Querem denegrir o verbo denegrir?
No jornalismo existe a triste figura do arauto do manual de redação. Via de regra é um sujeito sem talento para a profissão, porém com uma ótima memória. Então, ele decora todas as regras da empresa e fica servindo como uma espécie de esteio moral entre os colegas que estão mais preocupados com o trabalho diário. Enfim, tudo isso para dizer que na Globonews querem denegrir o verbo denegrir...
Um apresentador da Globonews deu um esporro ao vivo em uma repórter. O motivo? Ela usou o verbo denegrir. O provecto jornalista explicou se tratar de um termo racista e, portanto, condenável. A aparvalhada repórter ficou sem palavras e balbuciou um pedido de desculpas. Teria sido um grande momento do jornalismo brasileiro, não fosse um pequeno e insignificante detalhe: o denegrir NUNCA TEVE qualquer conotação racista.
Antes de mais nada, o termo já existia no latim (denigrare). O surgimento dessa expressão remonta a séculos antes do início da escravidão africana nas Américas. Aliás, o verbo manteve o sentido essencial de “manchar” a imagem de alguém. Em nenhum momento da sua longeva existência foi associado a um termo pejorativo.
Aliás, uma sumidade do jornalismo gaúcho certa vez vetou a expressão: "nuvens negras de tempestade". Também por considerar a expressão racista. Desde então, só choveu no Rio Grande do Sul quando as nuvens estavam brancas no céu...
Enfim, antes de sair cancelando verbos é sempre importante olhar para etimologia da palavra. Expressões como grana preta ou “a coisa aqui tá preta” (vai sobrar pro Chico Buarque, se o pessoal ouvir a música “Meu Caro Amigo”) não são condenáveis. Porém, uma expressão realmente racista é dizer “serviço de preto”. Isso sim deve ser execrado. Quanto a repórter da Globonews, resta apenas escrever um textão no Twitter dizendo que estão tentando denegrir a sua imagem...
P.S.: A lingua inglesa possui o verbo: "denigrate." E os americanos, olha só a ironia, não veem problema algum em usar essa palavra! Mas se a palavra fosse "deniggerate" talvez a estória fosse diferente...