Lei Seca em Porto Alegre
A ZeroZen a única revista que não é solidária nem no câncer e que está pouco se lixando para o aquecimento global ou a insurreição terrorista no Oriente-Médio. E que consequentemente não tem o costume de defender causas a não ser que sejam do próprio interesse. Vide a gloriosa campanha “Free Absinto Free” na época da esdrúxula proibição dessa bebida no Brasil. Vai ter que se envolver mais uma vez no lodaçal político/jurídico Brasileiro. Agora em defesa do que realmente interessa: do Goró.
Pois é com imenso pesar que vemos a bisonha proposta do atual Secretário da Segurança do Rio Grande do Sul, José Francisco Mallman, de estabelecer uma “Lei Seca” em Porto Alegre nos fim de semanas. Ser não só discutida como até mesmo levada a sério. A implantação permanente da Lei Seca em todos os finais de semana no Estado, a partir das 0h até às 6h de sábado e de domingo teria o objetivo de coibir crimes praticados sob influência do álcool. O problema dessa proposta é que assim como não se pode culpar a vassoura pela existência do lixo, não se pode culpar o álcool pela existência da violência.
Mesmo levando em conta as sabias palavras do LL (local loser) Chicão Tofani, que declarou certa vez que depois da uma hora da madrugada só ficam na noite drogados e prostitutas. Em essência o tipo de gente que nós temos orgulho de ter como leitores da ZeroZen. E que, particularmente, quem bebe apenas nos fim de semanas é mirim. Essa proposta é simplesmente inconcebível, inaceitável e muitos outros adjetivos terminados em ‘vel’.
Como se bem sabe o Brasil tem essa eterna síndrome de U.S.O.(United States Overseas)— roubando uma expressão cunhada por Frank Zappa— e para aqueles que estão esquecendo o seu português, Estados Unidos do além Mar. Que basicamente consiste em copiar tudo aquilo que não deu certo nas terras do Tio Sam. E ainda achar que encontrou a solução para todos os problemas com a proibição total e irrestrita de algo. Regulamentar algo dá muito trabalho, sem contar que ninguém respeita lei alguma no Brasil. Daí se proíbe e pronto, problema resolvido. No Brasil não se cogitou exterminar uma raça inteira de cachorros pitt-bulls, pois esses mataram uma criança no Rio de Janeiro? O holocausto canino não aconteceu, mas a idéia de resolver problemas com a proibição total, pura e simples de algo continua em voga.
Só porque a lei seca deu certo em uma cidadezinha de merda do interior de São Paulo, insira aqui o nome da cidadezinha de merda do interior de São Paulo— nota do editor: Diadema— não é por isso que vai dar certo em Porto Alegre. A metrópole brasileira de maior custo de vida do país. Maior até que Brasília, uma cidade onde, literalmente, não se produz nada. E não por acaso, Porto Alegre é também uma das cidades brasileiras com um dos maiores índices de desemprego do país. Basicamente não está fácil para ninguém por aqui. E de uma hora pra outra ainda tem gente querendo tirar o nosso livre-arbítrio de encher a cara de goró. Isso obviamente significa guerra, confusão e correria. Iremos organizar o MSG: movimento dos sem-goró. E marcharemos até Brasília e com a fúria de um de abstêmio passaremos por cima de quem se interpor em nosso caminho.
Eles sempre culpam o goró...
Como, com esse tipo de coisa não se brinca. Vamos deixar uma coisa bem clara: na ZeroZen não tem essa história “lei seca”. Não venham com essa conversa do tipo slogan publicitário: “se você for escrever não beba.” ISSO NÃO EXISTE NA ZEROZEN!!! Nós bebemos e escrevemos. Na verdade, é só isso o que temos feito ao longo dos dez anos da revista e muitos dirão com ênfase no beber, vide os recentes quase seis meses sem atualização.
Pois podemos traçar um parâmetro do problema da violência social com o do layout da ZeroZen. Aqui começam as divagações... Mas a verdade que a ZeroZen usa o mesmo layout desde 98 e nem estamos concorrendo numa competição para ver qual site da Internet fica mais tempo com o mesmo layout. A verdade é que a gente simplesmente foi deixando, adiando o inevitável até não haver mais uma solução fácil. Muitas pessoas já se ofereceram para fazer um novo layout para nós e tudo correu bem até a gente dizer algo como: adoramos o seu projeto, mas como tu pretende adaptá-lo para os mais 2 mil textos, que representam 2 mil htmls, escritos em quase dez anos de ZeroZen? Tipo no amor ninguém vai fazer algo assim.
O problema da violência social é mais ou menos a mesma coisa, só que completamente diferente. O governo foi deixando a coisa rolar até que não existem mais saídas fáceis. E como político brasileiro não vai legislar contra a própria classe. Ninguém vai ver a criminalidade diminuir tão cedo.
Ao invés de proibir a venda de álcool quem sabe proibir a circulação de carros? O motor a combustão é uma coisa arcaica e ultrapassada, que precisa ser aposentado o mais rápido possível. Sem carros e com mais álcool viveríamos num mundo melhor. A atriz Melanie Griffith, certa vez, foi convencida por seus médicos que ela só sobrevivera a um grave atropelamento automobilístico, pois ela estava tão bêbada que não sentiu qualquer dor no momento do acidente. Elvis Presley já dizia era melhor estar inconsciente do que infeliz.
Ou quem sabe proibir nossos políticos de proporem leis estúpidas como essa? A proibição da venda de álcool nos fim de semana não só é insana como blasfema. É isso aí quando a lógica falha apele para religião. Ninguém acusou Jesus Cristo de incitar a violência ao transformar água em vinho na Bíblia. O que mais resta depois disso? A sociedade judaico-cristã desmoronará e os terroristas terão vencido. Tudo isso porque alguém resolveu propor uma lei seca em Porto Alegre. É muita responsabilidade, para a governadora Ieda Crises, digo, Crusius que deveria no mínimo emitir um pedido de desculpas ou mesmo renunciar.
Enquanto isso no Rio de Janeiro o aumento do consumo de ecstasy pela classe média-alta causou o crescimento da violência na cidade, pois os traficantes de drogas como cocaína e maconha, com os lucros em baixa, resolveram diversificar suas atividades. Marginal não muda de ramo, com a lei seca ele só vai ter que acordar mais cedo.
O discreto Charme da Estupidez
A verdadeira Lei Seca que vigorou nos Estados Unidos a partir de 1920 e durou, segundo a Wikipedia, 13 anos, 11 meses e 24 dias. Quando alguém fica sem goró se contam os dias. E gerou não só um aumento na criminalidade naquele país como estabeleceu um novo padrão de especialização no crime, que para burlar a lei precisou se organizar. Na adversidade o ser humano sempre revela o seu melhor. Principalmente se essa adversidade é causada por políticos estúpidos.
Mas vejam bem, o americano não só inventou a Lei Seca, como o alcoolismo e de quebra os alcoólicos anônimos. O que explica muita coisa. Não estamos de forma alguma menosprezando os malefícios do álcool e o sofrimento daqueles que perderam familiares por causa desse vício. Até porque a maioria dos colaboradores da ZeroZen esta indo por esse caminho. Mas a verdade é que até água com açúcar em excesso faz mal à saúde, os diabéticos que o digam...
Então por causa do puritanismo da sociedade americana o povinho de lá costuma ir com muita sede ao pote. Assim depois de um fim de semana de festa eles já querem ir para uma clinica de reabilitação. Sendo que depois de uma semana de festa o brasileiro vira e dorme.
Let's Go Get Stoned
Agora nós chegamos num ponto importante e que nada tem a ver EM PRINCÍPIO com o assunto desse momento de lucidez. Publicitários e marqueteiros prestem atenção. Uma das maiores diferenças entre o jovem brasileiro e o americano é facilidade com que o jovem brasileiro tem acesso ao álcool e drogas diversas, por isso a dificuldade de vender qualquer coisa para esse público. Enquanto o jovem brasileiro pode em qualquer momento do dia entrar num supermercado e comprar um six-pack de cerveja. O jovem americano precisa passar por subterfúgios como arranjar uma carteira de identidade falsa ou pedir para um adulto comprar o seu goró de preferência. E pior algumas cadeias de supermercados sequer vendem álcool. Convenhamos isso é o fim da picada.
Com isso o jovem americano em geral focaliza seu interesse em outros bens de consumo de forma substitutiva. Uma vez o que jovem americano chega a idade adulta ele parte numa tresloucada “beer hunting” mudando completamente o seu foco de consumo. Consequentemente a sociedade americana tem cada vez mais investido na infantilização do público consumidor. Ser adulto hoje em dia é quase visto como uma desvantagem naquele país. O cinema feito em Hollywood certamente não é para adultos. A classificação AO (adults only) ou NC-17 é suficiente para determinar o fracasso de um filme. Os principais artistas do meio musical focam seus lançamentos para o público infanto-juvenil, com ênfase no infanto. Tanto que hoje em dia as bandas de rock parecem serem formadas no jardim infância.
Os jovens americanos consomem essa merda, pois eles não têm acesso fácil ao goró. A falta de goró leva ao consumismo e consequentemente ao escapismo. Sem goró os jovens brasileiros começariam a se preocupar com coisas sem importância como bailes de formatura, tatuagens e piercings. E acabariam fazendo rompantes homicidas como no recente episódio na universidade de whatever nos Estado Unidos. E tudo isso porque um dia alguém propôs uma lei seca em Porto Alegre...
P.S.: Esse texto é um exercício de “drinking and writing”.