campanhas institucionais de conscientização de qualquer coisa não funcionam. Se elas funcionassem ninguém fumava, bebia ou usava drogas. Sem falar que seria um mundo extramente chato sem nada disso. Essas campanhas são invariavelmente estúpidas e usam um tom infantil quase apaziguador de quem fala com um cachorro que fez xixi na sala. E assim como o cachorro, o público médio brasileiro tem chances mínimas de entender o recado.
A idéia da televisão ser uma babá eletrônica tão apregoada por comunicólogos só funciona para crianças. Afinal uma babá para adultos é absurda, apesar de ter gente que pague uma boa grana por isso. No fundo as pessoas querem ser emburrecidas pela televisão, não tutoradas por um bando de egocêntricos megalomaníacos, digo publicitários bem intencionados.
Vale lembrar que o Brasil tem a segunda maior frota de caminhões mundo, estradas precárias que parecem feitas pelo Oscar Niemeyer, cheias de curvas inúteis, pedágios abusivos e a maioria dos motoristas mal sabem dirigir. Agora chamar os motoristas de veados ou ruins na cama não vai ajudar muito esse quadro...
Estar num carro é desconfortável. As pessoas correm pois não querem ficar presas num automóvel por horas para chegar ao seu destino. Quem não tem pressa é baiano. O resto da humanidade tem essa urgência de chegar a qualquer lugar e ir embora logo em seguida. E como na Bahia os números da violência no trânsito são tão altos como no resto do país, pela lógica do pessoal do grupo RBS os baianos devem ser tudo cornos e ruim de cama...
Alguns slogans da campanha:
Abrace a barbárie, que talvez ela lhe devolva os braços.
Correr é o fim, o Rubinho Barricello que o diga...
ZeroZen a única revista que sofre de distúrbio mono-polar: sempre de mau humor...