Porto Alegre é uma cidade de chinelão
Sebastião de Araújo Melo foi reeleito prefeito de Porto Alegre. Isso é raro de acontecer. Ele é segundo prefeito reeleito da capital. Antes, somente Fogaça (o prefeito turista) tinha conseguido tal façanha em 2008. Mas essa foi uma eleição marcada pelo termo chinelão.
Para quem é de fora do Rio Grande do Sul sempre cabe um contexto. Até por que o Google Tradutor ainda não tem o gauchês como idioma. Enfim, chinelão é uma pessoa bagaceira, mal arrumada, mal educada, alguém de gosto duvidoso e sem noção.
Certo. Mas o que isso tem a ver com a eleição para a capital gaúcha. Bem, Porto Alegre ficou debaixo d'água na pior enchente do século. O detalhe é que o desastre poderia ter sido muito menor, se houvesse a manutenção das casas de bombas, que, aliás, foram criadas para prevenir uma situação como essa.
O prefeito Sebastião Melo sabia disso. Tanto que na sua primeira eleição criticou o então prefeito Marchezan Jr. por ignorar a manutenção dessas casas de bombas. Só que em quatro anos no poder ele não fez nada para mudar a situação e ainda reduziu o orçamento do DMAE.
Com raiva, alguns pichadores começaram a desenhar nos muros da cidade uma caricatura de Melo em um bote usando um chapéu de palha. O título dessa obra-prima era: "Melo Chinelão". O prefeito, é claro, mandou apagar tudo.
Só que a ideia do Melo chinelão se espalhou rapidamente. Isso significou o fim da campanha? Nada disso. O Brasil (e Porto Alegre incluída) não é para amadores. O marketing da campanha política do prefeito abraçou a ideia do chinelão.
Sim. O prefeito era um chinelão, mas era do povo. Aliás, era tão do povo que usava chapéu de palha... E isso funcionou de forma incrível.
Ao final da apuração, Melo totalizou 61,53%, ou 406.467 votos. Sua adversária, Maria do Rosário obteve 38,47%, ou 254.128 votos. Como se diz no Rio Grande do Sul: foi um vareio. O segundo turno registrou também recorde de abstenções em Porto Alegre: 34,83%, ou 381.965 faltantes. O número de votos brancos foi de 27.249 (3,81%), e os anulados foram 26.811 (3,75%).
Porém, os dados mais interessantes estão nas zonas eleitorais. Assim como no primeiro turno, Melo venceu em todas as zonas em Porto Alegre. Mais incrível ainda: a maior vantagem do prefeito ocorreu na 111ª zona, que compreende bairros como Humaitá e Vila Farrapos, duramente afetados pela enchente.
Acredite quem quiser: Humaitá e Vila Farrapos ficaram alagados por muito tempo, seus moradores perderam praticamente tudo o que tinham. O lixo ficou empilhado nas ruas por mais de dois meses. Em ambos locais, havia a sensação de estar em uma zona de guerra. Os moradores foram nitidamente abandonados pelo poder público. Na hora da eleição, o emedebista fez 66,94%, e Rosário, 33,06%.
Moral da história? Porto Alegre é uma cidade de chinelão. Por que chinelão vota em chinelão. E o resultado são mais quatro anos de chinelagem....
P.S. - A esquerda resolveu escolher o candidato com o maior índice de rejeição possível. Uma rejeição igual ou superior a colocar maçã na salada de maionese. Aí fica realmente díficil. Política em Porto Alegre é mesmo muita chinelagem...