Agora sim, o Brasil conquistou o espaço


Para quem ainda não sabe, o nosso impoluto país tropical conseguiu o prodígio de enviar mais uma pessoa em uma viagem espacial. Claro que sempre se pode alegar que com a nossa classe política o Brasil já foi para o espaço há muito tempo. Porém, a história de como Victor Hespanha se tornou um herói nacional explica a única forma de como a gente pode ter sucesso na corrida espacial.

Como o segundo astronauta brasileiro (aguarde uma reviravolta nos últimos parágrafos) da história obteve esse feito notável. Foram anos de estudo? Foi uma dedicação incansável à ciência? Foi devido a uma forma física invejável? Nada disso. Victor Hespanha ganhou um sorteio. Foi a Mega-Sena do Espaço, a Loto Sideral, o Bingo da Via Láctea!

Fica ainda melhor, pois Victor resolveu investir em NFTs. Comprou três e gastou cerca de R$ 12 mil. Só que a Crypto Space Agency (CSA) para promover o seu produto, resolveu sortear uma vaga na missão NS-21, da Blue Origin. Vale notar que esse foi apenas o quinto voo tripulado da companhia de exploração espacial criada pelo fundador da Amazon, Jeff Bezos.

O mineiro de Belo Horizonte ganhou o sorteio! Aos 28 anos, zerou a vida. E olha que a Blue Origin não mencione valores em sua página de reserva de bilhetes. Afinal de contas, isso não é uma rodoviária. Porém, um assento para o primeiro voo foi leiloado e arrematado por US$ 28 milhões (algo em torno de R$141,6 milhões).

Detalhe: Victor, acompanhado de outras cinco pessoas, alcançou a uma altura de 351.183 pés, o equivalente a 107 quilômetros. Cerca de 3 minutos após a decolagem, a cápsula com os tripulantes se separou do foguete, que retornou à Terra e pousou em segurança. Os astronautas levaram pouco mais de 10 minutos para tocar o solo terrestre novamente. Deu tudo certo. Depois de 21 minutos foram retirados da cápsula pela equipe da Blue Origin

O engenheiro de produção civil ganhou um prêmio espetacular. Foi entrevistado por basicamente todos os veículos de comunicação do Brasil. Pode até almejar uma carreira política como fez o primeiro astronauta brasileiro o ex-ministro Marcos Pontes. Até porque o governo brasileiro está completamente perdido no espaço...

Agora, vem o momento mágico... Victor Hespanha conseguiu ver o Brasil do espaço. É fácil de achar. É só seguir o clarão das queimadas na Amazônia. Porém, ele pode ser considerado um astronauta? Bem, de acordo com as diretrizes determinadas pela Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA), para ser considerado um astronauta, o viajante espacial precisa voar mais de 80 km acima da superfície da Terra para se qualificar.

Até aí, tudo bem. Os tripulantes da Blue Origin cumpriram a meta, já que os voos da empresa ultrapassam essa marca, passando inclusive a barreira de 100 km de altitude. Atenção! Esse ponto é chamado Linha de Kármán. Ela marca a “fronteira final”, ou seja, o início do espaço sideral. ZeroZen também é cultura.

Mas para ser um verdadeiro astronauta, é preciso passar por um treinamento certificado pelo departamento e “demonstrar durante o voo ações que são importantes para a segurança pública ou contribuem para a segurança espacial humana”. Além disso, a pessoa deve ser designada a realizar certas tarefas durante o voo. Ou seja, o astronauta não é um passageiro comum.

No caso, a New Shepard é um veículo totalmente autônomo. Ninguém pilota a espaçonave. Isso é bom, possivelmente os brasileiros iriam testar o foguete pra ver se ele fazia um cavalinho de pau. Enfim, ninguém a bordo realizou tarefas que sejam essenciais para a “segurança espacial” da tripulação. Logo, Victor Hespanha não será considerado astronauta. Eu avisei que haveria uma reviravolta...

E nada - absolutamente nada - pode representar mais esse país tropical do que a história de Victor Hespanha. Como nós vamos tomar conta da Via Láctea? Fácil. Com uma sorte absurda, andando de carona e dependendo da boa vontade de estranhos. Agora sim, dá pra dizer que o Brasil vai conquistar o espaço...

Da Equipe de Articulistas