A Modernidade são os Programas de Auditório

A MTV estreou em março de 2001 sua nova programação, na esperança de reverter aquele 1/3 de traço que é a audiência média da emissora. Baluarte da modernidade e canal preferido dos estudantes de comunicação social, designers e pseudos em geral, a MTV descobriu que o moderno e radical são os programas de auditório. Sim, a "nova" programação voltou ao básico da coisa. Mais um pouco eles teriam descoberto a radionovela ou o teatro.

Pelo visto a MTV quer concorrer com o mestre Silvio Santos. Só que sem o carisma, a inteligência ou qualquer apelo popular do mesmo. E olha que a emissora nem disfarça muito: "Quer Ficar comigo" é cópia descarada de "Namoro ou Amizade" do SBT. Sendo que programas para losers acharem os seus pares românticos na televisão é do tempo em que a Hebe Camargo era debutante, se é que alguém consegue imaginar isso. Para piorar o quadro um pouco mais, nem inovar a fórmula a MTV tenta.

Agora pensem bem: é isso que um jovem quer ver num domingo à tarde ou durante a semana? Essa é a alternativa que MTV quer passar para a programação ‘antiquada’ das emissoras abertas? Afinal se for para ver um programa de auditório é preferível mil vezes assistir o Show do Milhão.

No fundo a MTV brasileira está, basicamente, seguindo o caminho da americana, que cada vez tem menos espaço para música na programação. Não vamos entrar no quesito qualidade musical, apenas quantidade. Pois se desandássemos por esses lados as coisas se tornariam calamitosas. Essa opção de quanto menos música melhor é, na sua essência, uma estratégia comercial bastante simples e coerente. Afinal não precisa ser um gênio para saber que um jovem de posse de um controle remoto é uma metralhadora giratória. E que esse jovem não vai assistir a MTV por mais tempo do que a duração do seu video-clip preferido. E, assim sendo, não vai assistir aos "maravilhosos" reclames publicitários que a emissora divulga. Logo foi preciso desenvolver uma programação mais convencional calcada em programas temáticos, para prender a atenção desse espectador. Mas tudo isso, no fundo, é uma grande bobagem, já que praticamente ninguém assiste a MTV, de uma maneira ou de outra.

O incauto leitor deve estar se perguntando: se a MTV tem uma audiência pífia e nada fiel, como diabos a emissora se sustenta. Bem, não é, realmente, muito difícil imaginar como: a MTV se garante com o bom e velho jabá das grandes gravadoras interessadas na divulgação de seus artistas. Além disso a MTV é um canal aberto, pertencente ao grupo Abril Cultural, e como tal trata-se uma concessão do governo, que ajuda com sua habitual cota de propagandas instituicionais para engordar o caixa. Não estamos revelando nada bombástico aqui. O músico Lobão, numa entrevista à Folha de São Paulo, afirmou que a MTV cobra U$ 10 mil para veicular um vídeo na sua programação. E basta analisarmos, friamente, a parada de sucessos da MTV para perceber que não está muito distante de uma trilha sonora de novela da Globo— o pináculo, o supra-sumo da ignorância musical— ou de uma rádio FM( bem ruim). Essa homogeneidade musical é sintoma característico do velho jabá institucional de sempre...

Nem estamos condenando a MTV por isso. Afinal alguém tem que pagar as contas da emissora. E ninguém vai realmente ficar muito triste se as grandes gravadoras tiverem que desembolsarem algum para isso. Mas depois não venham se fazer de inocente com uma matéria naquela execrável e abaixo de qualquer nota Revista da MTV, perguntando "para que serve o dinheiro". Sabe como é: se você ainda precisa perguntar....

Da Equipe de Articulistas