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Quer brigar com todo mundo? Chame a ZeroZen


Atualmente, o comando do Ministério das Relações Exteriores pertence ao chanceler Ernesto Araújo. Ele tem se notabilizado por, digamos assim, uma total e completa falta de tato diplomático. Ao ponto que a política externa adotada começou a trazer problemas sérios para o Brasil, inclusive prejudicando a nossa já claudicante campanha de vacinação.

Para quem não acompanhou o festival de estultices, eis um pequeno resumo. Araújo importou uma hostilidade - até então inexistente - à China, graças ao apoio de Bolsonaro ao governo Trump. Só que os chineses são o principal parceiro comercial do Brasil. O próprio presidente desdenhou da CoronaVac, imunizante contra a covid-19 produzido pelo Instituto Butantan em parceria com a empresa chinesa Sinovac, chamando-a de "vacina chinesa do Doria", em referência ao governador paulista João Doria (PSDB).

O grande problema é que o governo federal hoje depende mais do que nunca da parceria Sinovac/Butantan. Afinal de contas, esse imunizante é responsável por 8 em cada 10 doses de vacinas autorizadas autorizadas para aplicação no Brasil. Para quem acha que isso é um detalhe diplomático insignificante, saiba que um carregamento de milhares de litros de Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), fundamental para a fabricação dos imunizantes tanto pelo Butantan como para a Fiocruz, que produzirá a vacina da Oxford/ AstraZeneca, passou vários dias parado no aeroporto de Pequim.

O próprio ministro da Saúde general Eduardo Pazuello, afirmou que a China "tem colocado barreiras", "não tem dado celeridade" e que "há movimentos fortes no nível diplomático para encontrar onde está essa resistência e resolver o problema". Talvez quando o ministro das relações Exteriores insinua no Twitter que a China estava "tentando controlar o mundo" isso gere um incidente diplomático.

Porém, os erros não param por aí. O Brasil conseguiu provocar ainda mais cizânia. O país resolveu brigar com a Índia. O detalhe é que, junto com a China, a Índia é responsável por mais de 70% dos suprimentos médicos importados pelo Brasil. Para deixar a situação ainda mais indigesta, o Instituto Serum - localizado na Índia - ficou responsável pela produção das doses do imunizante da AstraZeneca que o Brasil pretendia importar enquanto não recebia os insumos para fabricar as vacinas em território nacional.

Ou seja, manter a parceria com os indianos era fundamental. Era, de certa forma, bem previsível que o Brasil precisaria do país asiático em um futuro próximo. Mas em outubro de 2020, quando a Índia e a África do Sul submeteram aos membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) uma proposta para que fosse permitido aos países suspender patentes e outros instrumentos de propriedade intelectual na produção de terapias para o combate à pandemia de covid-19, o Brasil não apoiou as duas nações.

O que é realmente incrível, pois a quebra de patentes facilitaria uma imunização em tempo recorde no planeta. Mas o Brasil se alinhou às nações ricas, como os EUA, o Japão e a Suíça. Todos esses países, diga-se de passagem, já compraram três vezes mais doses de vacina do que o necessário para imunizar toda a população.

Para tentar remediar a situação, Bolsonaro chegou a enviar uma constrangedora carta ao primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, na qual pedia urgência na entrega dos imunizantes ao Brasil. Modi disse que depois da novela O Caminho das Índias isso era forçar a amizade. Mesmo assim, o Planalto enviou um avião para buscar as vacinas antes do imaginado pelas autoridades indianas. Resultado? O Airbus A330 do Brasil levou sete dias além do esperado para retornar ao Brasil com duas milhões de doses da vacina da AstraZeneca.

Agora, falando francamente, se é para brigar com a China, com a Índia e com os EUA... Por que não chamaram a ZeroZen? A gente está há 20 anos brigando com tudo e com todos. Essa é a nossa chance de fazer a mesma coisa, só que ganhando algum dinheiro. Mas a gente teria de esperar um pouco de inteligência do governo e isso, é claro, é pedir demais...

Da Equipe de Isolamento