The Last of Us 2
Sete anos de espera para isso? The Last of Us - Parte 2 é um equívoco monumental. É uma história de vingança que valoriza o jogador que é furtivo. Não faz sentido. O game deixa claro que a ideia é matar "até o último deles". Ora, alguém acha que o Charles Bronson em Desejo de Matar iria trucidar punks em modo stealth? Claro que não (detalhe: ele usa até uma bazuca). Se a Naughty Dog queria ganhar dinheiro dizendo que a vingança não vale a pena era melhor ter lançado um CD com músicas budistas...
Antes de mais nada, os gráficos são muito bons. Como se espera, aliás, em um game de final de geração. Mas o produto final apresenta vários retrocessos, principalmente algumas texturas (especialmente carros), vegetação mais escassa, reflexos na água. Na E3 de 2016 havia até mesmo uma névoa em partes passadas na floresta. Isso foi removido. Afinal de contas, o jogo precisa rodar em PS4 base (e consegue isso fazendo o console soar como uma turbina de avião). O fato é que o hardware do PS4 já é antigo e sofre para segurar os 30 fps o tempo todo. Possivelmente na versão para PS5 o jogo será visto em toda a sua glória.
Outra questão que merece destaque A Naughty Dog fez questão de tornar The Last of Us Parte II muito acessível.Por exemplo, pessoas que possuam alguma deficiência visual, auditiva ou mesmo motora vão poder jogar. O game possui mais de 60 configurações de acessibilidade. Talvez seja o primeiro jogo a ter tanta preocupação nesse quesito.
Se no primeiro The Last of Us a jogabilidade era horrível, agora ela melhorou um pouco. Muito em função do aumento das áreas. Com mais espaço, ser furtivo ficou mais simples. Poupa bastante munição e evita confrontos. Inclusive, Ellie pode rastejar na grama. Seria a estratégia mais indicada se o jogo não tivesse os malditos cachorros. Eles farejam a sua posição. Então, toda aquela ideia de se esconder vai perdendo a força.
Se for para sair no confronto, é preciso aproveitar a velocidade de Ellie. Ela corre bastante e tem uma grande vantagem em relação jogo anterior: a sua faca é infinita. O que isso significa? Bem, Em The Last of Us, Joel usava uma faca e ela quebrava. Ele podia carregar três ao mesmo tempo na mochila. Então, dava pra matar três estaladores com uma facada precisa no pescoço. O problema é se houvesse um quarto monstro. Era preciso construir outra faca. Inclusive, as facas era usadas para entrar em salas fechadas, que normalmente tinham itens interessantes.
Tudo isso para dizer que a faca de Ellie é uma das armas mais úteis do jogo. Outra boa notícia: os coquetéis molotovs (assim como as bombas de prego) estão de volta. Não se esqueça: no mundo de The Last of Us não existe extintor de incêndio. Depois que alguma coisa pega fogo, ela morre torrada...
Outra dica de sobrevivência: dá para usar infectados contra humanos, deixar eles se matarem e eliminar os sobreviventes. Um truque que Ellie aprendeu em Left Behind. Aliás, o jogo tem muito mais munição e itens disponíveis. Com áreas maiores é possível encontrar mais recursos. Para quem gosta desse tipo de coisa, The Last of Us 2 continua sendo o melhor simulador de abertura de gavetas do mercado...
Mas, de novo, esse é um jogo sobre vingança. Então, é fácil imaginar qual tipo de evento dramático vai levar Ellie a uma espiral de violência. Se você ficou revoltado com a morte desse personagem e parou de jogar nesse momento teve sorte. Por que, a partir daí, existem uma série de decisões narrativas profundamente idiotas.
Primeiro - e mais importante - o jogador vai comandar Abby em determinados momentos. Ela é, digamos assim, a rival de Ellie. Toda vez que isso acontece o game inicia uma campanha de relações públicas para deixar a personagem mais simpática. O resultado só serve para irritar e frustrar jogador. A propósito, em várias resenhas supostos críticos disseram que passaram a torcer pela a Abby. Bem, essas pessoas precisam de tratamento médico, estão sofrendo de alguma variação da síndrome de Estocolmo e, com certeza, não estão de posse das suas faculdades mentais.
O roteiro da parte um era praticamente perfeito. Mas a sequência tem problemas. Principalmente no começo, no meio e na parte final. A duração é nitidamente exagerada. São 25 horas, no mínimo, para completar o game. Mas, em certo ponto, a mensagem principal fica repetitiva. As cinco horas finais são de uma estultice atroz. Na verdade a maior contribuição de The Last of Us - Parte 2 é tornar o primeiro jogo uma obra-prima...
Outra coisa millennials, apesar de violento, The Last of Us - Parte 2 não é o primeiro game a fazer uma abordagem, digamos assim, mais madura da violência. Por exemplo, quem tascou fósforo branco em soldados inimigos em Spec Ops: The Line tira a violência do game da Naughty Dog de letra...
The Last of Us tenta de certa forma evitar uma dissonância ludonarrativa. Ou seja, aquilo que o jogador faz, às vezes entra em conflito com a história. Por exemplo, Nathan Drake é o herói da série Uncharted. Mas, para conseguir encontrar o tesouro, ele mata centenas de pessoas. Então, a ideia é fazer com que cada morte tenha um peso em The Last of Us Parte 2 tenha um peso.
Será que a estratégia funcionou? Por que você provavelmente vai terminar The Last of Us 2 com mais de duas centenas de mortes nas costas. E sequer vai estar preocupado com isso. Ora, se tem um motivo para as pessoas jogarem videogames é justamente essa dissonância narrativa. Nem todo mundo que comprou GTA vai sair arrombando carros ou atropelando pedestres...
Ainda cabe a pergunta: quem pensou que tocar violão era uma boa ideia? Já tem violeiro demais no mundo real. Não é necessário levar essa praga para o mundo dos games. Enfim, The Last of Us - Parte 2 é um jogo ruminante. A gente mastiga, mastiga, mastiga, mas não consegue engolir...
Prós:
gráficos, som
inúmeras opções de acessibilidade
Contra
Roteiro horrível.
Novos personagens irritantes.