Persona 3: FES

Persona 3 é o “game changer” da franquia Persona, que até esse jogo não tinha chegado a lugar algum! Detalhe: apesar de a essas alturas, 2006, já terem sido feitos três games para a franquia. Esse é considerado, realmente, o terceiro! Pois o segundo foi dividido em dois games: Eternal Punishment e Innocent Sin. Ambos lançados para o Playstation 1. Sendo que Innocent Sin só foi lançado no Japão. E apenas, muito tempo depois, foi relançado para o PSP. Quando ganhou lançamento mundial.

Confuso? Sim. Mas vá se acostumando... Persona 3 foi marcado em seu lançamento por um HOAX no Japão. No qual se acreditava que uma criança usara uma arma para “invocar” uma persona. Como no jogo! O quê obviamente não aconteceu.

Porém mostre o jogo para qualquer pessoa de idade ou sem noção alguma do que está acontecendo. E mostre o ato de invocar uma persona com um “evoker” que, diga-se de passagem, se parece com uma arma. E para isso o personagem principal do jogo precisa apontar o evoker para cabeça e disparar. Certamente essa cena vai deixar qualquer um intrigado...

Persona 3 é, em tese, um RPG japonês clássico, inclusive com combate baseado em turnos. Foi lançado originalmente em 2006. Naqueles que, supostamente, deveriam ter sido os anos finais do PS2, que convenhamos ainda demorariam muito para chegar. Especialmente por aqui.

A produtora Atlus, sozinha, garantiu ao PS2 pelo menos uns dois ou três anos extras de vida. Com Persona 3 FES e Persona 4 lançados respectivamente em 2007 e 2008. Notem que iria demorar pelo menos até 2009 para o PS3 ter um jogo relevante.

É bom lembrar que Persona 3 foi o primeiro “Persona” game tratado como um spin-off da série Shin Megami Tensei! Que na verdade data dos idos tempos do SNES e é considerada, junto com Final Fantasy e Dragon Quest, como parte da grande tríade dos RPGs japoneses.

Isso é, em parte, pelo sucesso, pelo menos no Japão, de Shin Megami Tensei III, ou como foi lançado por aqui: Nocturne. Game que pavimentou o caminho para a franquia com um excelente engine 3D, usado em vários outros games, e uma jogabilidade impar. Praticamente todos os jogos publicados pela Atlus a partir do sucesso de SMT 3 ganharam a alcunha de SMT, entre eles: Devil Summoner 1 e 2, Digital Saga 1 e 2 e sim, Persona 3 e 4.

A história é um dos pontos fortes de Persona 3, mais do que qualquer outro game da franquia. Como sempre temos, evidentemente, o fim do mundo coisa e tal. Mas, na verdade, Persona 3 é mais um jogo de interesses, digo relacionamentos, do que um RPG de ação tradicional. Depois de um tempo fica bem claro que é muito mais interessante investir em certas amizades do que em outras.... Como na vida real!

O jogo se passa inteiramente no ano de 2009 e vai até o primeiro mês de 2010. Curiosamente a internet faz um papel importante no jogo! É bom lembrar que ele foi lançado, originalmente, em 2006! Estamos falando de internet discada aqui!

Agora vamos tentar explicar a estória do jogo: primeiro o dia tem mais de 24 horas. Nessa hora escondida, que ironicamente fica à meia noite. Chamada no jogo de “The Dark Hour” e que só é percebida por alguns. Uma enorme torre (Tartarus), de 256 andares! aparece no lugar da escola da cidade. Escola, onde você passa a maioria dos dias do jogo. Fazendo coisas banais, típicas de estudantes e de RPGs japoneses. O que é um pleonasmo.

No Tartarus você vai combater “shadows”, que são “Personas” de deuses, demônios e outros seres mitológicos. Então nesses combates o jogo passa a ser um misto de estratégia e ação em turnos.

Diga-se de passagem, Tartarus é oriundo da mitologia Grega! Trata-se de uma espécie de purgatório de almas! Ou seja, Persona seria em tese um “Souls” game! Lembrem-se que Demon Souls foi publicado pela Atlus! E mais, a mitologia Grega também explica aquela borboleta que aparece no vídeo do início do game. Vão ler uns livros bando de mirins...

Mas, falando sério, no jogo, Tartarus é uma espécie de portal para vinda de Nix, que é também uma deusa grega, personificação da noite e que trará fim ao mundo?! Onde você também enfrentará “shadows”, que supostamente facilitarão a vinda de Nyx.

Detalhe: Nyx(Nix) é a mãe de Thanatos (Tânato) deus da morte coisa e tal. Sim, na mitologia Grega até a morte tem uma mãe! O que faz algum sentido...

Sendo que quando o personagem “Ryoji” diz que Nyx não pode ser vencida, ele está essencialmente descrevendo sua mãe! O que é, no mínimo, engraçado... Supostamente Nyx era meio possessiva.

Persona 3 é definitivamente a mais “dark” estória da série. Mas não vamos entrar em detalhes, para evitar spoilers.. Mesmo tendo coisas típicas de outros RPGs japoneses. Que servem apenas para amenizar um pouco o clima. Como um cachorro, uma criança e uma andróide! Todos capazes de invocar personas...

Sim, uma andróide: Aigis. Uma andróide com problemas existenciais... Sério. Ela pode invocar personas e combater “Shadows”, mas não entende essa coisa de estar viva e ter uma “vida”. Talvez seja a ausência de uma placa mãe, quem sabe?

Aigis realmente não diz muito a que veio no jogo original. Isso pode ser visto como um problema: o excesso de personagens na estória. E é, quando muito, mais uma daquelas “japonices” típicas de jogos japoneses. Porém na expansão FES ela se tornará o personagem principal. Todo o seu personagem foi reformulado. O quê é estranho, ou peculiar. Afinal estamos falando de um jogo japonês, logo é normal...

A expansão Persona FES (festival) é dividida em duas partes: o jogo original: The Journey, com mudanças mínimas mas pontuais e a continuação, ou melhor, “coda”: The Answer. Que, ironicamente, não responde muita coisa. E ainda por cima bagunça alguns aspectos da história original.

The Answer se passa em março de 2010, dois meses após os acontecimentos do primeiro jogo. Sim, tenta ser um breve raio de luz no final “dark” do jogo original. Mas simplesmente não cola!

Spoilers alert! A resposta é: a vida começa com a consciência da morte, ou algo assim ...

A coisa toda parece, ocasionalmente, sair fora dos trilhos. O que é normal num RPG. Mas no geral se mantém fiel à sua proposta inicial... Enfim, é um jogo no mínimo curioso, que merece alguma atenção.

Saulo Gomes

Prós: É um longo jogo, excelente passatempo para desempregados. Interessante estória com algumas surpresinhas aqui e ali, que mantém o jogador interessado.

Contra: Se repetição, ou melhor, “grind”, não for o seu estilo. Melhor passar batido...