Cuphead

Uma coisa precisa ficar clara: Cuphead é um jogo sobre vingança. O game originalmente concebido pelos irmãos Chad e Jared Moldenhauer, fundadores do estúdio independente StudioMDHR, é uma homenagem aos desenhos animados dos anos 1930, em especial os criados pelo Fleischer Studios. Mas o jogo exala raiva, frustração e amargura. Por quê? Digamos que o Diabo mora nas canecas, digo, nos detalhes.

Para criar o clima de desenho animado que fez a fama de Cuphead, o StudioMDHR precisou de mais 50.000 quadros de animação! Sim, para fazer o game, cada vilão, cada adversário, cada elemento, foi desenhado em papel e pintado à mão para capturar a textura e as imperfeições. Em suma, o fundo de cada fase é uma aquarela real. Verdade seja dita, isso causa uma enorme imersão no jogo.

Assim é realmente fácil imaginar o trabalho insano que foi realizar Cuphead. Ou seja, cada desenvolvedor, cada programador, enfim, todo mundo que participou do jogo deveria estar em um nível de estresse só encontrado na fila de espera de uma repartição pública. Então, eles precisavam se vingar de alguém. E sobrou para os jogadores.

Cuphead é um jogo difícil. Realmente difícil. Daqueles de fazer a gente jogar o controle na parede (dica: não faça isso, a não que você tenha um controle reserva). Embora, toda essa dificuldade é mais um truque importado dos jogos de antigamente. Ou seja, como os games eram mais curtos, com pouca coisa para distrair o jogador, as fases eram absurdamente difíceis para aumentar o tempo de jogatina.

Esse raciocínio pode ser aplicado a Cuphead. Se você for bom, muito bom mesmo, pode terminar o game em menos de meia hora. Agora é bem mais provável chegar a 20 horas, ainda estar longe do final, e ter destruído alguns controles no processo. Em tempo, a trilha sonora Cuphead é outro destaque. Foi composta pelo canadense Kristofer Maddigan e usa um jazz estilo big band, gravada ao vivo em estúdio por músicos.

O jogo começa contando a história de Cuphead e Mugman. Os dois irmãos moram na Ilha Tinteiro e um belo dia decidem ir ao Cassino do Diabo. A Chaleira Anciã acha isso uma ideia de jerico. Mesmo assim, a dupla vai até o local, passa a apostar sem parar, ganhando muito dinheiro. Até que chamam a atenção do Senhor Rei Dado (Mr. King Dice), gerente da casa de jogos.

Os dois meninos resolvem apostar contra o Diabo, o dono do local. Só que o Coisa Ruim alerta: se forem derrotados perdem as suas almas. Cuphead aceita para desespero de Mugman. Os irmãos entram pelo cano e imploram uma nova chance para o cramulhão. O Diabo entrega uma lista de devedores e os dois irmãos devem coletar todas as almas até a meia-noite do dia seguinte.

Depois de um breve tutorial, o jogador já pode sair pelo mapa coletando as almas para o Diabo. Basicamente, a ideia aqui é enfrentar um chefão atrás do outro. Prepare-se para tomar uma surra. Cuphead e Mugman não são as canecas mais resistentes do mundo. O jogo pune sem piedade o menor dos erros. Aliás, ainda joga na sua cara onde você errou e - o mais importante - mostra em uma espécie de linha do tempo em que ponto do desafio você morreu. Poucas coisas são mais frustrantes do que perceber que faltava muito pouco para conseguir a vitória.

Porém, a dificuldade de Cuphead é justa. Os controles respondem bem. Na maioria das vezes, o jogador realmente cometeu um erro. Então é hora de tentar de novo, novamente, outra vez até entender o padrão dos inimigos. Então, eventualmente, o jogador vence aquele chefão que parecia impossível. Só para descobrir que ainda está no início do jogo e ainda tem muito sofrimento pela frente.

Um detalhe interessante é que o game não é linear. O mapa tem quase sempre mais de um desafio disponível. Dá para testar aquele no qual o jogador sentiu mais apto a vencer depois de 2928 tentativas. Quando finalmente o gamer triunfa, novos caminhos se abrem.

Existem também algumas fases na linha run'n'gun, uma homenagem a séries como Contra e Metal Slug. Nesses desafios é possível coletar moedas. São cinco por fase. Isso é muito útil. Cuphead tem uma loja, cujo dono é um porco mal-encarado. Porém, os itens à venda são essenciais para avançar no game. Sempre que possível, adquira tudo o que estiver disponível. E vale o aviso: também existem moedas escondidas nas três ilhas tinteiro. Procure por elas para conseguir se reforçar.

Depois que todos os desafios de uma área forem completados é hora de seguir para a próxima região para ser espancado por novos chefões. Curiosamente, se você escolher jogar na modalidade fácil, sequer vai receber um troféu por ter terminado o jogo. Se escolher a dificuldade normal, ao vencer o último chefe libera o modo Expert, que adiciona um nível de dificuldade ainda maior. Como se isso fosse necessário.

Cuphead é um bom jogo. Sim. Mas ele não é para todo mundo. É preciso dedicação, calma e resiliência, mesmo diante das situações mais adversas. Ou seja, é o game perfeito para o torcedor do Cruzeiro...

J. Tavares

Prós - gráficos, trilha sonora e identidade visual

Contras - dificuldade irritante em alguns momentos (basicamente no início, meio e fim do jogo)

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