A Revista Época descobre os blogs. Pena que eles já eram...
A Revista Época conseguiu ganhar com folga o troféu "faísca atrasada" de 2008. A sua reportagem da capa lista 80 blogs imperdíveis (ou não). E, acredite quem quiser, em pleno novo milênio, ainda se dá ao trabalho de explicar o que é um blog! Por favor... A ZeroZen, sempre no intuito de ajudar a tacanha mídia nacional, gostaria de avisar: blog é coisa do passado, tão velho quanto Bolero ou Bossa Nova...
Para a Revista Época, os diários da internet (no popular: blogs) estão revolucionando a política, os negócios, a carreira, a cultura e as relações pessoais. Neste ponto o leitor da matéria percebe que entrou em uma espécie de túnel do tempo. Isso até podia ser verdade em 2004 ou 2006. Mas agora?
De acordo com a revista, atualmente existem 133 milhões de blogs no mundo. Como são fáceis de serem criados, ampliaram as possibilidades de expressão de gente que não tinha absolutamente nada a dizer. Isso permitiu a publicação de uma quantidade imensurável de conteúdo. Só falta analisar a qualidade desse conteúdo...
Ao ler o texto parece que a intenção da matéria foi fazer a Revista Época ficar de bem com a Blogosfera. Outro grande erro. No Brasil e no mundo a blogosfera é cada vez mais irrelevante. Pois qualquer um sabe como essa máfia de perdedores funciona. É mais ou menos assim: um sujeito sem talento faz um link para o blog de outro sujeito sem talento. A união de tanta incompetência chama-se blogosfera...
A verdade é que a ZeroZen viu os blogs chegarem, sentarem na mesa e irem embora sem pagar a conta. No início da Internet comercial no Brasil, no distante ano de 1995, vale lembrar que sequer existia o conceito de blog. A moda eram os sites pessoais com seus irritantes gifs animados, arquivos de midi e cores bizarras
Até que com a popularização da Web, chegou a vez da patuléia, da massa ignara tomar conta. Sim, lá se foi a vizinhança. Como fazer um site era algo complexo demais para essa gente, a opção mais rápida foi partir para o blog. Só que aí os pacóvios digitais perceberam um detalhe apavorante. Era preciso escrever. Acredite: houve um tempo em que o sucesso de um blog era medido pela qualidade de seus textos.
Mas aí os problemas começaram. Sem saber o que colocar no papel, ou melhor, na tela do computador, a gentalha digital tentou criar blogs confessionais. Era uma choradeira de fazer inveja as duplas sertanejas. Como sempre acontece nestes casos, a humanidade não deu a mínima. As pessoas que eram apenas os perdedores da escola ou do bairro foram promovivos a fracassados virtuais. Ou seja, não importa a mídia: um loser é sempre um loser
Na seqüência - ou simultaneamente, tanto faz - surgiram os blogs miguxos. Escritos em uma linguagem estranha, quase a um passo do analfabetismo funcional. Cheios de figuras coloridas e brilhantes. Mas se nem a Xuxa consegue mais fazer sucesso com as crianças apelando para infantilidade forçada, o que dirá reles blogueiros de fim de semana.
Quando tudo parecia perdido eis que surge uma luz no fim do túnel. A salvação de todos os pascácios virtuais: o Youtube! Pronto! Ninguém mais precisa escrever, basta colocar um link para um vídeo no Youtube pronto. Já é mais do que suficiente para passar por gênio na blogosfera!
Claro que é evidente que existem blogs relevantes, que produzem conteúdo de qualidade. Mas são muito menos do que a Revista Época imagina. Além disso, existem omissões absurdas na lista de escolhidos. Todavia, a morte dos blogs não aconteceu por culpa de quem ainda vive atrelado ao mundo impresso.
O fato é que a blogsfera foi inundada por meros repetidores de conteúdo. Gente que acredita no CTRL+C e no CTRL+V como uma forma de arte. Criar algo de novo é mesmo muito esforço. São milhares de blogs dizendo a mesma coisa sem mudar uma vírgula e sem citar a fonte (como já diz o ditado jornalístico: quem revela fonte é água mineral).
Para aumentar ainda mais o coeficiente de insanidade, as agências de publicidade passaram acreditar que blogs são mais relevantes do que sites. Passaram a inundar a blogosfera com campanhas de marketing viral, o que amplia ainda mais a quantidade de conteúdo repetitivo e irrelevante. Para os nossos publicitários maravilhosos, um mero post pode fazer estourar a venda de um produto eletrônico ou mantê-lo para sempre no fundo do estoque de uma empresa. Menos, bem menos...
A Revista Época, em pleno delírio de falta de assunto, ainda arranjou espaço para declarar que não existe limite para o conteúdo da blogosfera. Muitos Blogueiros amadores têm se tornado profissionais - e postado compulsivamente - para se manter com anúncios publicitários e patrocínios. Eles, inclusive, ficam felizes por ganhar geladeiras USB. É... qualquer outra mídia teria se vendido por um pouco mais, mas como se sabe blogueiro que se preza trabalha por um prato de comida...
Só que mesmo assim, ainda estava difícil para a massa ignara escrever três ou quatro posts por dia. E justamente quando parecia não haver mais esperança: eis que surge o Twitter com seus abençoados 160 caracteres. Pronto. Agora, os indigentes mentais poderiam postar à vontade. Basta uma frase. Tudo rápido, simples e vazio. É uma bela síntese do novo milênio.
Por fim: uma dica. Quer fazer um blog? Desista. Você não vai chegar lá. Mas se insistir em ser mais repetidor na blogosfera, saiba que é fácil descobrir se você tem talento para ser um blogueiro medíocre. Basta se perguntar se achou esse texto muito grande ou se você parou de ler no primeiro parágrafo ou teve de consultar o dicionário para saber o significado de palavras como "irrelevante" ou "complexo"...
P.S. - Muitos blogueiros se queixam dos comentaristas de insultos, os chamados trolls. Bem, esses são os leitores da ZeroZen...