Pequeno ensaio sobre Pirataria e a Indústria de videogames

Não existe nada mais sério que a indústria de entretenimento, tanto em termos de arrecadamento como na geração de empregos diretos e indiretos. Mas no Brasil, país em que nada é levado a sério, com exceção de futebol e carnaval, nossa indústria de videogames foi sabotada por autoridades, empresários e contrabandistas. Não necessariamente nessa ordem. Chegamos ao ponto que a única representante oficial no Brasil é, pasmem, a indústria de jogos para PC. Isso apesar dos impostos e da "concorrência" com a Internet. Onde se lê concorrência leia-se download de games de forma ilegal pela Internet. E ainda assim tem que conviver com proibições infundadas, o que é muito mais grave do que censura, como no caso recente dos games Counter-Strike e Everquest.

Sendo a indústria de entretenimento é a que mais fatura no mundo, desbancando cinema e televisão. Não se pode deixar de notar que , mais uma vez, o Brasil está trilhando o caminho contrário da humanidade. É verdade que algumas empresas até produzem consoles no Brasil, mas apenas para exportação, pois desistiram de enfrentar o combalido mercado nacional e o nosso glorioso governo capaz de criar empecilhos diversos e leis bisonhas com uma rapidez incrível. Mas levar décadas para corrigi-las e às vezes nem isso.

Até 1994 a industria de games brasileira ia muito bem obrigado, a Nintendo, que dominava o mercado, tinha lançado oficialmente no país pela Gradiente seus consoles NES, SNES e se preparava para lançar o N64. A Sega que vinha logo atrás com Master Sytem e o Megadrive, o popular mongadrive, e iria lançar o Dreamcast futuramente. Ambas empresas tinham alcançado grande sucesso no país e uma geração de brasileiros já estava preparada para embarcar numa vida de vício em jogos eletrônicos.

Mas tudo isso foi por água abaixo, no momento que a Sony resolveu não lançar o Playstation I no Brasil em 1994. Nesse exato momento a espinha dorsal da indústria de games brasileira foi quebrada. E não só isso, a Sony deu aos nossos piratas algo que eles nunca tiveram antes: uma exclusividade.

Não há o que contestar: havendo uma demanda e ninguém para supri-la os consumidores se voltaram para o sub-mundo pirata, e acreditem: foram muito bem recebidos. O descaso da Sony foi tão grande que na época do lançamento mundial do Playstation II em 2000, a Sony sequer tinha os direitos da marca "Playstation" no Brasil. O que mais uma vez impediu o improvável lançamento oficial do console no país.

Quem viria outra vez no auxilio dos consumidores de games brasileiros? Sim, nossos destemidos bucaneiros e logo versões desbloqueadas do Playstation II passaram a ser encontradas por menos de 200 dólares, o dobro do seu preço lá fora, pelos canais "extra-oficiais". A demanda era tão grande que depois de alguns anos até respeitadas cadeias de lojas passaram a vender PS2 importados, obviamente bloqueados, tamanha a procura pelo console.

As razões para Sony não lançar o Playstation I no Brasil são obscuras, mas existem duas hipóteses:

1 - Impostos e a falta de incentivos do governo;
A Gradiente conseguira do governo vários incentivos fiscais para produzir, digo montar, consoles da Nintendo no Brasil. A Sony que tinha fábrica no Brasil pediu os mesmos incentivos e não levou. Lembra a disputa Ford/GM no Rio Grande do Sul, só que com conseqüências ainda mais catastróficas.

2 - Pirataria;
A não ser que a Sony tenha secretamente desenvolvido em 1994 uma máquina do tempo não haveria como saber que a pirataria explodiria na década seguinte. Nessa época nossos piratas ainda estavam na fita cassete. Sony, é bem verdade...

Já no caso do Playstation II as razões foram mais claras e até compreensíveis. Numa entrevista em julho de 2002, Minoru Itaya, na época, presidente da Sony no Brasil, citou três razões que impediam o lançamento do Playsatation II no país:

1 - Impostos e a falta de incentivos do governo;
Na mesma situação e para pior. A carga fiscal só aumentou de 1995 para 2002.

2 - Pirataria;
Em 2002 a pirataria já alcançava proporções epidêmicas, em parte culpa da própria Sony. O estrago já estava feito e para consertar o problema seria necessário arcar com o prejuízo a curto e, possivelmente, longo prazo. Coisa que a Sony não parecia muito disposta a fazer. É bom lembrar que segundo a revista Time a Microsoft perdeu 4 bilhões de dólares com o lançamento do primeiro Xbox. Mas a turma de Bill Gates estava aparentemente pensando num investimento a longo prazo, que só agora com o Xbox 360 começa a dar lucros, ajudado com a patinada inicial do PS3 da Sony.

3 - Disputa judicial pelo nome;
Perder os direitos da marca Playstation no Brasil parece até piada. Só mostra o descaso da Sony com o mercado brasileiro. Detalhe interessante: a disputa pelo nome da marca foi aparentemente decidida por um juiz de Minas Gerais. O QUE EXPLICA MUITA COISA...

Conclusão
Como não é mais possível desfazer o erro e aquela máquina do tempo foi inutilizada por algum estagiário. Tudo que a Sony pode fazer agora é lançar oficialmente no Brasil o PS3 antes que ele seja hackeado, o que segundo a Sony é virtualmente impossível. Mas nunca se sabe, a Sony dizia o mesmo do PS1 e do PS2... Pois a partir do momento que o PS3 cair na mão dos piratas não tem mais volta. E como desta vez, após dominar o mercado por quase uma década, a Sony enfrenta uma concorrência bem mais acirrada. Quem primeiro lançar um console de nova geração oficialmente no país irá dominar o mercado sem muito esforço. Depois não digam que a gente não avisou...

Da Equipe de Articulistas

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