Hogwarts Legacy
A história desse jogo passa por um protesto. Mas não é uma reclamação qualquer. No lançamento do game, Youtubers, influencers e outras raças pertencentes a escória da espécie humana, deixaram claro que as pessoas não poderiam comprar o game por conta das declarações transfóbicas de J. K. Rowling. Ou seja, você estaria sendo um preconceituoso, um adversário do mundo LGBT. Resultado? Hogwarts Legacy foi o jogo mais vendido de 2023. Ou seja, esse é o pior boicote de todos os tempos...
Agora... J. K. Rowling participou do roteiro do game? Não. Participou como diretora? Não. Se envolveu com o projeto de alguma forma? Não. A única coisa que a autora inglesa fez foi ficar em casa enquanto um caminhão de dinheiro entrava na sua conta bancária. Se você protestou e pediu que as pessoas não comprassem Hogwarts Legacy, você é um idiota. Mas calma... não é um idiota qualquer. É um idiota com pedigree. É um lorpa, um pascácio, um pacóvio...
Resta - finalmente - começar essa resenha pela pergunta mais importante. Afinal de contas, Hogwarts Legacy é um bom jogo? Honestamente, ele é caprichosamente, esforçadamente mediano. Não faz nada errado, mas também não acrescenta nada de tão inovador ou especial. De qualquer forma, pode ganhar o prêmio de melhor jogo de Harry Potter sem Harry Potter.
Todavia é importante que se diga. Tudo é feito de forma correta. Ou melhor, o jogo faz o possível para dar sentido ao mundo criado pela J. K. Rowling. E isso não é necessariamente uma tarefa fácil. Por exemplo, o castelo de Hogwarts é mesmo imenso. Se o game ficasse somente no prédio, seria um candidato a melhor jogo de mundo fechado. Mas o jogo se expande - e muito.
Os professores de Hogwarts continuam sendo um caso à parte. Colocam os alunos em risco com tarefas perigosas e se esquecem de ensinar todos os feitiços existentes. O problema é que o jogador não tem alternativa. Aprender feitiços é essencial para explorar o mundo. Inclusive, siga avançando na história até conseguir o feitiço Alohomora (isso significa que você precisa ajudar o zelador). A recompensa vale o esforço. Essa magia vai permitir o acesso a novas áreas do jogo ou encontrar itens secretos.
A tentativa da Potkey Games de trazer o jogador para o mundo de Harry Potter já começa na hora da criação do personagem. O herói não tem nome. Então é possível usar aquele humor típico da quinta série e criar um mago chamado Mastur Bando. Por que esse sabe fazer mágica com a varinha.
De qualquer forma, a ZeroZen resistiu a tentação e criou o feiticeiro Protago Nista. Sim, ele é - de fato - o herói da história. Aliás, Harry Potter descobre aos 11 anos de idade que é um bruxo e acaba sendo convidado para estudar na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Ou seja, como Protago Nista entra no quinto ano já deve ter seus 15 ou 16 anos de idade.
Por que esse é um detalhe importante? Bem, o Protago Nista vai matar um monte de gente. Tipo: vai entrar em Hogwarts com sangue nos olhos. Vai atacar acampamentos de bandidos, caçadores, duendes e deixar uma trilha de cadáveres. Aliás, é curioso como os magos das trevas não atacam o Protago Nista com feitiços como o Avedra Kevadra. Mas o contrário não é verdadeiro. Tudo isso para dizer que o jogo definitivamente precisa de um sistema de moralidade. Ou algo para acrescentar mais peso às ações do Protago Nista.
Outra questão sobre o mundo de Hogwarts Legacy é o dinheiro. Em termos de capitalismo, os magos não são trouxas. Comprar poções, vassouras, plantas, tudo isso custa caro. As lojas em Hogsmeade faturam alto. E se Harry Potter tinha uma fortuna no banco, esse não é o caso do Protago Nista. Então vai ser preciso estar sempre dando um jeito de coletar ou ganhar moedas.
Porém, ainda existem outros problemas que atrapalham o ritmo do jogo. O crafting é um saco. É lógico que existem uma série de elementos específicos para fazer uma determinada porção. Sim, dá para usar a sala precisa para acelerar o processo, mas ainda preciso coletar uma variedade enorme de itens. O ritmo é algo como fazer uma missão pelo mundo, coletando ingredientes sempre que possível. Depois retornar a Sala Precisa para repor o seu estoque de plantas e poções. Então, em pouco tempo deixa de ser divertido e passa a se tornar um "trabalho".
Outra questão idiota é o tamanho do inventario. Em um jogo que se passa em um mundo mágico isso não deveria ser um problema. Deveria haver um feitiço "sacolum gigantus" ou algo do gênero. Fazer o aumento do inventário ser dependente das provas de Merlin é uma estultice!
Vale notar que é possível destruir itens do inventário. Isso abre espaço e o Protago Nista pode conseguir algum item mais valioso em algum calabouço ou cripta. Porém, quando essa ação é feita não se recebe nenhuma moeda em troca. Ou seja, é muito mais interessante vender os itens e ganhar dinheiro. Isso, na maioria das vezes, obriga o jogador a ter um inventário enxuto. Outro detalhe idiota sao os itens nao identificados. Para saber o seu verdadeiro valor é preciso retornar até a sala precisa. Novamente, isso quebra completamente o ritmo do jogo.
O combate é bom. Leva um tempo até se acostumar com a mecânica de combos do jogo. Mas depois que se entende o processo e se aprende um número razoável de novos feitiços as coisas se tornam realmente divertidas. Ainda existem alguns puzzles em determinadas missões, mas nenhum deles é de uma dificuldade impossível.
No que diz respeito à história esse talvez seja o ponto fraco do game. Mas também o material original de J. K. Rowling não ajuda muito. Hogwarts Legacy optou por jogar na retranca. Basicamente, mantém o interesse no começo e vai desandando de forma melancólica. Ou seja, a ausência de bons personagens e missões secundárias pouco inspiradas vai cobrando o seu preço. Principalmente por que se trata de um jogo longo. Serão pelo menos 40 horas. Para quem gosta de explorar ou está em busca de uma platina vai levar pelo menos umas 100 horas.
No final das contas, Protago Nista vai estar correndo de um lado para o outro fazendo tarefas dos professores que, diga-se de passagem, não tem nada a ver com o que foi ensinado na aula, vai estar resolvendo problemas dos outros em vez de estudar para as provas, vai estar sempre sem dinheiro precisando arranjar uma grana para comprar o material de aula. Ou seja, se Hogwarts Legacy não for o melhor jogo do universo de Harry Potter, pelo menos é um simulador competente de como seria a vida na universidade...
P.S.: Cada casa tem uma espécie de missão única. Isso é interessante e pode ser explorado nas próximas sequências de Hogwarts Legacy. Curiosamente, neste caso, Lufa-Lufa saiu ganhando. Quem escolher essa casa viaja até Azkaban, a prisão mais famosa do mundo bruxo, na companhia de Helen Thistlewood, uma ex-auror de Hogwarts.
Prós - Combate divertido, Castelo de Hogwarts, mundo aberto surpreendentemente vasto.
Contras - Estourar balões com vassouras, ações do Protago Nista não tem impacto no mundo, história fraca