NÃO INTERESSA A NINGUÉM, MAS...

Counter-Strike e EverQuest proibidos no Brasil

Uma decisão da Justiça Federal de Minas Gerais, onde mais seria, determinou a proibição da venda e distribuição dos games Counter-Strike e EverQuest em todo país. Mais uma vez foi usado o Código de Defesa do Consumidor como bastião da moral e dos bons costumes. Sério, desde quando censura, ou privar o consumidor do direito de escolha, virou sinônimo de moral e bons costumes? Agora usar o Código para defender o consumidor dos abusos das companhias telefônicas está difícil?

Segundo sentença da 17ª Vara Federal da Seção Judiciária do Estado de Minas Gerais ambos jogos desrespeitam o Código de Defesa do Consumidor, pois expõem os usuários a situações de violência, sendo assim nocivos à saúde das pessoas. Tipo qualquer telejornal de porta de cadeia também expõem o usuário, digo telespectador a situações de violência. Por que não proibir esses programas também?

O mais irônico é que o RPG online EverQuest, conhecido por alguns usuários pela alcunha de "Evercrack", por ser extremamente viciante, nunca foi lançado no Brasil. A pergunta que não quer calar é: como o Código de Defesa do Consumidor pode legislar sobre algo que sequer foi consumido! Sério, não existe um advogado que queira fazer sua carreira defendendo a industria de jogos eletrônicos no Brasil? Vale lembrar que os videogames já superaram a industria cinematográfica em termos de faturamento. Esse pessoal está com a grana. E convenhamos, é melhor do que defender traficante...

Agora vamos ao que interessa: não existe argumentação que sustente essa proibição nem aqui, nem em Minas Gerais. Counter-Strike é violento como todo game de tiro em primeira pessoa e EverQuest é violento como todo RPG. Nem mais nem menos. Ou se proíbe todos ou não se proíbe nenhum. Igualdade de direitos é, supostamente, um dos princípios mais básicos da lei.

Mais uma vez se pode apenas imaginar como algo assim surgiu. Digamos que o sobrinho do juiz passa os dias jogando Counter-Strike numa dessas Lan Houses da vida e vai mal na escola. A mãe do garoto reclama para o juiz e esse resolve mandar um subalterno qualquer se inteirar do assunto. O juiz então, depois de um relato superficial do seu subalterno, resolve proibir o game no Brasil. A moral da história: esse senhor não devia ser juiz, essa senhora não devia ser mãe e o garoto devia estar fumando maconha como faz o resto dos seus colegas.

Ainda sobre Counter-Strike: segundo o texto da sentença "o jogo ensina técnicas de guerra". Sério? Se Counter-Strike ensina técnicas de guerra, o que será que esse juiz fará quando descobrir o game America's Army? Sem falar que essa é uma guerra que os americanos iam adorar, já que em Counter-Strike os terroristas não podem matar seus reféns.

Já a inclusão do game EverQuest nessa pendenga é curiosa, pois o game sequer foi lançado no Brasil e tirando uma pequena e quase ínfima comunidade, o game não tem usuários no Brasil. Agora o que ele fez para merecer entrar nessa lista é realmente obscuro. Só podemos, mais uma vez, supor hipoteticamente que alguém envolvido nessa história é assinante do canal pago GNT, a mãe do garoto é a principal suspeita, e tenha assistido ao documentário "A Vida em Video Game" sobre o adolescente americano Shawn Woolley que se suicidou após jogar EverQuest 12 horas por dia durante um ano. Isso é uma suposição, pois é sabido que ninguém assiste ao canal GNT.

O que irá resultar de uma sentença sem fundamento como essa? Uma reportagem sensacionalista no Fantástico. Uma pauta fria num programa de debate qualquer. Uma matéria enfurecida na Veja? Convenhamos nada de produtivo ou relevante. Os únicos afetados diretamente por essa proibição serão os donos de lan houses pelo país, que terão que achar um game que rode nas carroças obsoletas que eles chamam de computadores. A saída é instalar Starcraft e tentar bater os coreanos...

Da Equipe de Articulistas

P.S.: Vale lembrar que fora de uma juíza mineira a decisão de proibir em 1999 a venda dos games Blood, Doom, Duken Nukem, Mortal Kombat, Postal e Requiem no Brasil... Está confirmado: Belo Horizonte é a capital nacional do atraso jurídico brasileiro.

Links Relacionados:
http://kotaku.com/346800/brazilian-government-bans-counter+strike-everquest-fun
http://www.zerozen.com.br/games/games&violencia.htm