Na ZeroZen a linguagem é tudo menos neutra


Recentemente, uma escola de Porto Alegre cancelou apresentações de uma peça de teatro. O motivo? Ela usava uma linguagem neutra. Ao saber disso, o nosso imbatível setor jurídico ligou para redação e implorou para que essa revista não escrevesse sobre o assunto. Bem, isso é impossível. Na ZeroZen a linguagem é tudo menos neutra...

O Grupo Cerco faria três apresentações da peça "Puli-Pulá". Elas seriam encenadas no Colégio Farroupilha. Porém, a direção da escola constatou o uso de linguagem neutra. Ou seja, que não distingue os gêneros masculino ou feminino. Houve quem falasse em censura. A escola alegou ser "inadequado" o uso de termos não reconhecidos pela norma padrão. Afinal de contas, a instituição, até prova em contrário, tem obrigação de ensinar a norma culta.

Em uma nota, divulgada após o incidente, a escola declarou que: "o nosso Projeto Pedagógico prima pelo desenvolvimento de conteúdos e habilidades vinculados à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), respeitando as variantes do idioma, mas reconhecendo, sobretudo, a escola como espaço primordial de aquisição e exercício da norma-padrão da língua portuguesa."

Curiosamente, a peça infantil é apresentada desde 2015 e já recebeu diversos prêmios. Inclusive foi realizada no Colégio Farroupilha em 2018 sem maiores problemas. Porém, resta explicar melhor o motivo de toda a confusão: a linguagem neutra.

O Grupo Cerco usa a letra "e" para ser neutre. Bom, cabe avisar que português, a vogal temática na maioria das vezes não define gênero. Por isso, essa substituição não faz o menor sentido. Para quem já esqueceu do básico da língua portuguesa - e isso inclui 99% das pessoas que postam estultices nas redes sociais - o gênero é definido pelo artigo que acompanha a palavra.

De forma bem simples: o poeta termina em "a", mas é masculino. Claro que alguém pode argumentar: "depende do poeta". Certo. Talvez esse não tenha sido o melhor exemplo. Mas o motorista termina em "a", e ainda assim é masculino.

Mais exemplos: a sororidade. Termina em E e é feminino. O embuste. Termina em E e é masculino. Tudo isso para dizer que terminar uma palavra com "E" não faz com que ela seja neutra. Apenas demonstra que você não entende nada da língua portuguesa e, no fim das contas, não passa de um basbaque.

Na ânsia de criar um artigo neutro, algumas pessoas passaram a encher seus textos de X, @ e E. O "X" talvez seja por influência do Xou da Xuxa, mas é melhor deixar para lá. Enfim, mudar os gêneros de palavras não faz do mundo um lugar melhor e sequer colabora para diminuir o preconceito.

Por isso, ZeroZen não usa a linguagem neutra. Não faz sentido com a linha editorial da revista. A gente não pode ser contra tudo e contra todos e ainda manter uma postura neutra. Embora, é claro, não dá para negar que os tempos estão mudando. Então, em homenagem a todo esse pessoal, gostaríamos de deixar uma mensagem de alegria, conforto e esperança: vão se fodes!

Da Reportagem Local, ou não