Need for Speed: ProStreet

É sabido que a toda poderosa e onipresente Electronic Arts produz jogos em série. Como as montadoras de carros, que mudam a cor do friso da porta e está feito o novo modelo do ano. A E.A. todo ano lança o mesmo game, com alguma modificação cosmética qualquer e mesmo assim continua dominando o mercado. A exceção fica para a série Need For Speed, que a cada edição tudo é modificado a partir de um novo conceito qualquer. Mas nem sempre as mudanças são para melhor. Não é surpresa, então, que muita gente foi abandonando a franquia pelo caminho.

Need for Speed: ProStreet é mais uma dessas reviravoltas na série, que vai servir apenas para alienar os fãs das edições anteriores e dificilmente conquistará novos adeptos. Numa manobra impensada, ProStreet marca o fim da liberdade de ir e vir (free roam) dos últimos jogos e a volta das corridas em circuitos. Esqueça aquele negócio de perseguições policiais insanas, nitroglicerina e carros indestrutíveis. Os principais atrativos de ProStreet são as corridas em circuitos fechados e a física semi-realista dos carros, inclusive com danos externos.

Em ProStreet você é Ryan Cooper um piloto sem sorte que precisa fazer seu nome no bizarro mundo das corridas de rua legais. Uma premissa nada diferente de qualquer outras das edições anteriores do game. O que realmente muda em ProStreet é o clima mais 'sério' do game. Agora você está jogando com 'os profissionais'. Esse tipo de coisa. Nada daquele subtexto exagerado, interpretações canhestras e humor involuntário que permearam as últimas edições, particularmente em NFS: Carbon.

O problema é que as corridas são fáceis demais e a apresentação pobre, sem maiores atrativos. NFS ProStreet parece querer pegar uma carona na série TOCA Race Driver tentando dar uma jogabilidade mais realista ao game. O que seria a primeira vez. Mas falha consideravelmente nessa área. Ficando, quando muito, no meio caminho entre os jogos Gran Turismo e Sega GT. Ou seja sem ser realmente realistas ou puramente arcade.

O game possui quatro tipos diferentes de corrida, todos velhos conhecidos: Grip, Drift, Drag e Speed. Esse último é essencialmente o modo time trial com outro nome. Ao menos a volta das corridas dragters é bem vinda. Já que elas tem a vantagem suprema de acabarem rápido. O mesmo não se pode dizer das insuportáveis corridas de drift, que deveriam ser eliminadas de todos os games já feitos.

Os danos nos carros que tanto fizeram falta nas edições anteriores do game foram finalmente trazidos de volta. Eles são um grande acréscimo a jogabilidade, pena que a falta gritante de desafios das corridas tornem raro acontecer qualquer acidente. Você só vai vê-los se dirigir errado.

Os vídeos e 'cutscenes', que eram uma atração a parte nos games anteriores, foram incorporadas ao engine gráfico do game. O que cria um efeito interessante, pois não há mudança visual na passagem de um vídeo para a corrida. Essa integração é bem feita e graficamente o game impressiona. Apesar do novo engine 3D do game ainda possuir suporte para tecnologias antigas, como shaders 2.0. O que parece indicar que o pessoal da Electronic Arts não leva muita fé nos gráficos de nova geração.

A trilha sonora, vendida separadamente num CD duplo, investe no mundinho do pop rock, indie e eletrônico, com bandas como Block Party, Junkie XL, UNKLE, Peaches e o pessoal brazuca do CSS. Não há qualquer sinal de artistas de R&B ou rappers, o que convenhamos é um alivio.

A interface lembra a do FIFA 07 ou 08 e foi feita claramente pensando nos usuários de consoles. A simples tarefa de escolher como você quer correr uma simples corrida é complicado. Sendo que a ausência da opção de uma corrida rápida "quick race" offline é no mínimo bizarra.

Isso parece fazer parte da grande estratégia da Electronic Arts de transformar a série NFS num sucesso online. O que tem se provado uma tarefa árdua e ingrata. Jogos de corrida são divertidos em LAN com seus amigos, mas Online lidando com vários servidores e milhões de detalhes irritantes. A tendência é ninguém esteja, literalmente, na mesma volta. Detalhe o game originalmente sequer tem suporte para LAN, que só foi incorporado depois num patch de 239mb.

Sem falar que o modo multiplayer, que permite até 8 jogadores online, é aquela "lag fest" de sempre. Seria de se esperar que um game que tem tantas pretensões nessa área tivesse um suporte mais azeitado.

Mas essa missão quase impossível de transformar a série NFS em, sei lá, o novo World of Warcraft vem de longe. Desde High Stakes a E.A vem tentando algo assim. E dessa vez, certos do sucesso do game, os desenvolvedores resolveram integrar à instalação do jogo o programa anti-trapaças online PunkBuster. Velho conhecido de quem joga Battlefield 2 pela Internet. O detalhe interessante é que não há como evitar a instalação deste programa, que é instalado obrigatoriamente junto com o game e fica residente no seu computador. Não há sequer como desinstalá-lo. Você só se livra dele totalmente, desinstalando o game. Pois mesmo que você consiga desinstalá-lo, para isso você precisa uma ferramenta desenvolvida pela própria empresa que criou o programa. Toda vez que você for jogar ProStreet, o PunkBuster será reinstalado de novo!!!

Tipo deve haver um método mais fácil de cortar a nicotina do seu cigarro. O pessoal da Electronic Arts estava tão preocupado em impedir que as pessoas trapaceassem online, que se esqueceu que para alguém trapacear num game de multiplayer tem ao menos se importar com o que está jogando. O que dificilmente será o caso de ProStreet. Vale notar que o programa já parte de um principio juridicamente duvidoso, onde o usuário é visto como um trapaceiro convicto ou em potencial, sem ao menos a prerrogativa da dúvida.

Enfim se a Electronic Arts faz games em série, o modelo desse ano não ficou muito bom e vai ser preciso fazer um "recall". No fundo NFS sempre foi um game arcade e nunca teve pretensão alguma de ser um simulador. ProStreet não chega a tanto e acaba ficando no meio do caminho. O que no final das contas não vai agradar nem antigos fãs da série nem atrair novos adeptos.

Saulo Gomes

Prós: Tipo os gráficos são realmente bons.
Contra: Realismo e a série Need For Speed é uma contradição em termos. O intrusivo e abusivo programinha chamado Punkbuster.

Requisitos Mínimos:
CPU 2.8 GHz, 1GB RAM, Placa de Video de 256MB compatível com DirectX 9.0c