Half-life 2: The Orange Box

Nesses tempos de pirataria desenfreada se alguém lhe oferece 5 games pelo preço de um, você não pode deixar de ficar meio desconfiado. Principalmente se esse pacote incluir Half-Life 2: Episode Two, Team Fortress 2 e Portal. Sem contar que a Valve, criadora da série Half-Life, não é conhecida por cumprir prazos ou mesmo por lançar vários games ao mesmo tempo. Na verdade você pode contar nos dedos os jogos lançados até hoje pela empresa. Por isso o lançamento simultâneo de três novos games é algo no mínimo inesperado. É algo quase tão improvável quanto a ZeroZen ser atualizada diariamente.

Agora por que a Valve resolveu colocar cinco games, Orange Box ainda inclui Half-Life 2 e Episode One, num pacote só? Desejo de humilhar a concorrência? Talvez. O certo é que mudanças feitas no engine 3D Source para Episode Two, o tornaram incompatível com os games anteriores. E desta forma o download de um único episódio via Steam seria bem menos aprazível. Inclusive a Valve preferiu a toda poderosa Electronic Arts para distribuição mundial.

Mas seja qual for a razão, nem os mais céticos, a ZeroZen incluída, podem negar que Orange Box é um desses negócios da China. Antes que a própria China coloque no mercado uma cópia pirata ainda mais barata...

Half-Life 2: Episode Two
Na época do lançamento de Episode One, janeiro de 2006, Gabe Newell, co-fundador e diretor-chefe da Valve, declarou que o segundo episódio ficaria pronto em tempo para o Natal. Só se esqueceu de mencionar que era o de 2007...

Atrasos a parte, Episode Two começa onde terminou o primeiro episódio. E o game segue, basicamente, os preparativos do contra-ataque da Combine, após a queda de City 17 no episódio anterior. Como é de praxe nada é explicado e muitas dúvidas ainda ficam abertas. Como, por exemplo, afinal quem está agora no comando da Combine? Mas de certa forma a história vem se distanciando um pouco daquela coisa meio Big Brother, Orwelliana de Half-Life 2.

Episode Two oferece pouco mais de cinco horas de ação. É mais variado que o episódio anterior e de certa forma tenta recuperar o clima do game original. Contando para isso de uma variedade maior de puzzles e ação mais refinada.

O exagero das situações que Gordon Freeman precisa enfrentar o coloca no mesmo nível do Chuck Norris, de Jack Bauer e do Capitão Nascimento. Como ainda não inventaram uma lista do tipo "Gordon Freeman Facts" é surpreendente. O fato de Freeman não falar nunca, só aumenta sua macheza.

A participação do G-Man é mais uma vez pouco conclusiva e não acrescenta nada a já confusa história do game. Vale lembrar que em HL 2 o G-Man parece conversando com o pessoal da resistência. Sem falar que o pessoal da Combine, hora parece humanóide, noutra está claramente usando tecnologia alienígena para acabar com a patética resistência, da qual você faz parte.

Em Half-Life 2 ficou claro que o pessoal da Valve tentou agregar o máximo de elementos novos à jogabilidade consagrada da série. Alguns funcionaram outros não. Nos episódios seguintes foi necessário passar uma peneira e ficar apenas com aquilo que realmente interessava.

De certa forma havia em HL 2 o mesmo problema da primeira trilogia de Star Wars: alienígenas demais e humanos de menos. Isso foi corrigido em Episode One e Two, com a introdução de Alyx Vance. Agora há alguém com quem se importar, mas nem por isso a história faz algum sentido.

O certo é que em Episode Two a Valve certou a mão na dose, mas fica a dúvida se a idéia de dividir o game em episódios foi mesmo acertada. Como carro-chefe da Orange Box, Episode Two talvez decepcione, principalmente se comparado com Portal e Team Fortress 2.

Detalhe: ao final de Episode Two ao contrário do game anterior, não há trailer do terceiro e supostamente último episódio de Half-Life 2. Mas até se entende: após lançar três games novos o pessoal da Valve deve tirar férias pelos próximos cinco anos.

Team Fortress 2
Team Fortress era uma modificação(mod) para Quake, que foi um grande sucesso no final dos anos 90. A Valve contratou a equipe criadora do mod e lançou Team Fortress Classic na edição "Game of The Year" do primeiro Half-Life. Mas apesar do sucesso para Quake, Team Fortress Classic não causou exatamente o mesmo impacto em Half-Life, sendo completamente substituído anos depois pelo CounterStrike. O que não é nenhuma surpresa, afinal quase todos games multiplayer o foram.

Agora com Team Fortress 2 a resposta do público tem sido diferente. Parte do sucesso se deve ao fato que TF 2 é desses raros games para multiplayer com foco em jogadores casuais, ou seja, para mirins. Num mercado saturado de jogos super-sérios e pretensiosos, Team Fortress 2 é um oásis para todos os mirins escondidos por aí.

Team Fortress 2 é essencialmente um game online para vários jogadores baseado em classes, onde cada jogador tem uma função bem definida. Nada muito novo ou revolucionário, mas extremamente bem executado. Essa simplicidade, clareza de objetivos e gráficos que lembram desenho animado são os grandes atrativos de TF2.

Como o nome indica, Team Fortress é um game que depende da capacidade dos seres-humanos de interagirem de maneira organizada em pequenos grupos, ou equipes. O que sabemos que na Internet é quase impossível. Afinal todos querem ser caciques na Web e ninguém quer ser índio. O sujeito não cumpre ordens do chefe e vai cumprir de um idiota qualquer na Internet?

Parte do sucesso de Team Fortress 2 pode ser explicado por causa da saturação do mercado de jogos para multijogadores. Onde há pouca ou nenhuma variação e maioria dos games acabam se parecendo. Team Fortress 2 realmente se destaca entre a concorrência. Isso até surgirem 'clans' e criaturas que comecem a levar o game ultra à sério. A partir daí não vai demorar muito para que TF2 se transforme noutro Counterstrike ou Battlefield...

Portal
Já Portal é a cereja do bolo da Orange Box. Mas como o próprio game prega: "The Cake is a lie". Portal funciona quase como um conto de ficção cientifica. A narrativa guarda alguma influência de filmes como 2001, Uma Odisséia no Espaço, Westworld e O cubo. Mas consegue ser completamente diferente e original.

Mesmo que a idéia de usar portais inter-dimensionais não seja necessariamente nova, Prey tinha portais, até Quake tinha o que se poderia chamar de portais. O que realmente chama a atenção é a narrativa do game.

Em Portal você é o objeto de estudo de um experimento secreto de uma empresa chamada Aperture Science. Você precisa passar por 19 câmaras de teste para ganhar sua recompensa. As doze primeiras câmaras são parte de um longo tutorial que serve para que o jogador vá se acostumando com a jogabilidade inovadora de Portal. A partir daí até a penúltima câmara o jogador terá seis 'mapas' para por em prática tudo o que aprendeu.

A grande sacada de Portal é a forma como a história é apresentada ao jogador. Só há dois personagens no game inteiro: Chell, a heroína silenciosa e o computador GLaDOS (Genetic Lifeform and Disk Operating System), que vai inicialmente servir como guia, acompanhando o seu progresso pelo experimento. Até a grande reviravolta perto do final do game, onde de presa você passa a caçador.

O elo com a história de Half-Life é fraco e parece forçado. Apesar de render algumas boas piadas, com a rivalidade entre a Aperture Science e Black Mesa. Sem falar nas especulações sobre a história da Aperture Science, que segundo o site viral (http://www.aperturescience.com/) criado pela Valve para promover o game, antes de se tornar rival da Black Mesa, fabricava cortinas para banheiro!!!

É incrível que um game tão curto, pouco mais de quatro horas, tenha conseguido causar um impacto maior do que o lançamento do segundo episódio de Half-Life 2, que deveria ser o carro-chefe da Orange Box. Portal gerou um daqueles fenômenos histéricos típicos da Internet, criando ícones da noite para o dia, como o "Weighted Companion Cube" ou a canção "Still Alive" que encerra o game.

Mas se todos games em episódios fossem bons como Portal, talvez houvesse algum futuro para o formato. Sem falar que Portal tem grandes possibilidades de expansão, com o download de novos mapas feitos por usuários. O que pode facilmente dobrar o tempo de vida do game.

Vale notar que, assim como Team Fortress e CounterStrike, a idéia de origem de Portal foi desenvolvida por uma outra empresa. Na verdade um grupo de universitários que criaram o game o 'Narbacular Drop' como projeto de conclusão de curso. A Valve gostou do que viu e chamou o grupo para fazer parte da equipe de Half-Life 2. Uma coisa é preciso que se admita: a Valve sabe descobrir talentos.

Saulo Gomes

Prós: São cinco games pelo preço de um. Sendo que Portal é o primeiro acerto incontestável da Valve desde Half-Life 1.
Contra: Portal é curto, Episódio Two insiste numa história que não tem como acabar bem e Team Fortress 2 tem poucas ou nenhuma chances de substituir CounterStrike.

Requerimentos mínimos do Sistema:
-Windows XP/Vista
-Processador: 2 GHz
-RAM: 512 MB
-Vídeo: 128 MB compatível com DirectX 9.0c